sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

CÃES DE HANÓI

 

É muito difícil espreitar para dentro de regimes totalitários, porque não gostam de mostrar o que andam a fazer, as dificuldades que atravessam e só se mostram de acordo com a propaganda oficial que os enaltece – tudo tem de bater certo! Porém, talvez esta seja a minha semana da sorte, consegui saber algo mais sobre os cães de Hanói, no Vietname, cuja 24ª Escola Profissional de Guardas de Fronteira do Distrito de Ba Vi, organizou no mês passado sessões de treino para os seus militares cinotécnicos, onde participaram 40 binómios.

A escola foi criada em 1959 para treinar cães de guerra e de protecção, treinando-os agora também para detectar narcóticos, explosivos e auxiliar nos esforços de busca e resgate, tendo organizado mais de 100 aulas para 3.000 militares com os seus cães. No simulacro efectuado no mês passado, os guardas de fronteira identificam um carro que parece suspeito. Os cães são instruídos a verificar a verificar a viatura e encontram drogas escondidas debaixo do capô.

“Os Labradores espanhóis, com o seu olfacto apurado, são treinados para farejar drogas” (estou a citar). Os cães são treinados ali o ano inteiro, mas o pico do treino acontece em dezembro, porque o clima frio ajuda-os a ficar confortáveis. No verão, os cães com pelagem grossa superaquecem facilmente. Os cães desta escola têm sido usados em várias apreensões de droga e contra gangues criminosos, como aconteceu em 2014, quando seis pessoas foram presas em Son La, resultando na apreensão de 180 pacotes de heroína, 20 mil pílulas de ecstasy e quatro armas.

Os pastores alemães estão entre os cães criados na escola. A raça é grande e intimidante, capaz de trabalhar três horas sem parar, o que os torna perfeitos para apreensão de criminosos e busca e resgate.

Os cães escavam o chão e farejam os destroços numa simulação de terremoto ou deslizamento de terra. Os socorristas foram divididos em duas equipes, com uma a vigiar a área e a outra instruindo os cães a procurarem as vítimas. Os esforços de resgate geralmente têm que ser rápidos, uma vez que existe a ameaça de mais desmoronamentos de edifícios. Assim que um cão sente o cheiro, ele cava o chão e late como sinal para seu treinador, que então planta bandeiras vermelhas para marcar a área para os socorristas.

Em fevereiro do ano passado, seis cães da escola foram enviados junto com militares para a Turquia para esforços de busca e resgate após o grande terremoto. Os cães conseguiram encontrar 36 vítimas, duas delas ainda vivas! Cães militares foram ainda mobilizados para procurar um turista britânico desaparecido em Sa Pa, vítimas de inundações repentinas em Son La e oficiais militares enterrados num deslizamento de terras em Thua Thien-Hue.

Durante um desafio para diferenciar odores, os cães tiveram que identificar uma pessoa específica entre oito. Os treinadores pegaram um objecto (para odor) de uma pessoa aleatória e colocaram-no num recipiente, enquanto os outros sete continham odores de soldados. Eles ladram para informar os seus treinadores após encontrarem o correcto e saíam da área se falharem. Os cães também são treinados para reconhecer e obedecer a ordens, a sinais para rastejar, deitar e ficar em pé.

“Mesmo uma ordem simples como “destruir” ou “encontrar” às vezes pode levar meses de treino antes que os cães possam segui-la”. Um pastor alemão realiza um teste de obstáculos que exige pular cercas e aros de fogo e rastejar de barriga. A expectativa de vida média de um cão é de 10 a 12 anos e atinge seu pico entre os cinco e os 10 anos. Eles precisam ter pelo menos três meses de idade para começar a treinar, aprender seus nomes, jogar e estar com seus treinadores para se acostumar a eles (método da precocidade). Aos seis meses eles podem começar a aprender ordens para ficar de pé, sentar, ladrar, cheirar e encontrar objetos. Com um ano de idade iniciam o treino especializado. Dependendo da sua raça e características individuais, os cães podem ser especializados para diversos fins. “Os que têm bom olfacto são treinados como cães farejadores, e os fortes e agressivos tornam-se lutadores e guardas.”

No final do treino os cães são recompensados com papas de carne e vegetais. Cada cão possui uma tigela pessoal para garantir a higiene. Como o repasto está um pouco quente, Giang mexe para esfriar (mas ainda não aprenderam a não dar de comer e de beber no chão). Giang diz: “Ken geralmente come sozinho. Nos dias em que há pratos novos ou quando o mingau está muito quente, eu dou-lhe de comer”.

Um homem e seu cachorro relaxam após a sessão de treinamento. Cada aluno da escola fica responsável por um cachorro, e eles ficam juntos até ao final do curso, o que pode levar de nove meses a dois anos.

Em Hanói, os cães têm as mesmas capacidades e exigências visíveis noutras latitudes, pelo que não diferem muito das elites cinotécnicas por esse mundo afora. Os seus adestradores encontram-se actualizados, são disciplinados, dedicados e cúmplices, apostados no que fazem e vocacionados para o sucesso. Curiosamente, e aqui há que tirar o chapéu aos vietnamitas, os seus cães apresentam-se convenientemente nutridos e não esfaimados como em muitas unidades de polícia do Ocidente, debaixo do princípio que diz: "com fome ainda trabalham melhor!". Pelo pouco que me foi dado a observar e explicado, a 24ª Escola Profissional de Guardas de Fronteira do Distrito de Ba Vi está de parabéns!

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