quarta-feira, 31 de maio de 2017

PASTOR ALEMÃO: A INFRUTÍFERA E DESPUDORADA REDUÇÃO À RAIZ COMUM

PRÓLOGO: Este artigo, requerido por vários leitores amiudadas vezes, dá seguimento ao outro já editado em 15/06/2011: “PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS”.
O Pastor Alemão está a evoluir para a indiferenciação quando comparado com o Pastor Belga Malinois, apesar de nada lucrar com a similaridade e acabar encoberto por quem deseja imitar. Tempos houve em que as diferenças morfológica, psicológica e cognitiva entre as duas raças eram por demais evidentes, bastando para isso ver os registos fotográficos das décadas de 20 e 30 do século passado, altura em que o quase esquecido Stephanitz ainda pertencia ao mundo dos vivos e insistia na aprovação laboral como critério selectivo para a propagação do cão que idealizou e criou e, ler os relatos das façanhas de uma e de outra raça até aos anos 60.
O Pastor Alemão e o Malinois, apesar da sua raiz comum, são cães diametralmente opostos pelos critérios selectivos que erigiram cada uma das raças e só a bastardia entre ambos poderá transmitir reciprocamente os méritos de uns para os outros, crime que se pratica há anos nas traseiras das companhias cinotécnicas profissionais, às escondidas e à boca calada como se quem comanda jamais tivesse conhecimento desses actos. Mais do que exemplares sublimes, ao invés de receberem o melhor dos seus diferentes progenitores, estes híbridos acabam por espelhar comportamentos mais próximos da impropriedade que da soma das virtudes procuradas, quando produto de 1ª geração.
Como se já não bastasse o experimentalismo, o logro e a fraude perpetrados por alguns cinotécnicos menos escrupulosos e desesperados, que os há por toda a parte e de quem dificilmente nos livraremos, seguem-se-lhes agora os criadores de cães de conformação, também apostados em criar CPA’s voluntária ou involuntariamente mais próximos do Pastor Belga, surripiando-lhes carácter, equilíbrio, concentração, disponibilidade e valentia, assim como rusticidade, resistência, altura, peso e envergadura, a excelência de aprumos, a convexidade necessária, a correcta distribuição do peso, a prontidão de arranque e a sua força de impacto, o que tudo somado dá um cão imprestável, de biomecânica sofrível, doente e com pouca esperança de vida, por demais nervoso, ruidoso e inseguro como tem vindo a ser denunciado internacionalmente e universalmente reconhecido, uma sombra do que foi, um pastor virtual ou um nanopastor, quiçá próprio para caçar pigmeus e impróprio para enfrentar e vencer meliantes, infractores e invasores saudáveis entre os 70 e 90 kg.
Os Pastores Alemães provenientes destas linhas, exceptuando o indesejável abatimento de metacarpos, o tremendo desequilíbrio para a garupa, a excessiva angulação dos membros posteriores, o jarrete de vaca, o tipo de manto e a sua cor, lembram parcialmente os “alsacianos” dos finais da década de 50, também eles leves e mal vestidos de carnes, contudo operacionais por não se verem a braços com os exageros morfológicos que vitimam agora os seus sucessores. Nas autoproclamadas linhas de trabalho a semelhança com os “alsacianos” ainda é maior, muito embora seja mais na apresentação que no conteúdo, porque os cães antigos estudavam os seus inimigos e os actuais partem à desfilada, os primeiros eram silenciosos e os de hoje fazem muito alarde do pouco que fazem, sendo por isso mais de alarme que de guarda, até porque a sua força de mordedura não é nada por aí além, tendem ao golpe único, ao ataque denunciado e falta-lhes tenacidade quando enfrentam forte oposição, apesar de poderem ficar suspensos por algum tempo em nós de corda, churros e mangas, o que “é bom para inglês ver” mas que na prática poderá vitimá-los.
Um Pastor Alemão adulto com apenas 30 kg é uma biruta (manga de vento) quando comparado com um Malinois, porque nos ataques, em particular nos lançados, ao ser mais lento e necessitar de se arrumar (travar) para efectuar a captura, tende a sofrer mais dolo do que aquele que provoca (benditas simulações!). Temos por experiência própria, comprovada ao longo de várias décadas, considerando a menor velocidade do CPA em relação a outros e a necessidade de uma maior força de impacto, que nenhum macho adulto deverá pesar menos de 33.3 kg (1.8), que o ideal é que tenha um coeficiente de envergadura de 1.7, valor que se encontra pela divisão da sua altura pelo peso com o animal musculado e não gordo, pelo que um Pastor de 65 cm de altura deverá pesar 38.2 kg para o efeito e não 32.5 ou 34.2 kg como tantas vezes temos visto (menos mal se tiver 36.1 kg).
É por demais evidente que não podemos carregar de músculos um cão que se apresenta desequilibrado para a traseira, parcialmente côncavo, com o peito estreito ou invertido, com as mãos atiradas para fora e abatimento de metacarpos (por vezes com os dedos abertos), costelas planas, descodilhado e com jarrete de vaca, muito menos consentir que engorde, por que em ambos os casos e mais depressa no último acabará lesionado ou virá a ostentar bolsas de líquido sinovial nas articulações. Não restando outra hipótese aos aficionados do actual Pastor Alemão, acabarão por optar no trabalho por exemplares mais leves considerando o menor risco de lesão. E quando alguns exemplares saem grandes, não há como hesitar: há que dar-lhes fome! E quando assim é, sob que parâmetros os avaliaremos? Obviamente pelos do Malinois! Porque terá o cão de padecer por lhe haverem transmitido uma estrutura morfológica que o condena, será justo, fará algum sentido? Os criadores dos actuais CPA’S, considerando o que têm para oferecer, lembram aqueles que sem amor próprio não conseguem pôr-se em forma, ficando eternamente à espera que sejam amados pelos outros, carentes, insatisfeitos e revoltados.
Em síntese, o Pastor Alemão precisa de voltar à qualidade original, de se libertar de décadas de involução e ser igual ao que sempre foi: um excelente cão de utilidade e trabalho, o que implicará na reforma e eliminação de critérios selectivos que lhe são estranhos e que até hoje mais o condenam. Ele não precisa de ser igual aos outros mas igual a si próprio, já que nasceu e veio para estabelecer a diferença!

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