Na
pequena cidade norte-americana de Sherman, localizada no Condado de Grayson, no
Estado do Texas, o Departamento de Polícia local decidiu aposentar precocemente
o K9 Vulp após recentes incidentes de ataques inusitados. Um sargento daquela
polícia, Brett Mullen, disse que o Pastor Alemão negro de 4 anos (na foto
seguinte), originário da Hungria, foi oficialmente aposentado (dispensado do
serviço) na passada terça-feira, dia 07 de outubro de 2023, após ter mordido um
novo treinador durante o treino. Este incidente aconteceu poucos meses depois
de um anterior, quando em julho deste ano o Vulp foi temporariamente suspenso
do serviço por ter mordido uma técnica veterinária do Hospital Veterinário
Texoma que acabou transportada para um hospital metroplex com ferimentos nos
olhos, ouvidos, mãos e braços, sendo remetida para atendimento especializado.
O
mesmo sargento Mullen adiantou que na ocasião o Vulp foi confinado com o seu
treinador durante a investigação, sendo reintegrado duas semanas após o
incidente, uma vez que o Departamento disse não ter encontrado nenhum problema
que o impedisse de servir. A partir dali, este Departamento de Polícia adoptou
uma nova política pedagógica, exigindo que todos os cães ao seu serviço fossem
abordados por outros treinadores. Entretanto, a polícia de Sherman nada
adiantou sobre os ferimentos dos polícias. Dispensado do serviço, o Vulp está
agora com o seu treinador original Mullen disse ainda que o Sherman PD trará um
novo K9 que custará milhares de dólares!
Percebe-se
que esta notícia é actual, que a solução encontrada para o problema é própria
dos nossos dias e que lá para o Texas dinheiro não falta aos departamentos de
polícia, para além de se compreender que o Departamento de Polícia de Sherman
mais valorizou, e bem, a salvaguarda da integridade física dos seus agentes
humanos do que a possível recuperação do cão, o que é próprio das democracias.
Mas nem sempre foi assim, nomeadamente aqui durante o período da ditadura
salazarista, quando o serviço era colocado acima do bem-estar e da vida dos
seus executantes, advindo daí a célebre frase que ainda ecoa hoje pelas
casernas: “conhaque é conhaque, serviço é serviço!”, bebida que o Conde de
Lippe talvez bebesse.
Como resultado do estoicismo que essa
política preconizava, intrinsecamente ligada à pobreza do País de então, nas
companhias cinotécnicas militares sempre havia tratadores a quem eram
distribuídos os cães difíceis, tal como o Vulp da notícia, para que nenhum cão
fosse desaproveitado, porquanto havia custado bem caro à Fazenda Nacional
(naquele tempo iam buscar-se cães ao estrangeiro, nomeadamente à Alsácia e posteriormente à restante Alemanha),
independentemente das lesões que eventualmente pudesse causar, sucedendo o
mesmo na cavalaria a cavalo, onde havia cavaleiros pré-designados para os
cavalos mais problemáticos, gente que montava literalmente toda a casta de jericos
(1),
inclusive em cerimónias protocolares do Estado. A esses tratadores e cavaleiros
quero aqui manifestar a minha mais sentida homenagem, gente simples, heróis
ignorados e nunca badalados, que diariamente arriscaram a sua própria vida, sendo
a maioria deles já falecida, gente que não hesitaria em reeducar o Vulp, cão a
quem desejo longa vida e melhor sorte, porque no fundo é um incompreendido e um
inadaptado.
(1) Notável militar e político alemão que esteve ao serviço do Exército Português, que reorganizou profundamente e comandou durante a Guerra Fantástica. (2) Mamífero quadrúpede (Equus asinus) da família dos equídeos; burro.
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