Vamos primeiro aos factos
relatados pelo jornal austríaco online HEUTE. No
Domingo passado, por volta do meio-dia, numa comunidade do Distrito austríaco
de HOLLABRUNN,
um menino de 4 anos foi atacado no quintal da casa dos avós por um dos seus
dois cães, sofrendo ferimentos graves na parte de trás da cabeça e no pescoço,
devido aos quais foi levado de emergência para um hospital vienense, onde
permanece em estado crítico e em perigo de vida. Não se sabe qual dos dois cães
atacou a criança, se o Pastor Alemão de 1 ano de idade, se o Staffordshire Bull
Terrier de 2 anos. Certo é que chegou às mãos do Promotor Público do Distrito
de Hollabrunn, no dia seguinte (Segunda-feira) um processo relativo a uma agressão
negligente por ataque canino. Qual dos dois cães teria atacado a criança?
Se porventura conhecesse
os cães, o seu histórico, o relacionamento entre eles, o seu grau de
sociabilização, os seus hábitos e rotinas, a minha margem de erro seria praticamente
nula - não precisava de estar presente para saber quem o tinha feito. Nessa
impossibilidade, sem saber o sexo dos animais, o perfil psicológico dos donos e
sem me poder inteirar do tipo de ferimentos infligidos à criança, sou obrigado
a avaliar o comportamento dos cães à luz de regras gerais e ao particular de
cada raça, tendo em conta a idade de cada um e o seu contributo para o
fenómeno.
O
QUE FARIA AQUELE PASTOR ALEMÃO ATACAR A CRIANÇA?
Eventualmente se o magoasse ou pegasse em algo que o cão considerasse seu; a ausência
de ensino e sociabilização do animal; uma liderança incapaz; um ajuste de
contas; a constituição da criança em presa ou a necessidade social de
subordinar o menino. Contudo, dificilmente algumas destas razões, senão todas,
justificariam tamanho dolo por parte de um lupino. Na presença do Staffordshire
e atendendo à sua idade, dificilmente o Pastor Alemão desferiria um ataque
isolado, a menos que o outro cão prescindisse da cadeira do poder por ter sido destituído
(derrotado), por ser uma cadela ou um indivíduo muito-subordinado. A idade do
Pastor Alemão, a menos que tenha sido treinado para morder afincadamente,
também abona a seu favor. Todavia, a ausência momentânea do Staffordshire Bull
Terrier no local do ataque, ao libertar o Pastor Alemão do peso hierárquico,
poderia facilitar-lhe o ataque.
O
QUE FARIA AQUELE STAFFORDSHIRE BULL TERRIER ATACAR A CRIANÇA?
Basicamente o seu forte instinto de presa, enraizado sentimento territorial e
excepcionais impulsos à luta e ao poder, características que normalmente acompanham
grande número de indivíduos desta raça. Um cão destes, por ser mais resistente
à dor que o Pastor Alemão, dificilmente operaria um ataque defensivo tão
violento sobre uma criança tão pequena. Atacá-la-ia com tal furor se a criança
lhe tocasse abusivamente, sentisse ciúmes dela ou a entendesse como intrusa,
também se o menino inadvertidamente pegasse, usasse ou fugisse com um dos seus
brinquedos. Qualquer um destes dois cães reage à provocação e pode entendê-la
como ameaça, muito embora a determinação do Staffordshire Bull Terrier nesta
matéria seja maior. Porém, o Pastor Alemão chega a “inventar” provocações, como
se fosse obrigado a apresentar serviço ou tivesse que treinar para acções posteriores,
tudo para agradar ao dono.
Pelas zonas atacadas e
pela gravidade dos ferimentos, tudo leva a crer que a natureza do ataque foi
ofensiva (deliberada), porque doutro modo, caso fosse defensiva, ouvir-se-ia o
ganir de um cão, o que geralmente não acontece entre os cães de luta,
particular que parece incriminar o Staffordshire, muito embora não saibamos ao
certo qual a construção e tipo do Pastor Alemão, porque algumas variedades
recessivas nesta raça tendem a atacar silenciosamente e acusam menos o castigo
ou a agressão. Diante dos ferimentos perpetrados e se me fosse dada a
oportunidade de entrevistar os donos, mesmo que faltassem à verdade (penso que
eles não disseram tudo quanto sabiam às autoridades), bem depressa descobriria
qual dos dois cães foi o agressor.
Vale a pena levantar duas
questões: Estando os dois cães soltos, qual deles se afastaria mais do dono e
atacaria a criança? Qual deles dificilmente largaria o seu líder? A resposta a
estas questões poderá ajudar a desvendar o mistério. Entretanto, deseja-se que
o menino sobreviva e lamenta-se que mais uma criança volte a ser vítima de cães
dos seus familiares. Como o seguro morreu de velho, dizem, nunca deixe um menor antes da puberdade sozinho com um cão.
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