De tempos a tempos,
timidamente, a velha Musgueira(1) sobe à superfície
da Alta de Lisboa através de episódios rocambolescos, como se reclamasse o seu lugar
ao sol, o direito à existência e ao pitoresco de outrora.
Assim aconteceu ontem,
quando um jovem de 20 anos, ao sair de casa pela manhã, foi atacado por um
boxer desconhecido que lhe mordeu gravemente o pénis, depois de lhe ter
perfurado as calças e a roupa interior, vindo a ser assistido no Hospital de
Santa Maria, em Lisboa, onde foi suturado em quase toda a circunferência do órgão
sexual.
Acabou por ter alta médica
1 hora e meia depois de ter dado entrada naquela unidade hospitalar, às 11H30, regressando
depois a casa. Devido à gravidade dos ferimentos terá que ser acompanhado em
enfermagem e depois sujeito a cirurgia plástica.
O Boxer não se encontra
indexado à lista dos cães considerados perigosos e é por norma um cão afável,
mas quando ensinado ou instigado a morder, pode ser extraordinariamente
perigoso e até letal, dolo que fica a dever-se ao facto de ser prógnata, o que
transforma a sua mordedura numa verdadeira guilhotina.
Independentemente do cão
agressor vir a ser encontrado ou não, a vítima deverá apresentar queixa contra
desconhecidos num posto policial, o que poderá levar à identificação do dono do
animal. Na eventualidade do cão ser encontrado, ele passará 15 dias sob
custódia para avaliação do seu comportamento, mas se tiver dono ficará fechado
em casa e se for abandonado será recolhido num canil. Se porventura tiver dono,
a vítima poderá pedir-lhe uma indemnização. Caberá ainda às Polícias fiscalizar
se o animal tem as vacinas em dia e é portador do microchip obrigatório.
Um
ataque bárbaro destes é profundamente doloroso e traumático e irá deixar sérias
sequelas físicas e psicológicas mais ou menos duradouras, problema que
acidentalmente já me atingiu e que me leva a proteger instintivamente a mesma
parte do corpo, quer esteja entre cães amigos ou não, desde que me surpreendam
ou venham a correr desenfreados na minha direcção (gato escaldado de água fria
tem medo). Resta-nos desejar ao jovem agredido que recupere rápido e
totalmente.
(1) Os bairros provisórios da Musgueira Norte e da Musgueira
Sul foram construídos por iniciativa municipal em meados da década de 60 com o
objectivo de absorver parte da população desalojada coercivamente do Vale de
Alcântara, em resultado da construção da Ponte Salazar (hoje 25 de Abril). Paralelamente,
foi construído o bairro da Cruz Vermelha, numa iniciativa assistencialista
articulada entre a Cruz Vermelha e a Câmara Municipal de Lisboa (CML). Posteriormente,
surgiram vários bairros de carácter informal, habitados por retornados,
famílias provenientes do interior do país, de etnia cigana e dos PALOP, que se
distribuíram pelos bairros da Quinta Grande, Quinta do Louro, Quinta do
Pailepa, Quinta das Calvanas, Sete Céus, entre outros. O bairro da Musgueira
Norte foi demolido entre 1998 e 2003 e a população foi realojada na área
correspondente ao Plano de Urbanização do Alto do Lumiar, comercialmente
conhecido por Alta de Lisboa.
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