Numa manhã dominical, enquanto
aguardava a chegada de um amigo numa esplanada, olhei casualmente para a
passagem de peões mais perto e vi um proprietário canino a atravessá-la com o
seu cão como se vê na foto abaixo, com o animal adiantado em relação ao dono a
todo o comprimento da trela extensível, leviandade e despropósito de possíveis
consequências funestas, porque colocava em sério risco a vida do pequeno cão,
que para além de ser pouco visível, poderia assustar-se por várias razões e
fugir para o lado errado, vindo a ser atropelado antes do seu dono ter tempo de
recolher a trela. Perante tal irresponsabilidade e possibilidade calei em mim
um ou dois impropérios, mais por conveniência do que por livre vontade.
E como ver mal ao longe
tem destas coisas, não é que o cavalheiro em questão era o amigo que
aguardava?! Ainda antes de me dar os bons-dias e de tomar o café matinal, já
estava com um responso de todo o tamanho, por ter sido irreflectido
e irresponsável, muito embora o seu pior defeito seja ser mandrião e detestar
ser incomodado. Há muita gente assim e por causa disso há quem diga que o pau é
o pai da humanidade e o garante da boa ordem, o que aliás está politicamente na
moda, quiçá por causa dos exageros. O nosso amigo, por ser quem é e ser fiel a
si próprio, não trouxe o cão ao seu lado, como era sua obrigação, para não se
incomodar a pedir e garantir o “junto” do animal. Verdade seja dita, com um cão
assim tão pequenito, sentir-me-ia mais seguro se atravessasse a passadeira com
ele ao colo!
O comando de “junto”, de
quem se diz ser uma das pedras basilares da obediência a ministrar a um cão em
paralelo com o comando de “aqui”, sendo próprio para as deslocações binomiais
na via pública, torna-se obrigatório nas passadeiras para peões e em todas as
situações onde importe proteger os cães ou proteger outrem das suas arremetidas
porque, para além de ser um comando operacional, é um comando proeminentemente
social e visa a coabitação harmoniosa entre pessoas e animais que a sociedade
não dispensa. Terá o nosso amigo aprendido a lição? Lá aprender, aprendeu, mas
a sua natureza tende a falar mais alto e é difícil de sufocar (já me vieram
dizer que ao sair daquele café fez exactamente o mesmo). E se isto é verdade,
Deus dê paciência a quem ensina e muita sorte aos cães!
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