quarta-feira, 11 de julho de 2018

NÃO ERAM LOBOS DOMESTICADOS E DESAPARECERAM SEM DEIXAR RASTO

Estas duas conclusões referem-se aos primitivos cães americanos e constam de um estudo internacional que recentemente foi publicado pela UNIVERSIDADE DE ILLINOIS em URBANA CAMPAIGN na revista SCIENCE, cujo líder da investigação foi LAURENT FRANTZ, geneticista da UNIVERSIDADE DE OXFORD, UK. O presente trabalho é o primeiro estudo genómico abrangente dos antigos cães das Américas ao analisar o ADN nuclear, que é herdado de ambos os pais e o ADN mitocondrial, que é transmitido apenas das mães para os filhos.
Ao comparar as assinaturas genómicas de 71 genomas mitocondriais e de sete genomas nucleares de cães da América do Norte e da Sibéria, abrangendo um período de 9.000 anos, a equipa de pesquisadores conseguiu obter um quadro mais claro da história dos primeiros habitantes caninos das Américas, que têm uma assinatura genética única, já que não existe nenhuma igual em qualquer dos actuais cães espalhados pelo mundo.
Este estudo, acompanhado pelas descobertas arqueológicas que para ele contribuíram, com datação comprovada por análises de radiocarbono, concluiu que os cães antigos das Américas e anteriores à chegada dos colonizadores europeus atravessaram a ponte terrestre de Bering que ligava a Sibéria ao Alasca, exactamente como fizeram as populações humanas que ali passaram entre 16.000 e 11.000 anos atrás (há 11.000 anos a dita ponte desapareceu).
Estes cães de aspecto nitidamente lupino, que ao invés de ladrar uivavam, foram utilizados pelos primeiros habitantes das Américas como caçadores, guardiões e animais de companhia, vindo a ser utilizados pelos índios como animais de tracção nas suas andanças pelo território das Américas. Os parentes vivos mais próximos destes cães, que os cientistas designaram de “PRÉ-CONTACTO”, são os cães do Árctico, o MALAMUTE DO ALASCA e o HUSKY SIBERIANO.
O único rasto desses primitivos cães americanos pode ainda sobreviver num tumor canino sexualmente transmissível, que reteve a sua assinatura genética desde o primeiro cão que dele padeceu. Quando a equipa de investigadores comparou os genomas de dois desses tumores a genomas de cães modernos e antigos, o ADN assemelhava-se ao dos cães do pré-contacto, possivelmente a um que viveu há cerca de 8 mil anos atrás, o que só por si pouco diz sobre os primitivos cães da América.  
Ao certo não se sabe o que contribuiu decisivamente para o desaparecimento destes cães, mas novas descobertas reforçam a ideia de que os primeiros habitantes humanos e caninos das Américas enfrentaram muitos dos mesmos desafios depois do contacto com os colonizadores europeus. As tribos índias não escaparam às práticas genocidas europeias e os cães ao que parece experimentaram uma história ainda mais devastadora, uma perca quase total a que as doenças forçadas e as mudanças culturais podem não ter sido alheias.
Ao falar sobre este assunto, lembro-me imediatamente de algumas raças caninas actuais, que a braços com a sua sobrevivência, pouco préstimo e manifesta inadaptabilidade, acabarão também elas por desaparecer, tal como as conhecemos hoje, sem deixar rasto. Nelas podemos incluir, infelizmente, os Pastores Alemães que frequentam os shows de conformação, os ditos de beleza ou de exposição, que há imitação do que sucede com os actuais cães americanos, também eles pouco ou nada têm dos gloriosos cães que estiveram na sua origem.

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