terça-feira, 16 de janeiro de 2024

APRENDER COM OS MELHORES

 

Os adestradores de cães militares do 1º Regimento de Infantaria Real da Nova Zelândia e do 2º Regimento de Engenheiros em Linton realizam viagens de campo anuais ao Jardim Zoológico de Wellington para ver como se aplica ali o treino e a ciência do comportamento animal. Os treinadores têm uma visão dos bastidores dos métodos de treino de animais que vão desde tigres, ursos-do-sol e chimpanzés. Contudo, “treino” é um nome impróprio, já que se trata de animais selvagens e estamos na presença de um jardim zoológico, não de um circo. Os animais são perigosos e estão num ambiente onde são livres para apresentar comportamentos naturais – o que geralmente significa ficar fora de seu espaço. Mas, de vez em quando, um animal destes precisa de receber tratamento médico, incluindo inoculações. Para evitar uma sedação stressante com um tranquilizante, o tratador precisa da sua cooperação (do animal) por um curto período de tempo.

A natureza metódica do treino de um animal do zoo contrasta imenso com o adestramento de um cão e é uma tarefa complicada que cabe aos tratadores de animais do Jardim Zoológico de Wellington fazê-lo, como é o Holly McDonald, especializada nos carnívoros deste Zoo. Ela treina-os para se aproximarem, para que possam receber uma injecção ou algum tratamento. “Existem pistas verbais e físicas, o animal apresentará diferentes partes de seu corpo à malha da rede, para que os tratadores verifiquem se há alguma anormalidade. Parece muito simples, mas este tipo de formação pode demorar algum tempo – talvez alguns meses. Dependendo do indivíduo, pode levar cerca de dois anos”, disse Holly, que explicou ao pessoal do Exército como os tratadores do Zoológico se concentram na personalidade do animal. “É sobre o que realmente funciona para eles, realmente temos que decompô-la, filmamos as nossas sessões e vemo-las, observando o que o animal faz, quais os erros que cometemos e onde podemos melhorar. Escrevemos relatórios sobre o que é e não é bem-sucedido, analisamos o seu bem-estar físico, o estado emocional, mental e a sua saúde.” A comida é o motivador para encorajar um animal do zoológico a fazer alguma coisa, mas o zoológico não quer que os animais se tornem caçadores de recompensas. “Estamos aqui para construir relacionamentos com os animais, mas não queremos que eles fiquem a cuidar de nós a tempo inteiro. Queremos que eles tenham comportamentos naturais.”

Para ela, o ponto alto é quando um animal “entende”. “Senja, uma fêmea de Tigre de Sumatra, precisa de tomar uma injecção a cada duas semanas para combater as suas alergias naturais. Lembro-me da vez em que a injectámos e ela não se mexeu. É saber que você consegue e que o animal está tranquilo.” O cabo Blair Craven (1RNZIR ISD Seção IC) diz que as visitas ao zoológico são uma oportunidade para os tratadores verem os métodos mais recentes de manejo e treino de animais. “O que vemos é a quantidade de treino positivo que eles fazem. A maior parte do treino de nossos dos nossos cães é positiva, mas precisamos corrigir de maus comportamentos. Isso é algo que eles não podem fazer.” Os tratadores de zoológicos precisam de fazer um “mergulho profundo” nos comportamentos dos animais, adaptando-se a cada animal, diz ele. “Eles são muito metódicos, muito mais avançados na ciência. Nós, enquanto militares, só temos um certo tempo para deixar um animal pronto para trabalhar, para ser implantado, no zoológico, eles passam muito mais tempo em momentos específicos.”

O pessoal do exército notou um treino semelhante ao dele com os chimpanzés. “Foi interessante ver como eles operavam como tropa. Quando nossos cães mais velhos, mais alfa, fazem algo na frente dos cães mais jovens, os mais jovens aprendem. Muitas vezes, quando treinamos, os cães mais velhos ficam do lado de fora, fazendo o trabalho, e os cães menos velhos ficam no meio, observando. No zoológico vimos como um chimpanzé, de quatro meses de idade, fica sentado observando o que sua mãe faz.” Holly diz que foi ótimo receber a visita dos adestradores de cães do Exército. “Adoramos tê-los aqui e eles também têm óptimas perguntas para nós. Não há muitas pessoas com quem possamos falar sobre treino de animais que não sejam de um zoológico. Cada vez que o Exército chega, aprendo algo novo. Quando se trata de animais, sempre há algo para aprender.”

Este talvez não seja o melhor intercâmbio operacional para uma força K9, mas é um contacto a não desperdiçar para melhor se poder entender da importância e benefícios do reforço positivo, sem o qual seria praticamente impossível tratar os animais selvagens em cativeiro sem recorrer a meios extraordinários, necessariamente mais coercivos e que ao serem usados poderão deixar marcas nos ofendidos. Assim, deveriam fazer parte do currículo de um candidato a adestrador/monitor canino umas quantas visitas ao Zoo, onde teria contacto com os seus tratadores, observando o que fazem e ouvindo as suas explicações, porque há leis que são universais e nesta matéria o reforço positivo é uma delas.

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