A involução a que
assistimos no Cão de Pastor Alemão actual, responsável pela sua precária prestação
laboral, advinda de uma morfologia imprópria e de uma capacidade de
aprendizagem cada vez menor, tem levado muitos profissionais ligados ao mundo
da cinotecnia a abastardá-lo com Malinois, na esperança de alcançar um cão
fácil de controlar como o CPA e rijo como o cão Belga. Estes híbridos ou
mestiços são conhecidos internacionalmente por “Shepinois” ou “German Malinois”
e entre nós como “Palinois”. O seu número aumenta a cada dia que passa,
vemo-los nas mãos de militares, polícias, seguranças privados e também entregues
a um grupo restrito de civis que se dedica ao adestramento e à consequente
participação em provas caninas.
A solução encontrada por
esta gente é análoga à anteriormente encontrada pelos criadores do Pastor do
Leste Europeu, diferindo apenas na raça do cão/cães utilizado para “beneficiar”
o CPA. Do ponto de vista morfológico, atendendo à génese ou raiz comum (em cada
CPA há um pouco de Pastor Belga e vice-versa) esta mestiçagem alivia ou
conserta na totalidade os desvios estruturais presentes no Pastor Alemão,
dotando a sua descendência de uma biomecânica própria para os vários serviços
destinados aos cães de utilidade. Mais, a menos que os Malinois utilizados
sejam por demais angulados (que dificilmente serão e que nunca deveriam sê-lo), a
maioria dos filhotes nascerá de média angulação traseira, tal qual os CPA’s de
linha laboral, o que lhes possibilitará desempenhos atléticos específicos e de
difícil execução para os Malinois, que são peritos em saltos de cabra, no que
lembram os helicópteros a levantar do solo. Para além disso, em abono da
celeridade operacional, estes mestiços serão mais rápidos que o seu progenitor
CPA e farão a transição dos andamentos naturais com maior facilidade. Importa
ainda destacar que ser-lhe-ão mais rijos pela sua rusticidade. Quanto à
melhoria morfológica e ao desempenho atlético não restam dúvidas: a artimanha
funciona.
Do ponto de vista
cognitivo há que considerar qual o tipo de CPA utilizado, se de beleza ou de
trabalho. Caso o progenitor utilizado seja de linha estética ou de meia-linha
(cruzado com um exemplar de linha laboral), o mais natural é assistir-se a um reforço
da carga instintiva nos cachorros, que substituirão o forte impulso ao
conhecimento presente no ancestral Pastor Alemão pela tremenda disponibilidade
do Malinois, o que os tornará mais previsíveis e ao mesmo tempo mais autónomos,
autonomia que nem sempre será fácil de controlar, como não é fácil controlar um
Malinois quando decide inventar serviço. Caso o CPA utilizado seja de linha
laboral, tanto poderá assistir-se-á a um aumento cognitivo em relação ao
progenitor belga como ao aparecimento de cães ardilosos que fundirão em si os
dois mundos dos seus progenitores: a curiosidade do cão alemão e a ferocidade
do Malinois. Nos dois casos podem aparecer cães mansos e desinteressados (mais
por culpa de quem os seleccionou que deles próprios), animais que relembram a
proto-selecção comum, de pouco proveito para patrulhas mas dotados de excelente
máquina sensorial, também próprios para cães de auxílio e de terapia. Assim,
quando à cognição destes cães, bem que podemos utilizar o que disse uma vez
Lavoiser acerca da natureza: “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
No que concerne à
globalidade dos impulsos herdados destes híbridos em relação ao Pastor Alemão (o
relativo ao conhecimento já tratámos atrás), quando tudo corre bem e são
satisfatórios (o que nem sempre acontece), eles têm um menor impulso ao
alimento, um maior impulso ao movimento, superiores impulsos à defesa e a luta
e maior impulso ao poder, são mais rústicos, combativos e resistentes, apresentam
forte instinto de presa, um altíssimo sentimento territorial e uma máquina
sensorial excelente, características que levaram à sua formação e que enchem de
orgulho os seus mentores. Por detrás desta hibridação subsistem duas razões
económicas que contribuíram para o seu aparecimento: o baixo preço dos Malinois
e a necessidade de se produzirem bons cães com “a prata da casa”. A ideia não é
portuguesa e foi levada a cabo depois de conhecidos os seus resultados noutros
países a quem costumamos comprar cães para segurança.
Como não deitamos cartas e
não somos visionários, não sabemos se o futuro de algumas raças caninas, a
precisar de conserto, passará pelo auxílio da engenharia genética ou pelo
contributo da hibridação como hoje sucede. No entanto, de uma coisa temos a
certeza: o Pastor Alemão ainda não necessita dela! E não necessita dela porque
tem diferentes linhas de criação e variedades cromáticas com pouco de comum
entre si, o que lhe possibilita a biodiversidade capaz de o sustentar por mais
tempo, bastando para isso abraçar uma política de quadro aberto apoiada nos
beneficiamentos entre as linhas estéticas e as laborais assim como entre as variedades
dominantes e recessivas. Mais cedo ou mais tarde (pensamos que mais cedo do que
se julga) para evitar a chegada da saturação da raça e os seus malefícios, a
variedade branca será finalmente reintegrada na raça donde nunca deveria ter
saído, beneficiando as outras variedades cromáticas suas irmãs e projectando-as
para o futuro.
Devido às semelhanças
entre o Pastor Belga Malinois e o Pastor Alemão e entre o Palinois e o Pastor
Alemão de manto vermelho da linha laboral, como poderemos hoje e doravante
diferenciá-los? Quanto às diferenças entre o Malinois e o CPA elas são
sobejamente conhecidas e saltam à vista de qualquer principiante na matéria. As
diferenças entre o Malinois e o CPA vermelho são exactamente as mesmas que se
detectam com as outras variedades cromáticas do Pastor Alemão e as diferenças
entre um Palinois e CPA Vermelho passam pela desigualdade de crânio, comprimento, membros
e ossatura, envergadura, peso e altura, para além doutros pormenores que a
experiência nos adiantará (só têm em comum a cor). Voltaremos a este assunto
quando se justificar. Todavia, tome muito cuidado com as imitações, porque até
no melhor pano cai a nódoa!
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