Tal como havia suspeitado
no texto “O MEU AMIGO PACO E
EU”,
editado no dia 7 deste mês, estou com saudades daquele pequeno cão, hoje
agravadas por ter encontrado um saco de plástico no bolso das calças do meu
fato de treino, acessório que usava quando saía com ele à rua para apanhar os
seus dejectos. Ao sentir o saco na minha mão, a saudade bateu-me à porta e por
momentos senti-me mais só. E como a tristeza só serve de inspiração para os
poetas e para os fadistas, decidido a eliminá-la quanto antes, afaguei o BLACK,
um CPA de 4 anos que vive comigo há mais de 2 anos e que só agora se entende
comigo às mil maravilhas.
Por várias razões, entre
elas a idade, lembro-me mais depressa de factos ocorridos há décadas atrás do
que os acontecidos recentemente, relembrando inclusive episódios da minha
infância que julgava não ter memória, como o ocorrido no dia em que fui
apresentado ao Director de um colégio interno para onde fui enviado, homem
pouco tolerante que me descarregou um “par de galhetas” quando lhe disse que queria
ser “engenheiro de obras feitas”, depois de me haver perguntado o que queria
ser quando fosse grande, resposta que me foi aconselhada pelos residentes mais
velhos daquele internato.
Lembro-me esporadicamente
das idas à missa com uma das minhas tias, a quem diziam ser eu muito bonito
(hoje detesto olhar para o espelho), ao que ela respondia “que tinha tanto de
bom como de mau; tanto de anjo como de demónio”. Agora, alguém muito próximo de
mim, pessoa que mui dificilmente dispensarei a sua companhia, sai-se com esta: “com
o potencial que tens, poderias ser tudo o que quisesses e logo te foste
apaixonar pelos cães”.
Não posso negar que gosto
imenso de cães, que continuo a informar-me e a debruçar-me sobre tudo o que
lhes diz respeito, estudando horas infindas para melhor os conhecer e
compreender, não para os divinizar ou colocá-los acima ou no lugar das pessoas,
mas para melhor valer ao meu semelhante sem atropelar o bem-estar do
extraordinário animal que o acompanha. O adestramento é o meu veículo social
preferencial para alcançar quem necessita de ajuda e os cães a melhor das
minhas ferramentas, auxiliares preciosos que irradiam felicidade, paz e
alegria.
Não obstante, apesar de
ser um ser social, não deixo de ser um indivíduo e hoje senti falta do Paco,
fraqueza que me robustece para continuar a valer aos demais. Quanto à idade, que
não pára de surpreender-nos por ser traiçoeira, primeiro obriga-nos a levar
tudo a peito, depois a rirmo-nos de nós mesmos e finalmente a esperar a compreensão ou a piedade
alheias. E quando atingimos este seu terceiro estágio, é melhor ajudar do que
ser ajudado, isto se não quisermos também uma ajudinha para o caixão. Como diz
o outro: “vamos à vida que a morte é certa!”
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