Em Karachi, capital
financeira do Paquistão, nos últimos 8 meses, 14.000 pessoas foram atacadas por
cães vadios, o que não tem sido fácil para o município local, que se vê
obrigado a enfrentar a raiva pública e as organizações a favor dos direitos doa
animais. No passado recente, os hospitais da cidade sofreram um afluxo de
homens e mulheres com ferimentos de bala, obra dos Taliban, dos seus
representantes e de outros grupos políticos. Apesar da taxa de criminalidade na
cidade ter diminuído significativamente de 2013 até agora, a cidade enfrenta
agora uma nova ameaça – os ataques caninos. Numa metrópole com 20 milhões de
habitantes, a superlotação de cães abandonados nas ruas tem gerado um sem
número de matilhas que perseguem carros, derrubam motociclistas e cavalos,
atacam pedestres e crianças em idade escolar. Como consequência, as pessoas
diagnosticadas com raiva são comuns em Karachi.
O número de vítimas foi
maior ano transacto, com os hospitais a tratar 18.000 casos de raiva causados
por cães mordazes. Os especialistas suspeitam que o número das vítimas seja bem
maior, já que muitos casos são tratados em clínicas particulares, por
curandeiros espirituais e homeopatas (infelizmente algumas vítimas já
morreram). Como não existem vacinas anti-rábicas nos subúrbios de Karachi e na
totalidade das áreas rurais da Província de Sind, os doentes encaminhados para
os principais hospitais de Karachi chegam ali em estado crítico. A ocorrência das
doze mortes relacionadas com a raiva, acontecidas nos últimos oito meses, já
começam a pesar no discurso político do país, nomeadamente no do Partido
Democrata de Pasban, que exige do Governo uma “emergência da raiva” e que
garanta o fácil acesso da população às vacinas anti-rábicas.
A maioria da população
desconhece o risco da raiva quando é mordida por cães vadios ou não procura o
tratamento adequado para a sua prevenção. O vírus da raiva ataca o sistema
nervoso central, despoleta agressividade incontrolável, provoca alucinações e
medo da água. Apesar da raiva ser endémica no Paquistão, o seu combate tem-se
revelado ineficaz. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença não mostra
sinais de diminuição em Karachi por falta dos sistemas de vigilância, ausência
de colaboração entre os diferentes hospitais e os departamentos administrados
pelo governo, assim como o acesso limitado às vacinas anti-rábicas e às
imunoglobulinas actualizadas. Diante deste cenário, que mantém os moradores
atemorizados, teme-se que o número de vítimas possa subir futuramente e que as
crianças venham a ser o principal alvo dos cães vadios, já que o município não conseguiu
controlar o seu crescimento.
Os activistas locais dos
Direitos Cívicos acreditam que a existência de lixo por toda a parte, ao ponto
de se encontrarem pilhas dele nas estradas, é o que mais contribui para o
problema, porque os cães vadios dependem dele para sobreviver. Para justificar
o seu ponto de vista, estes activistas adiantaram que “Nos países que têm o
lixo guardado em caixas e que limpam-nas regularmente, o número de cães vadios
é menor”. As autoridades de Karachi estão num impasse e não sabem qual medida
tomar, se hão-de vacinar, castrar ou abater aqueles cães (até há pouco tempo os
funcionários municipais distribuíam frango envenenado para matar os cães
vadios).
Exceptuando o abate dos
cães, as restantes soluções só poderão ser postas em prática com o auxílio
internacional, normalmente encabeçado por uma ou mais ONG’s. Decididamente
Karachi não é uma cidade amiga de cães, apesar do problema ser mais vivido nos
bairros menos favorecidos desta grande cidade. Se eu tivesse que ir a Karachi, mesmo
que uma grande fortuna me esperasse, por todas as razões deste mundo, pagaria a
quem lá fosse por mim!