segunda-feira, 29 de maio de 2017

CPA’S DA ACENDURA: O QUE OS DISTINGUE

Há 25 anos atrás a Acendura Brava empenhou-se na criação Pastores Alemães para alcançar uma linha de trabalho capaz de ombrear com os melhores exemplares da raça das décadas de 30, 40 e 50 do século passado. O nome “Acendura” espelha esse mesmo propósito porque advém do verbo latino “acendrar” que significa lapidar e purificar. Lapidar e purificar o quê? Lapidar as menos valias presentes nos cães que escolhemos através de beneficiamentos acertados e purificar ou libertar os nossos cachorros da acção castradora da endogamia e da consanguinidade, valendo-nos para isso de várias linhas de criação e das diferentes variedades cromáticas ainda aceites pelo estalão da raça. Nunca foi nosso objectivo criar uma nova raça ou abastardá-la, somente restituir-lhe o bom-nome que pouco a pouco foi perdendo, perca que levou consigo a extraordinária capacidade cognitiva, a excelente máquina sensorial, a versatilidade biomecânica, a valentia e a presença ostensiva outrora presentes nestes cães, qualidades que fomos encontrar nalguns nichos de criação nacionais e estrangeiros, sem nunca rompermos nem nos afastarmos em absoluto dos exemplares de exposição, enquanto parte integrante da raça e constituído em subtipo pelos “maravilhados” que nutrem uma especial aversão pelo trabalho.
A procura das mais-valias laborais nos Pastores Alemães levou-nos no sentido contrário, à produção de pistas tácticas que nos ajudassem a escolher acertadamente os reprodutores do nosso interesse, mediante a sua aprovação em exercícios e obstáculos que certificavam a sua coragem, rusticidade, cumplicidade, concentração e índices atléticos, pelo que foi o trabalho a adiantar-nos qual o cão desejável e não o parecer subjectivo de uns tantos dogmáticos, que imaginam a partir do que vêem e que nunca chegam a ver aquilo que imaginam. Interessava-nos alcançar um cão que aos 12 meses estivesse física e psicologicamente apto e maduro para qualquer serviço destinado à raça, o que nos levou imediatamente para a seguinte construção: 20% de Negro, 30% de Lobeiro e 50% de Preto-afogueado ou 1/8 N, 3/8 LB e 4/8 PA, sendo esta a construção embrionária e básica dos cães da Acendura Brava que os liga à proto-selecção e que os torna recessivos na variedade negra.
O uso de exemplares de diferente variedade cromática não se remeteu apenas à diversidade da sua cor mas também e em primeiro lugar à riqueza da sua personalidade e solidez de carácter. O recurso às três variedades cromáticas transportou-nos para outras há muito desaparecidas e esquecidas. Para a produção específica das diferentes variedades cromáticas servimo-nos de equações próprias para a sua obtenção com qualidade, sempre dentro duma política reprodutora de quadro aberto por conhecermos quais as limitações genéticas da criação isolada de cada uma delas.
Depois de uma década de testes e de criação exaustiva, suportada pelo adestramento a terceiros, venda de ninhadas e pelo hotel canino, alcançámos o tipo de cão que melhor nos servia: um clássico companheiro rectangular de “121” (1 parte de espádua, duas de dorso e 1 de garupa) curioso, também próprio para o serviço nocturno e sob condições mais exigentes, sempre disponível e interactivo, próprio para qualquer tipo de terreno, um marchador de alta cadência mas de fácil transição nos andamentos naturais, com igual desempenho dentro e fora de água, rústico, resistente e de grande disponibilidade atlética, intimidador, compacto e ao mesmo tempo veloz, nobre de carácter e de fácil sociabilização entre iguais, difícil de assustar e altamente persistente. Um cão ligeiramente maior e substancialmente mais robusto que os exemplares de exposição, com maior envergadura, de stop mais pronunciado, crânio mais pesado, excelente de ossatura e aprumos, de dorso mais paralelo ao solo, de costelas mais redondas, membranas interdigitais menos rasgadas (redondas), menos propenso ao pé chato e ao abatimento de metacarpos, com uma garupa equilibrada e bem desenvolvida, de média angulação traseira independentemente da sua cor ou tipo de manto.
O linha ou canil que nos serviu de base foi a Rheine-Möselring, que como é sabido apresentava grande dimorfismo sexual, disparidade que combatemos pelos beneficiamentos com cães negros doutra procedência no Inverno, que fizeram subir as fêmeas e entravar o pernaltismo nos machos. Os nossos machos tipo, que não se intimidam perante qualquer tipo de agressor e que não tremem diante de disparos, medem entre 66 a 70 cm de altura, pesam entre 40 a 48 kg, têm um perímetro torácico de 86 cm, um coeficiente de envergadura de 1.7, uma velocidade instantânea de 45 km/h e entre 60 e 70 pulsações por minuto, quando adultos e em descanso. As fêmeas, que apresentam as mesmas qualidades dos machos, sendo por isso próprias para tomar parte em matilhas funcionais, medem entre 62 e 66 cm, pesam entre 38 e 44 kg, têm um perímetro torácico de 82 cm e algumas delas podem atingir velocidades iguais ou superiores às dos machos, o que coloca em paralelo a sua força de impacto.
Por força da prévia selecção operada nesse sentido, as cadelas tendem a ninhadas numerosas, de 6 a 10 cachorros, pesando entre 400 e 600g à nascença, consoante o seu número e tratamento dado às matriarcas. A esperança média de vida dos cães da Acendura oscila entre os 12 e os 15 anos. Os exemplares lobeiros, por razões genéticas, duram menos que os demais, de 10 a 12 anos. Os mais longevos são os Red Sable que chegam a viver 16 anos como temos vindo a ter e a dar notícia.
A contribuição da variedade preto-afogueada (capa-preta) dotou os cães negros de maior envergadura e antecipou a maturidade emocional dos lobeiros. Os lobeiros transmitiram melhor máquina sensorial aos preto-afogueados e uma maior curva de crescimento aos negros. Os negros dotaram os outros dois de maior equilíbrio psicológico, tornando-os precoces nas suas investiduras e aumentou-lhes o efeito surpresa, mais-valias que apontam para a sua salvaguarda e superior desempenho.
Em termos atléticos, como prestação antecedente e propiciatória para os cães de guarda, só usámos e recomendámos como progenitores aqueles que alcançavam uma cadência de marcha de 7km/h durante 120 minutos, os que atingiam os 45km/h de velocidade instantânea, que saltavam uma vertical de 120 cm sem lhe tocar, que ultrapassam obstáculos tipo alvo com 40 cm de diâmetro, que não temiam o arco do fogo; que ultrapassavam muros de 2.5 m de altura, que saltavam em extensão no solo 3.25 m, 2.80 m na ponte-quebrada, que eram aprovados sem reticências nos obstáculos compostos e de múltipla utilização, os capazes de rastejar e de transportar na boca objectos de diferentes materiais (aço inclusive) com um peso mínimo de 3 kg, de subir e descer desacompanhados escadas elevadas a 6 m de altura, que mostravam especial aptidão em obstáculos oscilantes e que consigam trabalhar sem entraves em túneis e outros obstáculos abaixo da linha do solo (a nível de pistagem e de guarda as exigências não eram menores).
O trabalho que levámos a cabo, bem-sucedido pelo estudo e pela dedicação, ainda hoje torna possível a identificação de um descendente de 4ª geração da Acendura Brava, como nos sucede quando vemos um Pastor Alemão digno desse nome, ao ser testemunha e vivo representante das glórias passadas que alardeia e transporta. 

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