Morreu ontem com 83 anos,
o jornalista e escritor lisboeta Armando Baptista-Bastos, um cronista
eternamente desalinhado (não no trajar) e polémico, um português convicto,
democrata e profundo conhecedor dos nossos problemas sócio-culturais (o homem
também nunca consentiu que lhe tirassem o “p” do Baptista”).
Como nada do que dissermos
espelhará o valor do olisiponense que agora partiu, adiantamos um dos seus comentários,
publicado no “Jornal de Negócios”, em 20 de Novembro de 2009, a propósito da
nossa sociedade e que espelha a profundidade do seu carácter analítico: “A nossa sociedade está a desmoronar-se e
ninguém lhe acode. Os laços sociais estão a desaparecer, substituídos por um
sistema de valores em que impera a vacuidade, o poder da «competitividade» como
força motriz - e não é. Há tempo para tudo, diz o Eclesiastes. Mas a verdade é
que os «tempos» foram pulverizados pela urgência de não se sabe bem o quê. A
frase mais comum que ouvimos é: «Não tenho tempo para»; para quê? A correria
mina as relações de civismo e de civilidade; está a roer os alicerces da
família; a família deixou de ser o núcleo das nossas próprias defesas; e vamos
perdendo o rasto dos nossos filhos, dos nossos amigos, dos nossos camaradas,
dos nossos companheiros. A azáfama nos locais de trabalho é o sinal das nossas
fragilidades e dos nossos medos. Estamos com medo de tudo, inclusive de confiar
em quem, ainda não há muito, seríamos capazes de confidenciar o impensável”.
Partiu com carradas de razão!
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