quinta-feira, 22 de agosto de 2019

GOLPE BAIXO NA ALTA DE LISBOA

De tempos a tempos, timidamente, a velha Musgueira(1) sobe à superfície da Alta de Lisboa através de episódios rocambolescos, como se reclamasse o seu lugar ao sol, o direito à existência e ao pitoresco de outrora.
Assim aconteceu ontem, quando um jovem de 20 anos, ao sair de casa pela manhã, foi atacado por um boxer desconhecido que lhe mordeu gravemente o pénis, depois de lhe ter perfurado as calças e a roupa interior, vindo a ser assistido no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde foi suturado em quase toda a circunferência do órgão sexual.
Acabou por ter alta médica 1 hora e meia depois de ter dado entrada naquela unidade hospitalar, às 11H30, regressando depois a casa. Devido à gravidade dos ferimentos terá que ser acompanhado em enfermagem e depois sujeito a cirurgia plástica.
O Boxer não se encontra indexado à lista dos cães considerados perigosos e é por norma um cão afável, mas quando ensinado ou instigado a morder, pode ser extraordinariamente perigoso e até letal, dolo que fica a dever-se ao facto de ser prógnata, o que transforma a sua mordedura numa verdadeira guilhotina.
Independentemente do cão agressor vir a ser encontrado ou não, a vítima deverá apresentar queixa contra desconhecidos num posto policial, o que poderá levar à identificação do dono do animal. Na eventualidade do cão ser encontrado, ele passará 15 dias sob custódia para avaliação do seu comportamento, mas se tiver dono ficará fechado em casa e se for abandonado será recolhido num canil. Se porventura tiver dono, a vítima poderá pedir-lhe uma indemnização. Caberá ainda às Polícias fiscalizar se o animal tem as vacinas em dia e é portador do microchip obrigatório.
Um ataque bárbaro destes é profundamente doloroso e traumático e irá deixar sérias sequelas físicas e psicológicas mais ou menos duradouras, problema que acidentalmente já me atingiu e que me leva a proteger instintivamente a mesma parte do corpo, quer esteja entre cães amigos ou não, desde que me surpreendam ou venham a correr desenfreados na minha direcção (gato escaldado de água fria tem medo). Resta-nos desejar ao jovem agredido que recupere rápido e totalmente.
(1) Os bairros provisórios da Musgueira Norte e da Musgueira Sul foram construídos por iniciativa municipal em meados da década de 60 com o objectivo de absorver parte da população desalojada coercivamente do Vale de Alcântara, em resultado da construção da Ponte Salazar (hoje 25 de Abril). Paralelamente, foi construído o bairro da Cruz Vermelha, numa iniciativa assistencialista articulada entre a Cruz Vermelha e a Câmara Municipal de Lisboa (CML). Posteriormente, surgiram vários bairros de carácter informal, habitados por retornados, famílias provenientes do interior do país, de etnia cigana e dos PALOP, que se distribuíram pelos bairros da Quinta Grande, Quinta do Louro, Quinta do Pailepa, Quinta das Calvanas, Sete Céus, entre outros. O bairro da Musgueira Norte foi demolido entre 1998 e 2003 e a população foi realojada na área correspondente ao Plano de Urbanização do Alto do Lumiar, comercialmente conhecido por Alta de Lisboa.

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