terça-feira, 16 de outubro de 2018

OS CÃES E AS PALAVRAS

ASHLEY PRICHARD (na foto seguinte), candidata a um doutorado no Departamento de Psicologia da UNIVERSIDADE DE EMORY/Atlanta/Georgia/USA, revelou num comunicado à imprensa um estudo que empreendeu, os seus objectivos e conclusões, que foram publicados na revista FRONTIERS IN NEUROSCIENCE. Os propósitos deste estudo foram, segundo as palavras da sua principal autora, os seguintes: “Muitos donos de cães acham que seus cães sabem o significado de algumas palavras, mas realmente não há muitas evidências científicas para sustentar isso" e “Queríamos obter dados dos próprios cães - não somente os relatórios dos seus proprietários”. Apesar do esforço desta cientista, ainda que os cães respondessem a algumas palavras, o grau com que as entenderam e processaram continua um mistério.
Os cientistas valeram-se nos seus experimentos de donos e animais, pedindo aos primeiros que ensinassem aos animais participantes um par de palavras. Os donos treinaram os seus cães para aprender o nome de dois brinquedos e o treino foi dado como suficiente quando os animais consistentemente retornavam com o brinquedo indicado pelo seu dono, abandonando o outro. Os dois brinquedos, para além da forma, diferiam na textura, um era macio e o outro duro, tudo para facilitar a identificação pelos cães. Com os cães no interior de uma máquina de ressonância magnética e a observar o que faziam os seus donos, estes mostravam-lhes cada um dos brinquedos brinquedo e associavam-lhes o seu nome, “macaco” e “porquinho”.
Como parte do estudo, foi também pedido aos proprietários que verbalizassem nomes sem sentido, tais como “bobbu” e “bodmick, o que resultou num aumento da actividade neural canina, aumento que acontece nos humanos como reacção às palavras que já conhecem, o que comprova que os cães experimentam um efeito oposto. Sobre este resultado, Prichard comentou: “Esperávamos ver os cães a discriminar neuralmente as palavras que conhecem e as que não conhecem” e “O que é surpreendente é que o resultado é oposto ao encontrado em humanos - as pessoas geralmente mostram uma maior activação neural para palavras conhecidas do que para palavras novas."
Na notícia que nos foi adiantada pela UNITED PRESS INTERNATIONAL (UPI), diz-se que “provavelmente os cães prestam maior atenção às palavras novas porque têm intenção de aprender e de agradar aos seus donos”, probabilidade que a nosso ver pode ser outra e estar ligada à dependência canina, à sua sobrevivência e à necessidade de aprendizagem com os humanos, já que os cães têm poucos instintos e não os seguem cegamente. Em metade dos participantes caninos, o aumento de actividade localizou-se no córtex parietal e temporal. Os cientistas acreditam que o córtex parietotemporal é semelhante ao giro angular, a porção do cérebro humano responsável pelo processamento das diferenças lexicais. Outros cães experimentaram aumentos de actividade neural noutras partes do cérebro, incluindo o córtex temporal esquerdo, amígdala, núcleo caudado e tálamo. Raças diferentes podem processar palavras de forma diferente. "Os cães podem ter capacidades  e motivações diferentes variadas para aprender e as entender palavras humanas, mas parecem ter uma representação neural para o significado das palavras que foram ensinadas, algo para além de uma mera resposta pavloviana de baixo nível", disse GREGORY BERNS (na foto abaixo, primeiro da esquerda), neurocientista da Universidade de Emory.
Enquanto este estudo sugere que os cães são capazes de processar palavras, estudos anteriores mostraram que os cães prestam mais atenção a sinais visuais e a cheiros. "Quando as pessoas querem ensinar um novo truque aos seus cães, elas geralmente usam um comando verbal porque é isso que nós os humanos preferimos", disse Prichard. "Do ponto de vista do cachorro, no entanto, um comando visual pode ser mais eficaz, ajudando o cão a aprender o truque mais rápido".
Ao longo da nossa existência, enquanto centro de adestramento canino, visando a celeridade do treino e a melhor compreensão canina, sempre juntámos aos comandos verbais os gestuais correspondentes. Para além desta preocupação pedagógica, visando a sobrevivência canina e o auxílio a prestar pelos cães, perante a necessidade de um “PLANO B”, cada uma das linguagens surgia como opção à outra, o gesto substituía a palavra e vice-versa, aumentando assim a possibilidade na transmissão das ordens e por conseguinte a probabilidade de êxito binomial. Ávidos de novas descobertas científicas, aguardamos ansiosamente novos desenvolvimentos e progressos.

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