terça-feira, 3 de setembro de 2019

AMERICAN ALSATIAN: O FALSO LOBO-MAU

Na cinecultura jamais poderemos acusar os norte-americanos de inércia, mas podemos acusá-los de ignorância quando tentam alterar o Pastor Alemão. No século passado foram criadas novas raças a partir do Cão de Pastor Alemão para melhorá-lo em solo americano e o resultado não foi o esperado, porque os criadores yankees não sabiam e alguns ainda não sabem, que este cão só poderá ser melhorado a partir das diferentes linhas nele existentes quando beneficiadas entre si. E, em última instância, caso a biodiversidade presente na raça desaparecesse, o retorno à base comum de pastores alemães, belgas e holandeses, não seria só capaz de reconstrui-lo, como até de melhorá-lo, recurso sistemático de uns tantos de que muitos não se inteiram, hábito de profissionais que sistematicamente escapa aos olhos dos crédulos amadores. No quadro da descaracterização operada sobre o Pastor Alemão nos Estados unidos podemos incluir sem dificuldade o AMERICAN ALSATIAN, em tempos também chamado de SHEPALUTE e ALSATIAN SHEPALUTE, uma invenção de LOIS DENNY, LOIS SCHWARTZ depois de 1987.
Primeiro Shepalute, porquê? Porque foi criado inicialmente a partir do cruzamento do Pastor Alemão com o Malamute do Alasca, sendo ambos exemplares puros de cada raça. TINA BARBER, também americana e criadora do PASTOR DE SHILOH(1) enveredou por um caminho semelhante, muito embora com um propósito diferente. Depois disso outros cães foram requisitados para a sua selecção, como o English Mastiff, o Grande Pirinéus, o Pastor da Anatólia e o Irish Wolfhound, na esperança que o primeiro transmitisse geneticamente ossos grandes, cabeças volumosas, focinhos e caudas curtos. Do Grande Pirinéus esperava-se grande tamanho, mais peso e um corpo rectangular. O Pastor da Anatólia foi requisitado pela sua altura e grande cabeça e o Irish Wolfhound foi seleccionado pela sua altura e manto.
O que procurava Lois Schwartz neste cão? Criar cães domesticados que se assemelhassem ao CANIS DIRUS, um lobo pré-histórico terrível que habitou nas Américas entre 125.000 e 10.000 atrás, mas com um comportamento calmo e agradável, próprio dos descontraídos cães de companhia (um grande lobo manso). O cão pretendido pela senhora Schwartz só no ano 2000 conseguiu cumprir com os padrões da raça que ela previamente tinha estabelecido, não só físicos como psicológicos, porque lhe interessava ver nestes cães intuição, inteligência e simpatia.
Morfologicamente falando, estamos na presença de um lupino que apresenta dimorfismo sexual, as fêmeas deverão pesar 38.55 kg no mínimo e os machos 40.82 kg. As primeiras deverão medir entre 63,5 e 71,12 cm e os últimos entre 66 e 81,28 cm. Estamos a falar de um cão rectangular, com uma cabeça grande e larga, com orelhas triangulares e arredondadas na ponta, de olhos amarelos como o lobo e com a mucosa nasal negra, que apresenta pêlo curto no rosto e que se alonga a partir do pescoço, pescoço que deverá ser grosso e poderoso. É portador de peito, dorso e coxas bem desenvolvidos, ostenta uma ossatura pesada e músculos fortes. O seu manto externo (estamos a falar de um animal de pêlo duplo) é espesso e no Inverno apresenta-se também levemente lanoso. A cor mais procurada é a SILVER SABLE, apesar de poder apresentar outras seis colorações diferentes (Sable Dourado; Tri Sable; Tri Sable Grey Gold; Black Silver Sable; Silver e  Cream.
Este cãozarrão manso com cara de lobo mau ou falso lobo-mau, ainda precisa de se livrar das seguintes doenças que o atormentam: Displasias do cotovelo e coxo-femoral; Panosteíte; Vólvulo gástrico ou dilatação vólvulo gástrico (DVG); Mielofibrose; Cardiomiopatia dilatada (DCM) e Convulsões. A esperança de vida do American Alsatian vai de 12 a 14 anos. Todos já percebemos que estamos a tratar de uma raça gigante e como tal, carente de espaço para coabitar com os seus donos, nomeadamente de um quintal, apesar de ser uma raça calma, do tipo “Tá-se bem!” O apego do American Alsatian aos donos é de tal maneira forte, que lhe chamam “CÃO DE COLO”, não devendo por isso ser deixado sozinho mais do que 4 horas seguidas. Apesar de gentil com as crianças, é pouco interactivo com elas e menos dado a brincadeiras.
Mas nem tudo é mau para quem detesta mexer-se, porque este cão de personalidade calma e tranquila não precisa de muito exercício, bastando-lhe uma hora de passeio diário. Por outro lado, ele raramente ladra ou gane (raramente se ouve). Quanto à higiene, o seu manto repele lixo e outros detritos, o que impede que transporte ou carregue maus odores. Carece de ser escovado e limpo dia sim, dia não e só tem uma muda de pêlo anual, na passagem da Primavera para o Verão, altura em que deixa muito pêlo por toda a parte. No demais, estamos perante um cão cuja utilidade está por reconhecer, sem dúvida um excelente cão de companhia, quiçá de terapia e até de resgate quando seleccionado e aprovado nisso. Lois Schwartz alcançou o que queria: ressuscitar um lobo medonho com um afável coração de cão (podia ter-lhe dado para pior!).
(1)Sobre o Pastor de Shiloh já nos pronunciámos no artigo “PASTOR DE SHILOH: SUPER-CÃO OU DECEPÇÃO?”, datado de 23/01/2014.

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