Uma
câmera flagrou uma senhora indiana a ser perseguida e atacada por cães junto a
uns apartamentos na cidade de Noida, satélite de Delhi, no estado indiano de
Uttar Pradesh. Apesar do assunto não ser novidade naquelas paragens, o seu
vídeo tornou-se viral nas redes sociais. O incidente aconteceu no complexo de
apartamentos Centurion Park Low Rise, localizado na Ecotech III. No vídeo https://www.youtube.com/watch?v=3wMpmQ_CN0Y
(clicar em cima) podemos assistir ao desenrolar dos acontecimentos, à
ingenuidade da senhora (que lhe deixou marcas) e à astúcia dos cães, condições
indispensáveis ao lamentável desfecho. Como adestrador que gosta do que faz e
apostado em livrar outros de semelhante aperto, vou escalpelar os detalhes mais
relevantes que induziram a vítima ao pânico e ao dolo, a cuja inocência a
cinofobia não é alheia. Como se antevê, não procuro arranjar culpados, mas
transmitir o conhecimento necessário para a menor ocorrência de vítimas.
Tudo
se desenrola num playground fronteiriço a um bloco de apartamentos, cercado por
um muro de alvenaria baixo e acessível por um pequeno portão. Lá dentro
repousam deitados três cães de rua de médio porte, com um deles mais perto do
portão da entrada e os restantes deitados para trás dele, deitados frente a
frente e estreitando a passagem que dá acesso à porta do prédio. A senhora
entra e sai-lhe ao caminho o primeiro cão a ladrar. Apostada em afastá-lo, acaba
por instigar os restantes cães a morder-lhe, caindo e pondo-se em fuga soltando
lágrimas e altos pedidos de ajuda. A cena de horror ficou por isso mesmo,
porque um segurança e dois homens se interpuseram entre os animais e a vítima,
garantindo assim o seu socorro, muito embora não tenha ganho para o susto,
porque continuou a chorar para além do ataque propriamente dito.
Antes
de pensar entrar naquela cancela, que melhor se vê no final do vídeo, ao invés
de avançar sozinha, a senhora deveria fazer-se acompanhar por alguém que a
protegesse daqueles cães, uma vez que é cinófoba, afirmação que sustento com
base na sua reacção ao primeiro cão e na ausência de defesa perante os últimos.
O medo não é fácil de disfarçar e dificilmente passará desapercebido a quem
está acostumado a farejá-lo, como é o caso dos cães. A disposição dos cães no
playground, onde se sentem cómodos dentro dos seus muros, revela que se
encontram escalonados e por isso mesmo constituídos numa matilha. A sua
permanência no local poderá também ficar a dever-se ao facto de serem
eventualmente alimentados por alguns vizinhos, razão mais do que suficiente
para considerarem o playground como seu e passarem a defendê-lo obrigados pela
sobrevivência. É a hierarquia entre eles que determina as suas posições no
reduto, servindo o primeiro cão, de índole submissa, de sentinela mais perto do
portão. Os outros dois, de índole dominante, controlam quem entra e quem sai,
actuando de acordo com as suas conveniências: correndo para quem lhes quer bem
e escorraçando quem não conhecem, cães inclusive (a vida é dura!).
Como não há manifesta intenção do primeiro cão em atacar, que foi surpreendido pela chegada da senhora e apenas ladrou, ladrar não passa de um aviso, ao contrário de tentar afugentá-lo, a senhora deveria tê-lo chamado para si, recriando-lhe uma experiência feliz para evitar a suspeição, o que traria tranquilidade aos restantes membros daquela matilha, que ao verem o membro mais fraco do grupo a ser escorraçado, não hesitaram em carregar sobre a sua agressora, que tomada de pânico desatou a fugir, o que agravou ainda mais a sua situação. Como estamos na presença de cães de rua, acostumados a identificar e a atacar quem os teme ou quem pretende disputar-lhes a comida, o pânico da vítima potenciou e muito a sua disposição de atacar. As esquivas do primeiro cão ao lenço da senhora fizeram com que ele a colocasse entre os dois cães dominantes, que de surpresa lhe caíram em cima. Que lições poderemos tirar do incidente retratado no vídeo? A primeira é que quem medo de cães não deve avançar para o seu meio sem ver garantida a sua segurança; a segunda diz-nos que não deveremos assustar ou ameaçar um cão no meio de outros e a terceira para permanecermos quietos e sem entrar em pânico perante a arremetida de um ou mais cães, ainda que tenhamos que suportar alguns beliscões. O que acabei de dizer é válido e indicado para os cães de rua, mas pode não ser igualmente indicado para os cães que foram ensinados a atacar, muito embora as suas vítimas pouco mais tenham a fazer!
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