Apesar
de também ver o mundo tal como é, o nosso Balzac não é francês nem escritor,
somente um proibitivo Boxer (1) quase
negro, bem constituído, harmonioso, alegre e brincalhão, que talvez se chame
assim em homenagem a Honoré de Balzac ou devido à letra que presidiu ao ano do
seu nascimento. Seja como for, o que importa é que está ao meu cuidado e
cabe-me treiná-lo para que seja cada vez mais feliz no mundo que o rodeia.
Quando reassumi o trabalho na Pista Táctica, fui surpreendido por uma briga
entre ele e dois Filas, o que me deixou profundamente revoltado e desgostoso, mas
ao mesmo tempo sedento de resolver aquele inusitado conflito logo que possível,
o que veio a acontecer ontem. O alcance da sociabilização alcançada pelos cães
permitiu também que o Balzac se estreasse na condução em liberdade (solto),
conforme se pode ver no Gif acima (cão e dono gozam de uma excelente
cumplicidade). No Gif seguinte vemos o Balzac a cruzar com um Fila (Doc),
encontrando-se ambos soltos, ainda que o exercício tenha sido primeiro
executado à trela por razões de segurança.
Perante
a resposta afirmativa do Boxer passámos à fase seguinte, convidando-o para o cruzamento
frontal com dois cães, com o Doc e com o Dingo, sendo o último um híbrido de
Doberman com FSM, um matulão que é um verdadeiro Apolo canino, com saúde e
força para dar e vender. Conforme era esperado, a tarefa resultou numa
experiência feliz.
Face
ao sucesso alcançado, o cruzamento dos 3 cães foi várias vezes repetido para se
alcançar o condicionamento mecânico. Ao reparar com mais pormenor nos cães que
estava a usar na sociabilização do Balzac, apercebi-me instantaneamente que
entre eles existia uma rivalidade aberta e um conflito não sanado,
impropriedade que o FSM Doc não conseguiu esconder ao evoluir com o pêlo do dorso
levantado. Este ambiente canino de rixa há muito que deveria ter sido resolvido
e se não foi, é porque alguém não quis ou não soube como resolvê-lo. Convém
relembrar que o bom andamento nas aulas colectivas depende em primeiro lugar da
sociabilização dos cães, devendo ser esta a sua principal preocupação e o
primeiro dos seus trabalhos.
Nos
cruzamentos finais, para dotar o Boxer de um quadro experimental mais
abrangente e estender a sua segurança nos cruzamentos com outras raças caninas,
optei por convocar para o efeito dois Pastores Alemães, a Dream e a Kiara,
conduzidos respectivamente pela Viv e pelo José Maria.
Reinou a paz onde anteriormente havia
guerra e a sociabilização dos cães foi alcançada naquele momento, devendo ser recapitulada até deixar de fazer sentido. Por vezes esquecemo-nos que os
cães nas aulas colectivas são também agentes de ensino uns dos outros, que cada
cão evoluirá mais ou menos, segundo a contribuição e qualidade da matilha
escolar em exercício. E se assim é, qualquer picardia obsta a este propósito –
que venha a paz que de guerra andamos fartos!
(1)Os Boxers são animais braquicéfalos, caracterizados por alterações anatómicas do crânio, que tornam o focinho mais curto, a braquicefalia (crânio oval, curto e quase tão largo como comprido) faz com que estes cães apresentem traços muito carismáticos, como face arredondada e olhos arregalados. Por outro lado, ela também é responsável por uma maior predisposição a certos problemas de saúde, nomeadamente os respiratórios. Assim, um Boxer negro ou quase negro pode ser muito bonito, mas obrigatoriamente deverá ser poupado nos esforços e resguardado nos dias de maior calor. Para que ganhe maior resistência nestas circunstâncias particulares, urge que treine amiúde contrabalançando-se os períodos de trabalho e de descanso em condições consideradas ideais.
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