Hoje, para espanto nosso,
foi o dia do Benim, país da costa ocidental de África cuja história se encontra
interligada com a portuguesa, do qual recebemos perto de 300 visitas.
Desconhecemos o porquê do seu interesse mas damos as nossas boas-vindas a todos
os benineses. País sustentado por uma economia de sobrevivência, o Benim que já
foi Mina e Daomé, entreposto luso para o embarque de escravos e colónia
francesa, tomou o seu primeiro contacto com a civilização europeia através dos
navegadores portugueses que para lá rumaram desde o Séc.XV (por curiosidade e interesse histórico, vale a pena comparar a construção acima com as visíveis no porto palafítico da Carrasqueira /Alcácer do Sal).
Dali viriam a ser sequestrados
muitos escravos destinados ao Caribe e às Américas, gente que levou consigo
pormenores da sua religiosidade ancestral como o vudu. Alguns destes escravos
eram muçulmanos e sabiam escrever em árabe, conservando trajes e tradições que
se estenderam ao Estado brasileiro da Baía (cite-se como exemplo o turbante que
as baianas usam), dando origem a cultos sincréticos.
Portugal manteve a sua
presença e conservou um forte no Benim até 1961, altura em que foi anexado pela
jovem e independente República do Benim, o Forte de São João Baptista de Ajudá,
que acabaria por ser queimado pelos dois funcionários portugueses ali
residentes aquando da sua anexação, de acordo com a ordem expressa de Salazar.
Mantivemos ali também uma
guarnição militar, que viria a ser substituída permanentemente por dois funcionários
coloniais a partir de 1911 por decreto da I República Portuguesa. Salazar nunca
reconheceu a anexação do forte e Portugal só viria a reconhecê-la em 1985. Dois
anos mais tarde, a Fortaleza de Ajudá foi obra de reparo e restauro por
orientação e recursos da Fundação Calouste Gulbenkian. Hoje a ex-Fortaleza
Portuguesa sedia o “Museu de História de Ouidah”.
A presença lusa naquelas
paragens ainda é visível na toponímia de algumas cidades, avenidas e locais, apesar
de alguns nomes nos soarem diferentes. Um escrivão português que para ali foi
destacado no Séc.XIX, Francisco Félix de Souza, ao comportar-se como um
autêntico Vice-rei, deixou por lá muita descendência e ao que parece gente
ilustre, que de “de Souza” passou a “Dessussa”. A história do Benim não pode
ser desligada da do Togo, Gana e Nigéria, países do Golfo da Guiné onde os portugueses
de então se abasteciam de escravos.
Importa esclarecer que a
escravatura já existia ali antes da chegada dos portugueses e que se fomos nós
e os espanhóis que a tornámos global, também fomos os primeiros a aboli-la pelo
punho do Marquês de Pombal a 12 de Fevereiro de 1761, 102 anos antes da
abolição decretada pelo Presidente norte-americano Abraham Lincoln. Nada será válido para justificar a escravatura, mas se alguns portugueses lucraram com ela, o que não duvidamos, outros houve que dela colheram melhores benefícios e por mais tempo, os mesmos que se tornaram nossos fregueses assíduos. Certamente não será preciso dizer quem são, "está na cara", como dizem os nossos irmãos brasileiros. Infelizmente a escravatura continua, pelo que é preciso denunciar e combater o tráfego de seres humanos por toda a parte.
Sem comentários:
Enviar um comentário