O adestrador é um sujeito que morre com muitas históricas por contar para não ser confundido como um trocista ou um inconveniente. No seu métier, tanto pela positiva como pela negativa, não são os cães que o surpreendem, são os donos que não param de surpreendê-lo através de acções no mínimo hilariantes, por vezes trágicas, consoante o seu despropósito, destacando-se nelas as mais insólitas, aquelas que são uma entre milhares e que o deixam sem saber o que fazer, se rir ou lamentar. Imagine-se um condutor a quem é pedido que conduza o seu cão em liberdade (solto) na via pública e que é secundado por dois binómios constituídos por duas cadelas, sendo que uma delas está com o cio. Todos atravessam a passagem de peões e a cadela com o cio, por inexperiência da sua condutora ocasional, urina sobre a passadeira. Sem que o seu condutor se aperceba, o cão que ia na frente volta atrás e retorna à passadeira pedonal (a oito metros de distância), lambendo ali a urina deixada pela cadela, numa hora de bastante tráfego rodoviário. Despertado para a realidade ao sentir a falta do cão, o seu condutor acabou por ir buscá-lo, livrando-o de sérios apuros (há dias de sorte!). “Junto” não será ombro direito do cão, joelho esquerdo do dono? O condutor em questão não foi objecto de qualquer correcção da minha parte por via do caricato da situação e por não querer chamar à atenção dos restantes transeuntes para o seu despropósito, já que não é todos os dias que se assiste a tamanha insanidade – a distracção não terá limites? - Pelos vistos parece que não! Diz-se por aí “que a distracção é a morte do artista”. No adestramento, a distracção do condutor pode resultar na morte do cão.
domingo, 28 de maio de 2023
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