Na cinecultura jamais poderemos
acusar os norte-americanos de inércia, mas podemos acusá-los de ignorância quando
tentam alterar o Pastor Alemão. No século passado foram criadas novas raças a
partir do Cão de Pastor Alemão para melhorá-lo em solo americano e o resultado
não foi o esperado, porque os criadores yankees não sabiam e alguns ainda não
sabem, que este cão só poderá ser melhorado a partir das diferentes linhas nele
existentes quando beneficiadas entre si. E, em última instância, caso a
biodiversidade presente na raça desaparecesse, o retorno à base comum de pastores
alemães, belgas e holandeses, não seria só capaz de reconstrui-lo, como até de
melhorá-lo, recurso sistemático de uns tantos de que muitos não se inteiram,
hábito de profissionais que sistematicamente escapa aos olhos dos crédulos
amadores. No quadro da descaracterização operada sobre o Pastor Alemão nos
Estados unidos podemos incluir sem dificuldade o AMERICAN
ALSATIAN, em tempos também chamado de SHEPALUTE e
ALSATIAN SHEPALUTE,
uma invenção de LOIS
DENNY, LOIS
SCHWARTZ depois de 1987.
Primeiro Shepalute,
porquê? Porque foi criado inicialmente a partir do cruzamento do Pastor Alemão
com o Malamute do Alasca, sendo ambos exemplares puros de cada raça. TINA BARBER, também
americana e criadora do PASTOR
DE SHILOH(1) enveredou
por um caminho semelhante, muito embora com um propósito diferente. Depois
disso outros cães foram requisitados para a sua selecção, como o English
Mastiff, o Grande Pirinéus, o Pastor da Anatólia e o Irish Wolfhound, na
esperança que o primeiro transmitisse geneticamente ossos grandes, cabeças
volumosas, focinhos e caudas curtos. Do Grande Pirinéus esperava-se grande
tamanho, mais peso e um corpo rectangular. O Pastor da Anatólia foi requisitado
pela sua altura e grande cabeça e o Irish Wolfhound foi seleccionado pela sua
altura e manto.
O que procurava Lois
Schwartz neste cão? Criar cães domesticados que se assemelhassem ao CANIS DIRUS,
um lobo pré-histórico terrível que habitou nas Américas entre 125.000 e 10.000
atrás, mas com um comportamento calmo e agradável, próprio dos descontraídos
cães de companhia (um grande lobo manso). O cão pretendido pela senhora Schwartz
só no ano 2000 conseguiu cumprir com os padrões da raça que ela previamente
tinha estabelecido, não só físicos como psicológicos, porque lhe interessava
ver nestes cães intuição, inteligência e simpatia.
Morfologicamente falando,
estamos na presença de um lupino que apresenta dimorfismo sexual, as fêmeas
deverão pesar 38.55 kg no mínimo e os machos 40.82 kg. As primeiras deverão
medir entre 63,5 e 71,12 cm e os últimos entre 66 e 81,28 cm. Estamos a falar
de um cão rectangular, com uma cabeça grande e larga, com orelhas triangulares e
arredondadas na ponta, de olhos amarelos como o lobo e com a mucosa nasal negra,
que apresenta pêlo curto no rosto e que se alonga a partir do pescoço, pescoço
que deverá ser grosso e poderoso. É portador de peito, dorso e coxas bem
desenvolvidos, ostenta uma ossatura pesada e músculos fortes. O seu manto
externo (estamos a falar de um animal de pêlo duplo) é espesso e no Inverno
apresenta-se também levemente lanoso. A cor mais procurada é a SILVER SABLE,
apesar de poder apresentar outras seis colorações diferentes (Sable Dourado;
Tri Sable; Tri Sable Grey Gold; Black Silver Sable; Silver e Cream.
Este cãozarrão manso com
cara de lobo mau ou falso lobo-mau, ainda precisa de se livrar das seguintes
doenças que o atormentam: Displasias do cotovelo e coxo-femoral; Panosteíte; Vólvulo
gástrico ou dilatação vólvulo gástrico (DVG); Mielofibrose; Cardiomiopatia
dilatada (DCM) e Convulsões. A esperança de vida do American Alsatian vai de 12
a 14 anos. Todos já percebemos que estamos a tratar de uma raça gigante e como
tal, carente de espaço para coabitar com os seus donos, nomeadamente de um
quintal, apesar de ser uma raça calma, do tipo “Tá-se bem!” O apego do American
Alsatian aos donos é de tal maneira forte, que lhe chamam “CÃO DE COLO”,
não devendo por isso ser deixado sozinho mais do que 4 horas seguidas. Apesar
de gentil com as crianças, é pouco interactivo com elas e menos dado a
brincadeiras.
Mas
nem tudo é mau para quem detesta mexer-se, porque este cão de personalidade
calma e tranquila não precisa de muito exercício, bastando-lhe uma hora de
passeio diário. Por outro lado, ele raramente ladra ou gane (raramente se
ouve). Quanto à higiene, o seu manto repele lixo e outros detritos, o que
impede que transporte ou carregue maus odores. Carece de ser escovado e limpo
dia sim, dia não e só tem uma muda de pêlo anual, na passagem da Primavera para
o Verão, altura em que deixa muito pêlo por toda a parte. No demais, estamos
perante um cão cuja utilidade está por reconhecer, sem dúvida um excelente cão
de companhia, quiçá de terapia e até de resgate quando seleccionado e aprovado
nisso. Lois Schwartz alcançou o que queria: ressuscitar um lobo medonho com um
afável coração de cão (podia ter-lhe dado para pior!).
(1)Sobre o Pastor de Shiloh já nos
pronunciámos no artigo “PASTOR DE SHILOH: SUPER-CÃO OU DECEPÇÃO?”, datado de
23/01/2014.
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