sexta-feira, 2 de agosto de 2019

COISAS DE CONTAE na GAILLIMHE

Eu tenho um profundo respeito e admiração pelos celtas, dos quais descendo vagamente, mas compreendo pouco a pouco como foi fácil para os germanos varrê-los dos seus territórios antes da nossa Era e nos seus alvores. Através do INDEPENDENT.IE online fiquei a saber da morte de uma sexagenária pelos cães do seu filho, 3 PRESAS CANÁRIOS, no Condado de Galway (CONTAE na GAILLIMHE em irlandês), acontecida há dois anos atrás, na tarde de 4 de junho de 2017 e só agora com pronunciamento legal. A Sr.ª Teresa McDonagh, de 64 anos, telefonou para o seu filho Martin a avisar que iria visitar os seus netos e assim fez. Ao aproximar-se da casa deste, em Knockarasser, perto de Moycullen, foi atacada pelos Presa Canários dele, que na altura se encontravam soltos na frente da habitação. A pobre senhora, que ainda foi alvo de ressuscitação cardiopulmonar por parte da nora, viria a morrer em consequência dos graves ferimentos infligidos pelos cães, que devido à sua severidade, assustaram tanto a equipa médica como a polícia que acorreu ao local.
Quando inquirida acerca dos acontecimentos daquele trágico dia, Sheryl McDonagh, a nora da vítima, disse tê-la encontrado de cabeça para baixo e que foi ela a dar o alarme, ao telefonar para o marido que se encontrava a caminho de Adare, no Condado de Limerick. O que a levou a procurar pela sogra foi ter reparado que os seus 3 cães encontravam-se com as patas ensanguentadas. Depois de os prender num barracão correu para a sogra e administrou-lhe respiração cardiopulmonar. No seguimento do inquérito, Sheryl confirmou que ela e o seu marido já tinham tido um Rottweiler e um Pastor Alemão sem qualquer problema, mas que tanto eles como os actuais nunca foram acorrentados. “Só agora é que eu percebo como eles são perigosos”, disse ela (diante duma afirmação destas, ou quer passar por ingénua ou é mesmo tola!).
No seguimento do inquérito judicial, chamado a pronunciar-se, Martin McDonagh, filho da vítima e marido de Sheryl, disse que havia comprado dois cachorros de Presa Canário há 8 anos por 500 euros (o terceiro cão é filho destes), animais que viu anunciados no sie “Done Deal” e que já lhe chegaram de orelhas cortadas. Adiantou que comprou estes cães por acontecerem vários arrombamentos naquela área habitacional (afinal os cães não eram para dar beijinhos a ninguém!). Declarou como “incidental” a criação de Presas Canário que acabou por fazer, num total de vinte e tal cachorros que vendeu entre 100 e 250 euros. Martin disse ainda que estava ciente de que o carteiro “estava com medo” dos cachorros e, que por esse motivo, mudou o lugar da sua caixa do correio. “Se alguém achava que os animais eram capazes de matar alguém, então deveria ter-me contado e os cachorros teriam sido mortos”, disse ainda (será que o homem comprou aqueles cães sem se informar primeiro acerca deles? Se o fez, não o deveria ter feito, uma vez que tem 4 filhos e qualquer um deles poderia acabar “acidentalmente” nas potentes mandíbulas daqueles cães!).
O dito carteiro, o Sr. Barry Haddock, também foi chamado a depor e contou durante o inquérito vários incidentes ocorridos com aqueles cães em 2015, dois anos antes da morte da senhora Teresa McDonagh, altura em que os pneus da sua carrinha foram perfurados pelos daqueles animais, viatura que abanava bastante quando isso sucedia. Em certa ocasião, um dos cães saltou um muro e furou-lhe um dos pneus da carrinha, enquanto conversava com o seu dono acerca de um incidente anterior (bons indícios!). Haddock concluiu durante o inquérito judicial que “ Há 25 anos a trabalhar na An Post (correios), nunca tinha visto cães tão ferozes como aqueles” (sem querer incriminar ninguém, gostava de saber o porquê da preferência por pneus).
O irmão de Martin, Gerry McDonagh, também chamado a depor, disse que no dia da morte de Teresa não esteve presente, por ter ido levar o seu pai, Eddie, ao hospital de Galway, por causa de uma queda que ele deu. Contudo, não se escusou em dizer que o seu pai já o havia alertado para a possibilidade de haver problemas com aqueles cães (um patriarca sensato!). Gerry disse ainda que estava sempre nervoso na presença dos cães e que “não tinha como aterrar de helicóptero no quintal do irmão”. Também um tal de Brendan Hynes foi ouvido e confirmou ter recebido um telefonema do dono dos cães na tarde 04 de junho de 2017, pedindo-lhe que fosse a sua casa e atirasse nos animais quando fizessem menção de atacar a sua mãe. O pedido feito ao Sr. Hynes resulta de ter uma licença de porte de arma e de abater texugos para o Departamento de Agricultura (?!).
Quando solicitada a pronunciar-se, Rita Gately, a veterinária do Condado de Galway (Co Galway), começou por afirmar que não existia qualquer queixa sobre aqueles cães, que os dois cães adultos pesavam 46 e 43 kg e que não tinham os microchips obrigatórios quando examinados depois de mortos (why not?), enquanto o cachorro deles resultante tinha um microchip, mas ainda por registar. Esta veterinária fez ainda saber que o Presa Canário não se encontra na lista dos cães perigosos ali (estará nela o Lulu da Pomerânia?), que a raça é rara e que é do tipo molosso, originária das Ilhas Canárias para agrupar o gado e que pode ter sido usada como cão de luta e também como cão de guarda. Um pouco para serenar os ânimos e esconder a incompetência, Ms Gately disse que o Departamento de Desenvolvimento Rural e Comunitário estava a realizar uma revisão da legislação sobre controlo de cães e que ela fazia parte de um grupo de trabalho com esse objectivo.
A patologista consultora chamada ao processo, Brigit Tietz, disse que a sra. McDonagh sofreu graves traumas nas pernas, fracturas e múltiplas lacerações nos braços e no tronco, adiantando que morreu de choque hemorrágico resultante de ferimentos maciços em ambas as pernas. A sra. Rosaleen Heffernan (filha da vítima) descreveu a sua mãe como uma "mãe, esposa e tia amorosa", que era "muito elegante, adorava cozinhar e fazer panquecas para os netos.” O júri aceitou o veredicto da desventura (acidente) e endossou quatro recomendações feitas pelo médico legista Dr. Mc Loughlin, que recomendou a adição daquela raça à lista dos cães perigosos ou restritos; que os cães a ela pertencentes deverão permanecer atrelados e açaimados; que os seus donos deverão ter uma licença especial e um treino igualmente especial e que o Conselho do Condado de Galway deverá submeter à apreciação a actual revisão do Governo sobre a legislação relativa aos cães.
Numa declaração lida pelo advogado Mike Ward após a audiência, Christy, Gerry e Eamonn McDonagh, Rosaleen, Flan Heffernan e Rebecca King disseram que foram "devastados" pela trágica perda de sua mãe e disseram cumprir as recomendações do legista. "Os filhos e netos de Teresa McDonagh foram roubados do seu generoso amor e carinho" e o que tornou tudo mais trágico é que ela ia visitar os seus netos”... "A família espera que a lei seja mudada para que os donos dos cães perigosos sejam obrigados a contê-los e mantê-los em recintos onde não possam causar ferimentos ou a morte a qualquer pessoa.” – assim termina o comunicado.
A família de Sheryl e Martin McDonagh livrou-se de boa, porque noutras latitudes seria acusada de homicídio por negligência. Torna-se evidente que não queriam matar a mãe, mas não acredito, de maneira nenhuma, que desconhecessem os cães que tinham, a sua história e carga genética, assim como a sua propensão para atacar fosse quem fosse. Será que a Internet ainda não chegou à República da Irlanda? Nesta história há muita coisa mal contada e ela começa a desvendar-se no propósito que levou à compra daqueles cães. O tribunal entendeu que a justiça já havia sido feita, já que o feitiço se virou contra o feiticeiro, o que nestes casos não é assim tão incomum. Se for possível estabelecer uma relação entre Presas Canários maus e donos impróprios, não tenho dúvidas ao afirmar que o número dos últimos sufocará sem grande dificuldade o número dos primeiros.

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