quarta-feira, 18 de julho de 2018

TRANSMISSÃO DE BACTÉRIAS NDM ENTRE CÃES E HUMANOS COMPROVADA

Em 2015, uma bactéria Escherichia coli de Nova Délhi-metallo-beta-lactamase (NDM) foi descoberta em dois cães finlandeses. Um artigo recentemente publicado na revista Eurosurveillance pela Universidade de Helsínquia revela que o dono dos cães também carregava a mesma bactéria. Esta é presumivelmente a primeira vez no mundo que a transmissão de bactérias NDM entre um cão e um humano foi relatada.
Os investigadores puderam concluir através da análise do genoma da bactéria que os isolados bacterianos de cães e seres humanos eram idênticos, o que na prática significa que eles foram transmitidos entre cães e pessoas, conclusão evidenciada por THOMAS GRÖNTHAL (na foto seguinte), autor correspondente do presente estudo na FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA da UNIVERSIDADE DE HELSÍNQUIA.
As bactérias NDM que haviam sido originalmente isoladas de espécimes da orelha de dois cães da mesma família deram azo a uma investigação sobre a sua propagação origem. Foram também retirados de membros da família e dos cães. O parentesco das bactérias foi então investigado pelo exame da sequência nucleotídica do seu genoma. O estudo resultou da colaboração entre a Universidade de Helsínquia, o Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar e a Autoridade Finlandesa de Segurança Alimentar Evira.
Uma cepa bacteriana produtora de NDM-5, extremamente resistente, foi isolada nesses cães e num dos membros da família. À parte disso, os dois cães e dois membros da família carregavam uma bactéria ESBL (EXTENDED SPECTRUM BETA-LACTAMASES/ BETALACTAMASES DE ESPECTRO AMPLIADO) resistente a múltiplos fármacos. Comprovou-se que as estirpes bacterianas NDM e ESBL que foram isoladas dos cães e de uma pessoa da família eram idênticas. Contudo, a origem da bactéria NDM não foi descoberta neste estudo.
MERJA RANTALA da mesma Universidade de Helsínquia (na foto seguinte), docente, líder e avaliadora da presente pesquisa, disse que a proibição na Finlândia do uso de antibióticos carbapenémicos em animais deu uma vantagem competitiva às bactérias, o que permitiu que persistissem nos cães. No meio de tudo isto surge uma pergunta pertinente: as bactérias produtoras de carbapenemase são cada vez mais comuns em animais? Enquanto não temos resposta, importa dizer que a bactéria NDM-5 é muito rara em cães e que só havia sido isolada anteriormente na Argélia. Porém, outras bactérias resistentes a CARBAPENEM (1) têm sido detectadas na Alemanha, Estados Unidos e França, surgindo a um ritmo crescente.
Pelos visto já não tão seguro quanto se pensava analisar amostras de animais. Devido ao aumento da coabitação entre pessoas e animais de estimação, maioritariamente cães e gatos, é possível que a transmissão de bactérias de uns para os outros seja maior do que o esperado. E se assim for, que venham novos estudos e pesquisas.

(1) CARBAPENEM OU CARBAPENEMA é uma classe de antibióticos beta-lactâmicos com um espectro bactericida muito amplo, com uma estrutura que oferece uma alta resistência a beta-lactamases (enzimas produzidos por bactérias que podem inibir a acção das penicilinas). Os antibióticos de carbapenemase foram inicialmente desenvolvidos a partir da TIENAMICINA, um produto derivado naturalmente do Streptomyces Cattleya, uma bactéria Gram-positiva que produz cefamicina, penicilina e tienamicina.   

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