Em 2015, uma bactéria
Escherichia coli de Nova Délhi-metallo-beta-lactamase (NDM) foi descoberta em
dois cães finlandeses. Um artigo recentemente publicado na revista
Eurosurveillance pela Universidade de Helsínquia revela que o dono dos cães
também carregava a mesma bactéria. Esta é presumivelmente a primeira vez no
mundo que a transmissão de bactérias NDM entre um cão e um humano foi relatada.
Os investigadores puderam
concluir através da análise do genoma da bactéria que os isolados bacterianos
de cães e seres humanos eram idênticos, o que na prática significa que eles
foram transmitidos entre cães e pessoas, conclusão evidenciada por THOMAS GRÖNTHAL (na
foto seguinte), autor correspondente do presente estudo na FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA da UNIVERSIDADE DE HELSÍNQUIA.
As bactérias NDM que haviam sido
originalmente isoladas de espécimes da orelha de dois cães da mesma família deram
azo a uma investigação sobre a sua propagação origem. Foram também retirados de
membros da família e dos cães. O parentesco das bactérias foi então investigado
pelo exame da sequência nucleotídica do seu genoma. O estudo resultou da
colaboração entre a Universidade de Helsínquia, o Instituto Nacional de Saúde e
Bem-Estar e a Autoridade Finlandesa de Segurança Alimentar Evira.
Uma cepa bacteriana
produtora de NDM-5,
extremamente resistente, foi isolada nesses cães e num dos membros da família. À
parte disso, os dois cães e dois membros da família carregavam uma bactéria ESBL (EXTENDED SPECTRUM BETA-LACTAMASES/ BETALACTAMASES DE ESPECTRO AMPLIADO)
resistente
a múltiplos fármacos. Comprovou-se que as estirpes bacterianas NDM e ESBL que foram isoladas
dos cães e de uma pessoa da família eram idênticas. Contudo, a origem da bactéria
NDM
não foi descoberta neste estudo.
MERJA
RANTALA da mesma Universidade de Helsínquia (na foto seguinte),
docente, líder e avaliadora da presente pesquisa, disse que a proibição na
Finlândia do uso de antibióticos carbapenémicos em animais deu uma vantagem
competitiva às bactérias, o que permitiu que persistissem nos cães. No meio de
tudo isto surge uma pergunta pertinente: as bactérias produtoras de
carbapenemase são cada vez mais comuns em animais? Enquanto não temos resposta,
importa dizer que a bactéria NDM-5 é
muito rara em cães e que só havia sido isolada anteriormente na Argélia. Porém,
outras bactérias resistentes a CARBAPENEM
(1) têm
sido detectadas na Alemanha, Estados Unidos e França, surgindo a um ritmo crescente.
Pelos
visto já não tão seguro quanto se pensava analisar amostras de animais. Devido
ao aumento da coabitação entre pessoas e animais de estimação, maioritariamente
cães e gatos, é possível que a transmissão de bactérias de uns para os outros
seja maior do que o esperado. E se assim for, que venham novos estudos e
pesquisas.
(1) CARBAPENEM OU
CARBAPENEMA é uma classe de antibióticos beta-lactâmicos com um espectro
bactericida muito amplo, com uma estrutura que oferece uma alta resistência a
beta-lactamases (enzimas produzidos por bactérias que podem inibir a acção das
penicilinas). Os antibióticos de carbapenemase foram inicialmente desenvolvidos
a partir da TIENAMICINA, um produto derivado naturalmente do Streptomyces
Cattleya, uma bactéria Gram-positiva que produz cefamicina, penicilina e
tienamicina.
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