terça-feira, 2 de agosto de 2016

WHO MAKES THE DELIVERY: CALIMERO OR MR. BEAN?

Deste que tive conhecimento do abate dum Husky perdido por um polícia numa localidade inglesa, como se fosse um animal perigoso, fiquei com a ideia do medo que alguns britânicos nutrem pelos cães, facto que me surpreendeu pelo número de raças caninas que aquelas Ilhas deram ao mundo. Penso que esse medo é mais assaz entre os citadinos, que há muito perderam o contacto com o campo e os animais (julgo não estar enganado).
É notícia em quase todos os tablóides britânicos online com uma secção dedicada aos animais de companhia, o resultado dum inquérito feito junto dos carteiros acerca dos ataques caninos de que têm sido alvo. Depois de algum suspense, é-nos revelada a raça que mais atacou aqueles funcionários do Royal Mail: surpreendentemente o Labrador Retriever!
A raça é autóctone da Commonwealth (Canadá) e no ano passado foram registados no Kennel Club britânico 32.507 exemplares, o que a torna na mais popular do Reino Unido e possivelmente a mais conhecida. Todos sabemos que os Labradores são por norma simpáticos, pacíficos e muito comilões, havendo quem lhes chame por chacota de “porcos que ladram”, porque insatisfeitos com a quantidade de ração que lhes é recomendada, não hesitam em foçar por toda a parte, tal qual suínos à cata de bolota, e por outros pormenores que não vale a pena mencionar, ligados ao seu peso, gula e rapidez em comer.
Todos sabemos que existe uma relação entre o impulso ao alimento e o impulso à luta, que quem mal usa os seus dentes para comer, dificilmente os usará para outra coisa, sendo o inverso também verdade, o que possibilita transformar os Labradores em cães de guarda (já treinámos uns quantos). Contudo, apesar de atacarem como os cães criados para esse desempenho, são extraordinariamente corruptíveis e tendo como optar, preferirão encher a barriga do que guardar ou atacar seja o que for, preferindo despender energia a fazer a digestão do que gastá-la em correrias sem petisco. E depois de gordos, ficam de “bem com vida” e a sua disponibilidade é bem menor. À parte disto, enquanto Retrievers, mantêm o instinto de presa e adoram transportar.
Naturalmente cativos ao alimento e “viciados” no transporte, facilmente são distraídos do seu fervor guardião, pelo que têm sido desprezados na guarda e aproveitados para o que nasceram: para a detecção e o transporte. A caça aos carteiros britânicos só pode resultar do seu despreparo e desconhecimento destes cães, porque doutro modo jamais seriam mordidos, a menos que um estranho e único fenótipo esteja presente nos Labradores britânicos ou a entrega do correio tenha vindo a ser feita pelo Calimero ou por Mr. Bean, o primeiro porque treme em demasia e segundo por ser meio desconsertado.
Ao que tudo indica, a “saga dos cães perigosos”, tão amplamente divulgada pelos media ocidentais, sucedânea da fábula do “Lobo-Mau”, está a surtir tal efeito que até o mais manso dos cães é visto como uma fera no Reino de Sua Majestade, algo para o qual temos um provérbio: onde canta galo, não canta galinha, pois com dois biscoitos ou com o arremesso de uma simples garrafa de plástico se anula o querer de um exaltado Labrador. De certa forma o Reino Unido é terra de fenómenos, cite-se como exemplo o “Monstro de Loch Ness” e o número de fantasmas que assolam os seus castelos.     

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