Para uma melhor compreensão
da genética ligada à domesticação, importa saber o que esteve por detrás da
evolução dos cães, o que os fez transitar de animais selvagens para animais de
estimação. Como temos vindo a dar notícia, não têm faltado pesquisas sobre a
domesticação canina e a Dr.ª AMANDA
PENDLETON, pesquisadora pós-doutorado do DEPARTAMENTO DE GENÉTICA HUMANA DO
MICHIGAN, depois de rever alguns deles, apercebeu-se de algo
incomum: que em alguns lugares o ADN dos cães modernos parece não corresponder
ao ADN dos cães antigos.
Esta constatação levou PENDLETON e
colegas a um estudo mais exaustivo para melhor entenderem o genoma do cão e
serem capazes de responder a perguntas sobre a biologia genómica, evolução e
doença. O último trabalho destes investigadores foi publicado na revista BMC BIOLOGY.
Estes cientistas verificaram que nos estudos anteriores muitos dos genes eram
apenas comuns aos cães de raça, que só apareceram há 300 anos e que constituem
apenas 25% da diversidade canina encontrada em todo o mundo.
Como 75% dos cães, que
estes cientistas designaram por “VILLAGE
DOGS”,
vagueiam livremente, acasalam sem interferência humana e procuram alimento
junto das populações humanas mais próximas, para se ter uma ideia mais clara
das verdadeiras mudanças genéticas na evolução canina, a equipa de PENDLETON
estudou 43 cães de aldeia (rafeiros) em países como Portugal, Índia e Vietname.
Depois compararam o ADN
destes
cães com o dos lobos e de cães antigos encontrados há 5.000 atrás.
A partir de modelos
estatísticos, estes cientistas isolaram as alterações genéticas ligadas aos esforços
iniciais de domesticação e identificaram os genes que acreditam estar
envolvidos nela, descobrindo o que eles faziam, inclusive os específicos que
influenciam a função, o desenvolvimento e o comportamento do cérebro. Tudo isto
levou os pesquisadores a apoiar a hipótese da DOMESTICAÇÂO
DA
CRISTA NEURAL.
“A hipótese da crista
neural postular os fenótipos dos animais domesticados repetidamente (orelhas caídas,
alterações de mandíbula, coloração e mansidão), pode ser explicada por
alterações genéticas que actuam num certo tipo de célula durante o
desenvolvimento chamado neural, nomeadamente células de crista, que são
incrivelmente importantes e contribuem para todos os tipos de tecidos adultos” –
explicou PENDLETON.
Um gene em particular
destacou-se: o RAI1.
Estudos anteriores sugerem que ele se encontra ligado ao ritmo circadiano e ao
sono, o que levou os cientistas a concluir que a alteração desse gene pode
ajudar a explicar por que razão os cães domesticados são diurnos e não
nocturnos como a maioria dos seus ancestrais lupinos. Nesta matéria ainda há
muito por descobrir e todos os dias surgem novos contributos para o dissipar
das nossas dúvidas. Aguardam-se novos desenvolvimentos.
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