Não fora a existência de
vítimas e o respeito que lhes é devido, passam-se coisas nos Estados Unidos que
não acontecem em mais lado nenhum, que de tão escabrosas que são, chegam a
provocar a hilaridade quase incontida por parecerem ficção. Esta semana, para
espanto dos menos informados acerca dos States, surgiu vinda do Texas uma
fotografia que rapidamente se tornou viral e que originou muita contestação,
por ressuscitar velhos fantasmas, abrir velhas feridas e recriar o mundo
cowboy, rude e sobejamente rico em justiceiros pouco escrupulosos. Por outro
lado, persiste nos Estados Unidos uma exagerada protecção do direito individual
mesmo que ofenda ou vá contra o colectivo, como sucede agora com os
proprietários de certos cães e as companhias de aviação.
As companhias aéreas
norte-americanas têm-se visto à brocha com falsos cães de apoio emocional, o
que as levou a proibir a entrada a certas raças de cães e a variadas espécies
animais. Um mês depois de um comissário de bordo ter sido mordido por um
pretenso cão de apoio emocional, o Departamento de Transportes dos Estados
Unidos informou ontem o sector da aviação que as transportadoras não podem
barrar a entrada a certas raças caninas só por considerá-las perigosas, parecer que
muito agradou, entre outros, aos detentores de cães do tipo Pitbull.
Em contrapartida, a mesma
agência federal (Departamento de Transportes) deu luz verde às companhias
aéreas para exigirem dos cães de apoio emocional um certificado de vacinas e a
comprovação de treino específico na categoria que lhes é atribuída. Este
esforço do Departamento de Transportes pretende esclarecer a sua política sobre
animais em aviões é o capítulo mais recente da longa saga sobre animais de
apoio emocional.
Entretanto, a United
Airlines, uma das maiores transportadoras aéreas do país, relatou um aumento de
75% em animais de apoio emocional nos voos de 2017 em comparação com o ano
anterior. Juntamente com o aumento veio um aumento nos incidentes de animais
urinando, defecando, mordendo e a ladrar nos aviões. E como se isto não
bastasse, um passageiro foi atacado por um cão de 23 kg num voo da Delta em
2017 e uma comissária de bordo da American Airlines teve que receber cinco
pontos na mão esquerda depois de ser mordida por um cão de apoio emocional no
passado mês de Julho.
Penso que o esforço levado
a cabo pelo Departamento de Transportes dos Estados Unidos não surtirá o efeito
desejado, porque nem as companhias aéreas nem o seu pessoal terão como
certificar-se se determinado animal é ou não de apoio emocional. Caberá ao
governo federal sabê-lo e certificar de forma peremptória estes cães, não como
até aqui, aceitando várias agências emissoras de certificados, muitas vezes
comprados e oferecidos a bom preço na Internet. Será que a seguir à dificuldade
de proibir a venda livre de armas de fogo vai seguir-se o imbróglio dos cães
ferozes nos aviões? O tema dava um grande filme de terror, imaginem um cão dito
de apoio emocional, que a seguir ao jantar a bordo e com os passageiros a
dormir, começa a matá-los um após outro. Na América nunca faltaram bons guiões
para filmes, a realidade fornece-os! Será que nos voos internos dos States
ainda veremos passageiros ataviados de capacete e munidos de Tasers? Queira
Deus que não, já que por lá dizem que “in
God we trust“.
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