segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ENQUANTO A AMAZÓNIA ARDE, OS CÃES ACABAM COM O RESTO

Quando era menino não conseguia imaginar o JARDIM DO EDÉN, mas depois de conhecer o Brasil, fiquei com uma ideia mais aproximada de como seria. E se há uma terra a qual se poderá chamar paraíso, essa será a de VERA CRUZ, terra imensa e surpreendente quadro de aguarelas. E, ao contrário do que por aí se diz, pátria de gente simples, valente e generosa, que de tão ingénua que é, contenta-se com tão pouco sem perder o sorriso e a esperança.
A Amazónia está arder e todos sofremos com isso, o Brasil e o Mundo, nada será como dantes! Se o fogo naquela grande floresta está a pôr em risco muitas espécies, um predador igualmente perigoso está a cometer um dano ambiental massivo nas reservas e parques naturais brasileiros – o cão, que é hoje um dos mais prejudiciais predadores evasivos do mundo, cujo número já ronda os mil milhões. Não há dúvida: o número de cães cresce na mesma medida em que muitas espécies correm o risco de extinção.
No Brasil, beneficiando da sua grande adaptabilidade e do facto de caçarem em matilha, os cães são mais fortes que os predadores nativos (raposas e grandes felinos), deslocando-os das reservas naturais e dos parques nacionais, já que o seu número excede muitas vezes o dos pumas e ocelotes (maracajá, jaguatirica, gato-do-mato, jacatirica). Cientistas estimam que existam mais de 100 cães caçadores no Parque Nacional da Tijuca, nos arredores do Rio de Janeiro.
Para que não restem dúvidas, basta dizer que Ana Maria Paschoal, cientista da Universidade Federal de Minas Gerais, ao monitorar 2400 hectares de floresta com câmeras automáticas, descobriu que o cão não era apenas o maior predador da região, era o mamífero mais abundante na floresta! Todos os cães captados pelas câmeras tinham dono e eram apenas caçadores em part-time, oriundos de comunidades pobres e rurais cujos donos não têm como alimentá-los adequadamente. Forçados pela fome, estes animais vagueiam pela floresta dia e noite à procura de alimento, regressando a casa quando os seus donos voltam do trabalho. A bióloga brasileira Katyucha Silva descobriu que os animais da Floresta da Tijuca são dizimados por cães das favelas.
A exemplo do sucedido no século passado, em que a espécie aumentou humana vertiginosamente e espalhou-se por todo o mundo, alcançando santuários naturais até ali intocáveis, levando consigo o cão, também agora, com o infiltração humana nas florestas brasileiras, os cães seguirão os seus donos e estabelecerão grandes áreas de caça ao redor dos assentamentos, invadindo as áreas protegidas imediatamente à sua frente, não tendo a fauna nativa como opor-se-lhes. E para quem gosta de números , aqui vai a dimensão do desastre: A União Internacional para a Conservação da Natureza estima que 191 espécies estão em perigo de extinção devido aos cães. Como se isto não bastasse, um estudo australiano de 2017 publicou um ranking dos mamíferos mais nocivos, ficando os cães em terceiro lugar, atrás de gatos e roedores.
Diante destes desastres, que não são exclusivo do Brasil, e em abono de toda a Humanidade, os brasileiros terão que escolher entre viver ou morrer e levar o Mundo atrás de si. Relembro aqui uma estrofe do Hino Brasileiro que gostaria de ver cumprida: Do que a terra mais garrida/ Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;/ "Nossos bosques têm mais vida",/"Nossa vida" no teu seio "mais amores".

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