quinta-feira, 12 de setembro de 2019

MOLOSSOS PORTUGUESES: SABER COM O QUE CONTAR

Para começo de conversa vamos excluir o Cão de Fila de S.Miguel do grupo dos restantes molossos portugueses, porque de molosso tem pouco e é essencialmente um alano, considerando a sua morfologia, biomecânica, psicologia, versatilidade, disponibilidade e capacidade de aprendizagem, pormenores que fazem dele o cão mais interactivo das raças portuguesas. Mas se o Fila é um cão distinto, grandes similaridades persistem entre o Cão da Serra da Estrela, o Cão de Gado Transmontano e o Rafeiro Alentejano, todos eles molossos, com as mesmas qualidades e menos valias. Não englobo neste grupo de apreciação o Cão de Castro Laboreiro, apesar de também ser um molosso, porque tem características biomecânicas e psicológicas subtilmente díspares dos demais, que o tornam único tanto para o melhor como para o pior.
O Serra da Estrela, o Cão de Gado transmontano, o Rafeiro Alentejano e o Cão de Castro Laboreiro sempre foram cães guardadores de gado, próprios para escorraçar os lobos dos rebanhos, onde se impunha que fossem grandes e valentes, próprios para o seu ofício. Com o desaparecimento dos lobos, por razões que não importa aqui especificar, a selecção continuada destas raças, feita agora por gente desligada da pastorícia e da transumância, considerou mais a sua história do que a interacção desejável, produzindo cães à partida submissos, simpáticos (alguns até bonacheirões), de certo modo apáticos e longínquos, com pouca disponibilidade, nada dados a desafios e avessos à ginástica, cães presentes mas independentes, próprios para ser adorados e não para agradar, medianamente curiosos, de forte vontade própria (teimosia) e pouco préstimo, o que não é de estranhar quando se desprezam ou desconsideram na selecção os seis principais impulsos herdados (ao alimento, ao movimento, à defesa, à luta, ao poder e ao conhecimento).
Estes cães, que detestam ser incomodados ou arregimentados, preferem andar a rumo próprio e para onde lhes der na gana, perto dos donos sim, mas não ao ponto de lhes satisfazerem as vontades. Contrariá-los talvez não seja a melhor estratégia e obrigá-los ao que quer que seja muito menos, porque dependendo da sua idade, sexo e perfil psicológico tanto se podem jogar ao chão como ousar mostrar quem ali manda. Naturalmente avessos à ginástica cinotécnica, mas carentes dela, porque sendo rectangulares e pesados, pouco angulados de traseira, pesados de espádua, tendo a cabeça pesada e sendo propensos ao divergir de mãos, se nada for feito em contrário, acabarão exageradamente selados mais rápido que o esperado, anomalias físicas que poderão comprometer o seu bem-estar e longevidade. É evidente que a sua sofrível capacidade de aprendizagem melhorará substancialmente com o treino precoce e com a experiência variada e rica, como de resto qualquer cão. Cães assim acabam desterrados para grandes extensões territoriais, onde aliás se sentem muito bem, ou eventualmente para um grande pavilhão de caça onde a porta para o exterior permanece sempre aberta. A quem interessarão estes cães primitivos? Certamente a quem os venera, jamais a quem queira trabalhar com eles!
PS: Caso tenha um molosso e deseje fazer dele um cão mais apto, leia por favor o artigo “COMO FAZER UM MOLOSSO MELHOR”, editado em  12/09/2017

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