Se
eu quero um cão para segurança de pessoas e bens tenho todas vantagens se o
treinar durante a noite, mas se apenas procuro um cão de companhia ou outro que
precisa de ser sociabilizado, nada melhor que treiná-lo à luz do dia, quando as
pessoas circulam e se entregam aos seus múltiplos afazeres, não esquecendo que
os grandes aglomerados humanos deverão também ser procurados para o mesmo
efeito. Ontem a Maria enviou-me as fotos que ilustram este texto e que se
reportam a um treino doméstico nocturno que efectuou com o seu CPA Dobby, cão
de exagerada propensão protectora, que ao trabalhar àquelas horas e para todos os
efeitos acabou por efectuar uma ronda nocturna, quando mais importava que aprendesse a respeitar os comuns transeuntes e a advertir aqueles que tentem abusar dele dele ou que desrespeitem a sua dona, escorraçando-os por modo próprio quando se constituírem
em séria ameaça. Pondo de parte estes esclarecimentos técnicos, este treino
nocturno serviu para uns tantos exercícios de ginástica, para reforço da
liderança e para a instalação do “quieto” incondicional, mesmo com gatos na
frente do nariz do cão. A foto abaixo reporta-se a um desses momentos, com um
gato fugitivo escondido debaixo dos carros e o cão prontinho para lhe dar caça.
Tudo acabou na santa paz porque o condicionamento prevaleceu sobre os
instintos.
Por
variadas razões operacionais e por outras ligadas à sobrevivência dos cães,
assim como ao seu desencarceramento, ensinamos, treinamos e preparamos os
nossos para alcançarem os mais variados equilíbrios, a não temer as passagens
estreitas e oscilantes e a vencer através da experiência feliz os mais variados
traumas e ansiedades, pelo que, quando devidamente preparados, são capazes de
inverter comodamente a marcha em superfícies elevadas com apenas 10 cm de largura.
Se
os cães fossem tanto ou mais inteligentes do que nós seriam eles a treinar-nos
e não o inverso. Eles dificilmente conseguem diferenciar a ficção da realidade,
particularmente quando lhe contamos histórias com cenários concretos e com
finais já conhecidos. Assim, quando treinamos os cães nos múltiplos obstáculos
elevadores, para além de os ginasticarmos e procedermos à superação dos seus
medos, estamos a promovê-los socialmente em relação aos homens, a eliminar-lhes
o receio do bípede que se ergue bem mais alto do que eles, a transmitir-lhes
uma ideia de superioridade a partir dos locais altos onde se encontram – colocar
sistematicamente um cão de guarda num lugar alto é aumentar-lhe os seus índices
de prontidão e o ímpeto das suas arremetidas. Há cães que instintivamente
saltam bem alto para cima dos seus donos, desafio que não deve ser consentido a
todos devido ao perigo que representa, já que cão que se autopromove tende a
subjugar o dono.
Resta agradecer à Maria o trabalho doméstico desenvolvido com o seu cão e incentivá-la a continuar, porque quem trabalha à noite acaba por resplandecer durante o dia, uma vez que as grandes vitórias assentam por vezes em pequenos nadas. Força Maria, não te esqueças de mandar cumprimentos meus à Zezinha.
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