quarta-feira, 21 de agosto de 2019

F DE FILA, DE FIEL, FELINO, FORTE E FORMIDÁVEL

Poucos sabem que a Acendura Brava também já foi criadora de Cães de Fila de S. Miguel, quando procurava elevar as raças caninas nacionais no panorama laboral internacional, esforço que suportou sozinha, depois de ter experimentado um sem número de exemplares das diversas raças nacionais e de ter constatado a sua sofrível selecção e pouco préstimo. A raíz alana que une o Fila de S. Miguel ao Cão de Castro Laboreiro, ao Cão da Serra da Estrela e ao Rafeiro Alentejano, ainda visível nos raiados melgacenses (chamados erroneamente de “mastins alupinados”), nos Serras de pêlo curto e nos Rafeiros Alentejanos mais raiados e menos brancos, permaneceu maioritária no cão micaelense, enquanto os seus primos pouco a pouco e por adulteração, evoluíam para mastins com a Espanha ali tão perto. Esta divergência de critérios e caminhos transformou a maioria destes cães em molossos-tipo e destacou para sempre o Cão de Fila de São Miguel, um alano praticamente desconhecido dos portugueses, que dos pontos de vista biomecânico, cognitivo e psicológico em nada se confunde com os demais, por ser mais rápido, cúmplice, curioso, disponível, decidido, franco, versátil e valente.
Do ponto de vista operacional não há nada que os cães da moda façam que o Fila não consiga fazer, porque é humilde, generoso, aprende com facilidade, vive para o dono, é pouco exigente, leve (a raça apresenta dimorfismo sexual), rústico, atento e célere, de fácil camuflagem, combativo como poucos, de progressão dissimulada e ataques cirúrgicos. As suas fêmeas, quando comparadas com as suas congéneres alemãs, belgas e holandesas, apresentam um menor défice de qualidade em relação aos machos, sendo por norma mais curiosas e menos instintivas nos ciclos infantis. O desempenho de um Fila na área da segurança apresenta duas vantagens: o carácter imprevisível dos seus golpes e a capacidade de evitar os dos seus opositores.
O Fila de São Miguel é um cão para toda a gente? Há quem o faça pior do que é e quem veja nele um anjinho de 4 patas, quando na verdade não é uma coisa nem outra. Apesar de subsistirem alguns perfis psicológicos diversos na raça, que não são assim tantos, a esmagadora maioria dos seus indivíduos dispensa maiores provocações, motivações e incentivos para proteger, defender e guardar o que lhe é confiado, o que não impede que possam vir a ser bons cães de companhia e companheiros de crianças, infantes que jamais atacarão e que defenderão com a própria vida quando criados juntos. Para quem será mais indicado este cão? Obviamente para quem tem gado, um terreno, pessoas ou bens a guardar, apresentando-se como opção segura para quem procura e está acostumado ao desempenho de Pastores Alemães, Belgas e Holandeses.
Ignoro ainda hoje quais as razões que impediram a popularidade e a procura do Cão de Fila de São Miguel entre nós, talvez possa alvitrar algumas, mas como não gosto de fazer juízos temerários não o farei. A cada Domingo que passa, as igrejas oferecem gratuitamente o perdão de Deus aos homens, o que não impede que estejam cada vez mais vazias. Será que se passa o mesmo com o Cão de Fila de São Miguel, que por ser português e barato ninguém o quer? É bem possível à luz duma velha tradição que diz ser a galinha da minha vizinha melhor do que a minha!
PS: Sinto-me feliz porque, passados 20 anos, voltei a treinar um grupo de Cães de Fila de S. Miguel, amigos que nunca me decepcionaram e que continuam a encantar-me.     

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