Caminho árduo, difícil e
sujeito a reveses é da sociabilização. Contudo, poucos trabalhos são tão nobres
como o de harmonizar cães com iguais, outros animais e pessoas. Começámos o
trabalho matinal com o chamamento da Nasha à distância e para o meio de várias
pessoas de diferentes tamanhos, actividades e comportamentos. Num relance,
vimos um grupo de crianças ao cuidado de um homem adulto e de uma jovem, entre
os 18 e 20 anos, que apresentava um comportamento repetitivo e restrito, como
se pertencesse a outra dimensão, não ouvisse o que lhe diziam e apenas lhe
interessassem as suas rotinas. Aproximámo-nos e percebemos que era afectada
pelo autismo, transtorno neurológico caracterizado pelo comprometimento da
interação social, comunicação verbal e não-verbal e pelo comportamento restrito
e repetitivo.
Quanto viu a Nasha pela
primeira vez quis-lhe fazer uma festa, mas depois temeu-a por já ter sido
mordida por um cão grande. Confiados na cadela, quisemos estimular na jovem o
seu desenvolvimento social e comunicativo, assim como aprimorar a sua
aprendizagem e capacidade de resolver problemas ao entregar-lhe a cadela para
as mãos. Depois de alguma paciência e insistência, lá consentiu em ir passear a
Fila. Como a experiência foi feliz, minutos depois, pediu-nos para andar com a
Nasha outra vez. Assim que gravou os comandos gestuais do “senta” e do “deita”
não queria outra coisa, repetindo-os amiúde. Desta vez mostrou-se menos tensa e
introspectiva, interagiu connosco e desfilou como “manda o figurino”, com a cabeça
levantada e o tronco direito.
No meio disto tudo, a
Nasha teve um teste muito difícil, porque foi conduzida por uma pessoas
medrosa, de gestos que oscilavam entre a imobilidade e a tensão. Valeu-nos a
supremacia dos comandos, que temos vindo a alcançar mediante trabalho diário e
árduo. Ao ver o desempenho da jovem autista, uma garotinha de 7 anos quis
seguir o seu exemplo e acabou também por conduzir a Nasha, ainda que debaixo da
insegurança e inexperiência própria da idade.
Mais um dia importante
para a formação da Nasha, que trabalha diariamente debaixo do efeito da lição
anterior e que evolui do simples para o complexo de acordo com as respostas afirmativas
que nos vai dando. E sabem que mais? Estou a apaixonar-me por esta cadela, vejo o seu potencial e sei até onde pode chegar! Pena tenho eu de não a ter podido
ensinar logo de pequenina. Mas também não faz mal se entendermos que são os
desafios que nos mantêm vivos.
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