quinta-feira, 18 de maio de 2017

OS LEITORES DO BENIM E O FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE AJUDÁ

Hoje, para espanto nosso, foi o dia do Benim, país da costa ocidental de África cuja história se encontra interligada com a portuguesa, do qual recebemos perto de 300 visitas. Desconhecemos o porquê do seu interesse mas damos as nossas boas-vindas a todos os benineses. País sustentado por uma economia de sobrevivência, o Benim que já foi Mina e Daomé, entreposto luso para o embarque de escravos e colónia francesa, tomou o seu primeiro contacto com a civilização europeia através dos navegadores portugueses que para lá rumaram desde o Séc.XV (por curiosidade e interesse histórico, vale a pena comparar a construção acima com as visíveis no porto palafítico da Carrasqueira /Alcácer do Sal).
Dali viriam a ser sequestrados muitos escravos destinados ao Caribe e às Américas, gente que levou consigo pormenores da sua religiosidade ancestral como o vudu. Alguns destes escravos eram muçulmanos e sabiam escrever em árabe, conservando trajes e tradições que se estenderam ao Estado brasileiro da Baía (cite-se como exemplo o turbante que as baianas usam), dando origem a cultos sincréticos.
Portugal manteve a sua presença e conservou um forte no Benim até 1961, altura em que foi anexado pela jovem e independente República do Benim, o Forte de São João Baptista de Ajudá, que acabaria por ser queimado pelos dois funcionários portugueses ali residentes aquando da sua anexação, de acordo com a ordem expressa de Salazar.
Mantivemos ali também uma guarnição militar, que viria a ser substituída permanentemente por dois funcionários coloniais a partir de 1911 por decreto da I República Portuguesa. Salazar nunca reconheceu a anexação do forte e Portugal só viria a reconhecê-la em 1985. Dois anos mais tarde, a Fortaleza de Ajudá foi obra de reparo e restauro por orientação e recursos da Fundação Calouste Gulbenkian. Hoje a ex-Fortaleza Portuguesa sedia o “Museu de História de Ouidah”.
A presença lusa naquelas paragens ainda é visível na toponímia de algumas cidades, avenidas e locais, apesar de alguns nomes nos soarem diferentes. Um escrivão português que para ali foi destacado no Séc.XIX, Francisco Félix de Souza, ao comportar-se como um autêntico Vice-rei, deixou por lá muita descendência e ao que parece gente ilustre, que de “de Souza” passou a “Dessussa”. A história do Benim não pode ser desligada da do Togo, Gana e Nigéria, países do Golfo da Guiné onde os portugueses de então se abasteciam de escravos.
Importa esclarecer que a escravatura já existia ali antes da chegada dos portugueses e que se fomos nós e os espanhóis que a tornámos global, também fomos os primeiros a aboli-la pelo punho do Marquês de Pombal a 12 de Fevereiro de 1761, 102 anos antes da abolição decretada pelo Presidente norte-americano Abraham Lincoln. Nada será válido para justificar a escravatura, mas se alguns portugueses lucraram com ela, o que não duvidamos, outros houve que dela colheram melhores benefícios e por mais tempo, os mesmos que se tornaram nossos fregueses assíduos. Certamente não será preciso dizer quem são, "está na cara", como dizem os nossos irmãos brasileiros. Infelizmente a escravatura continua, pelo que é preciso denunciar e combater o tráfego de seres humanos por toda a parte.

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