quinta-feira, 11 de maio de 2017

ESTAREMOS À BEIRA DE UM NOVO DESASTRE ECOLÓGICO?

É bem possível que o aumento progressivo de cães domésticos possa gerar um desastre ecológico, ainda mais quando coadjuvado pelo crescente número de gatos. Esta Terça-feira, por proposta do PAN e com o apoio do Bloco de Esquerda, discutiu-se no Parlamento português as alterações à lei da caça com propostas que visam reduzir o número de dias autorizado para caçar e impedir o licenciamento de novas matilhas, propostas de alteração que bem depressa insurgiram proprietários rurais e os caçadores. Mas serão só as espécies cinegéticas que estarão em risco por causa dos cães? Não estaremos a tapar o sol como uma peneira? Haverá porventura algum ousado político capaz de pôr uma trela no nosso amor pelos cães e limitar o seu número por cidadão?
Comecemos pelo fim. Limitar o número de cães sempre será uma medida antipopular e os políticos que ascendem ao poder, contrariamente aos ditadores, alcançam-no pelo voto, pelo que dificilmente algum deles o fará e muito menos agora que o populismo está de volta, a frutificar e bem, apesar de mais cedo ou mais tarde tal redução ter que suceder obrigatoriamente pelo desequilíbrio ecológico que os cães já hoje estão a causar e que se encaminha para o desastre.
A primeira espécie que estão a ameaçar é a humana, porque estão a tomar o lugar dos filhos de muitos e a atacar esporadicamente os filhos de alguns, o que tem contribuído significativamente para a diminuição da taxa da natalidade no mundo ocidental e para a constituição de leis que visam a repressão e a eliminação dos cães mais perigosos, fiscalização feita à conta do erário público, o mesmo que se vê à brocha para pagar os míseros abonos de família. O que acabámos de dizer parece patético e sem fundamento, mas que deixa de o ser à luz daqueles casais que, dizendo sem condições para criar um filho, acabam por adquirir uma pequena matilha de cães, gastando com eles um montante igual ao superior ao que gastariam com um descendente. É evidente que a culpa aqui não é dos cães, é a humanidade que está doente (antigamente os pobres tinham muitos filhos e mal os podiam sustentar, agora têm cães e o seu calvário não sofreu alteração).
As pessoas menos atentas à natureza nem dão por isso, mas a verdade é que muitas aves aquáticas estão a desaparecer do nosso litoral e cidades fluviais, tudo porque os cães lhe dão caça e impedem-nas de nidificar, zarpando as sobreviventes para parte incerta e para longe da nossa vista. Isto está a suceder junto aos estuários dos nossos maiores rios, antigamente desprovidos de cães e hoje saturados aos fins-de-semana e feriados, quer de noite quer de dia, caça não licenciada que se inicia mal se solta a trela. Mais lesivo para as aves residentes e migratórias que uma nova ponte sobre o Tejo é deixar os cães soltos pelas suas margens. Um dos casos mais flagrantes é o visível na zona da Expo, outrora um sapal cheio de vida e agora um canto mudo embalado por estéreis marés sem as tarambolas, galeirões e galinhas-de-água que no passado ali viviam e nidificavam. Afortunadamente não é permitido desembarcar animais na Reserva Natural das Ilhas Berlengas, porque doutro modo a sua fauna há muito teria desaparecido.
Quanto mais cães houver, menos espécies teremos porque eles transformam automaticamente em terrenos de caça os lugares onde vivem e vagueiam, não dando descanso a aves, répteis e pequenos mamíferos, excepção feita às ratazanas que a maioria evita e que leva alguns a pôr-se em fuga. À parte disto, o número crescente de cães não tem sido acompanhado pelos cuidados médico-veterinários que exigem, tornando-se hospedeiros de doenças e parasitas que podem contaminar outros animais domésticos, como é o caso da Neospora caninum (neosporose) transmitida pelas suas fezes, que uma vez presente nos prados contribuirá para um grande número de abortos nas vacas. Se não tem o seu cão devidamente vacinado e desparasitado evite levá-lo para junto de estações agro-pecuárias, respeite o investimento dos outros e os seus animais, para que o seu descuido não resulte em miséria alheia ou acabem recebidos como indesejáveis por atentarem contra a saúde pública.
Sim, o crescente aumento do número de cães poderá provocar um grande desastre ecológico pelo varrimento de várias espécies em diferentes ecossistemas, comprometendo assim o seu equilíbrio! Torna-se urgente evitar que isso aconteça, há que tomar medidas e controlar o número de cães, convidá-los sem excepção para a sociabilização interespécies e responsabilizar ainda mais os seus donos pelos prejuízos que eventualmente possam causar. Quer nos agrade ou não, em abono da natureza, do seu equilíbrio e do bem-estar geral, torna-se urgente limitar o número de cães por pessoa, medida racional que tarda a ser posta em prática por ser impopular. Sabemos por experiência própria que a maioria das pessoas, quando muito, terá condições para ter um cão e dar resposta às suas exigências, que só um grupo de eleitos poderá ter dois cães e satisfazê-los plenamente e que para além desse número algum acabará desprezado ou todos eles. Para que quero eu uma matilha que não controlo? Não estarei com isso a pôr em risco a integridade de outrem? Controlar o número de cães não ajudará também a combater eficazmente o seu abandono?   

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