quinta-feira, 29 de agosto de 2019

VIVER E APRENDER NA CIDADE

Na sessão matinal de treino que realizámos ontem tínhamos como metas reforçar o comando de “quieto”, aumentar a resistência da Nasha e robustecer-lhe o carácter, trabalhos indispensáveis a três objectivos: a sua condução em liberdade, uma maior autonomia condicionada e a pronta resposta nas mais variadas circunstâncias. No treino do “quieto” valemo-nos de toda a estatuária presente na cidade e as outras metas foram vencidas pelos obstáculos que íamos tendo na frente.
Durante a caminhada que empreendemos deparámo-nos com uns pequenos repuxos no meio de uma praça, local ideal para colocar a Fila de S. Miguel no seu centro e conservá-la ali pelo tempo julgado necessário.
Fizemos todas as escadas que avistámos na procura da melhoria dos ritmos vitais da cadela, que se encontra cada vez mais musculada e decidida, com uma envergadura de fazer inveja e com um manto que resplandece ao sol.
Nesta viagem pela cidade juntámo-la a uma estátua encostada a uma estrada muito concorrida, para que se acostume ao trânsito automóvel, não fuja para a estrada e permaneça no lugar onde a deixaram.
Valemo-nos de um banco de jardim, rodeado de calçada à portuguesa, para executar o comando de “abaixo”, tarefa que a Nasha executou à primeira mas com alguma dificuldade, devido à pouca altura que separava o banco da calçada.
A determinada altura do percurso demos de caras com uma mota, veículo pouco apreciado pelos cães em geral. Perante tamanha oportunidade e querendo familiarizar a cadela com aquele veículo, deixámo-la sentada ao seu lado.
Mais à frente, quando nada parecia vir ao encontro dos nossos desejos, encontrámos um banco colectivo que se encontrava vazio, ocasião em que o transformámos em “Mesa Alemã” e convidámos a Fila a subi-lo.
Como no meio do banco se encontrava uma estátua de uma senhora bem gordinha, mandámos a Nasha deitar-se ao seu lado por alguns momentos, debaixo do cuidado de permanecer quieta e atenta ao seu jovem condutor.
Avistámos uns pinos, daqueles que impedem os carros de estacionar em cima dos passeios, e fizemos deles um slalom. O exercício era de fácil execução porque a distância entre pinos atingia os 2 metros.
Como preparação para outros exercícios que ainda iríamos fazer, colocámos a cadela sentada ao lado da estátua de um conhecido actor já falecido, como se o animal fizesse parte do monumento ali levantado.
Tirando partido das costas de um banco que se encontravam em projecção negativa, convidámos a Nasha para ultrapassá-las, sendo este o primeiro obstáculo desta categoria que venceu e que a obrigou a maior concentração.
Numa pequena e graciosa praça, a lembrar os becos medievais, encontrámos mais uma estátua feminina obesa, cuja senhora se encontrava encostada a uma cadeira. A cadeira elevava-se do solo 1 metro e num ápice a cadela vermelha foi parar lá em cima.
E já que estava lá em cima e bem instalada, a observar calmamente tudo ao seu redor, optámos por sentá-la ali, certos que descansaria um pouco e se libertaria do stress que a cidade tem e transmite em demasia, tanto para cães como para pessoas.
Ao passarmos por um parque infantil, sem corrermos o risco de magoar alguma criança, mandámos a Fila saltar um pequeno baloiço em forma de animal, desafio que ela aceitou prontamente e que executou com naturalidade.
Para pouparmos as patas do animal, íamos alternando os pisos durante a caminhada, combinando os de calçada e alcatrão com os relvados. Num dos últimos aproveitámos para tirar uma foto às armas da cidade com a cadela nelas empoleirada.
Para não fugir ao mote, porque mais à frente descansava um escudo monárquico sobre a relva, mandámos a Nasha deitar-se na sua frente, não tanto por necessidade operacional, mas para lembrar que aquela escultura, pelo seu valor histórico, não deveria estar ali sujeita às intempéries e à urina dos cães.
De volta à calçada, vimos uns pinos interligados entre si por pedaços de corrente, composição que serviu de introdução às verticais cruas. A Nasha não executou o salto à primeira, fracasso que se ficou a dever aos erros do seu condutor, que partiu com velocidade a mais, o que impossibilitou a cadela de ver a linha de transposição do obstáculo. A correcção dos erros viria a resultar em sucesso.
Mais para descontrair o animal, convidámos a Fila para passear sobre um banco de pedra ogival elevado a 50 cm do solo e com igual largura. Quando se trabalha na cidade, visando a adaptação canina, convém ir variando a natureza dos obstáculos, intercalando os mais fáceis com os mais difíceis.
Num pequeno túnel que liga uma rua medieval a uma praça moderna, encontrámos várias caixas de electricidade, que normalmente servem-nos de mesa ou de Pódio. Dando seguimento à tradição, mandámos a Nasha saltar duas delas.
No meio da nossa azáfama ainda tivemos tempo para ir visitar um amigo, senhor simpático e de trato afável que gere um negócio de plantas ornamentais com a esposa. Como o Afonso chegou cansado, logo apareceu uma cadeira para se sentar.
Depois de muito treinar o “quieto” junto às estátuas, fomos aplicá-lo junto às lojas onde os cães são obrigados a ficar à porta, por não poderem entrar. A primeira loja a ser visitada foi uma sapataria, apesar do Afonso não necessitar de nenhum par de sapatos!
Como tudo correu conforme o esperado, pedimos depois ao jovem que entrasse numa livraria, por sinal em saldos, e se inteirasse das obras à venda junto do empregado da loja, cavalheiro que se mostrou muito solícito. Escusado será dizer que a Nasha cumpriu.
No finalzinho, como dizem os nossos irmãos que têm a mata a arder, quando já não esperávamos, chocámos com uma Pick-Up das obras municipais. Depois de buscarmos autorização, ensinámos a Nasha a saltar para dentro dela e a cadela nem hesitou.
Depois ensinámo-la a passar por debaixo daquela viatura, tarefa que depressa venceu e que executou em liberdade, apesar de desconhecer o local, a viatura e o ambiente circundante (esta Fila não pára de surpreender-nos).
E assim terminámos a aula matinal do dia de ontem, cansados mas satisfeitos, porque cumprimos com o que havíamos estabelecido previamente.

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