Apesar das sociedades
ocidentais estarem cada vez mais violentas, a venda e a incitação à violência
não param de aumentar, particularmente entre os adolescentes que mais cedo
começam a matar, sucedendo o mesmo nas reinventadas sociedades teocrático-repressivas
que há mil e quatrocentos anos apelam ao martírio, justificam o assassinato e
que fazem do castigo justiça. A escalada global da violência atinge também
Portugal, cuja sociedade se encontra fragilizada pela novidade de conceitos e
pela ausência de parâmetros, inundada por modelos sociais e familiares alheios,
para os quais não se encontrava e não se encontra preparada. Diante desde
espectro a solução é simples: ou acabamos com a violência ou ela acabará
connosco!
A proliferação da pseudonovidade
e a má qualidade da informação têm sido responsáveis pelo agravamento do
fenómeno, bombardeio que tem vindo a fragilizar as famílias e a dotar crianças
e jovens dum estatuto de “geração espontânea”, como se não devessem obediência
a ninguém, os seus educadores pertencessem a um modelo há muito ultrapassado e
tudo lhes fosse permitido. Tardiamente arranjámos leis e estatutos para os
proteger mas ainda não encontrámos meios para nos defendermos das suas
arremetidas e abusos, antídotos seguros para o seu desnorte, desadaptação, pouca
aplicação, desinteresse, revolta, suicídio e outros crimes (os professores e
outros pedagogos que o digam!).
Algo vai ter que mudar na
família, na educação, na escola, na sociedade e na política dos homens e
mulheres do amanhã, porque a presente utopia tende a ultrapassar a mais
arrojada das anarquias, a exacerbar o culto individual em detrimento do
bem-estar e esforços colectivos. Não temos como pretensão mudar o mundo mas
podemos valer a muitos e contribuir para o decréscimo da violência. E quando
dizemos nós, estamos a referir-nos aos adestradores, nomeadamente os civis ou
aqueles que trabalham para eles, a quem cabe nesta matéria um importante papel,
porque são duplamente pedagogos (de homens e cães), exercem profunda influência
nos mais jovens e tendem a constituir-se em exemplo para pequenos e graúdos,
não se escapando alguns e por causa disso a romances mais ou menos escaldantes.
Depois do que dissemos, perguntamos-lhes: o que é um bom cão? Um que morde em
quem queremos, um que não faz mal a ninguém ou outro que pode valer a muitos? A
resposta parece óbvia.
Na impossibilidade de
conserto dos desacertos familiares (as famílias monoparentais são cada vez
menos excepcionais e apenas apresentam como vantagem a menor carga fiscal) e da
ausência de modelos válidos para a educação dos mais novos, cuja plasticidade é
física, psicológica e cognitiva, cabe à escola um papel deveras importante na
sua formação, que deverá alterar, adaptar e actualizar os seus conteúdos de
ensino, contribuindo assim para o interesse e bem-estar dos seus alunos,
facilitando a sua futura integração na sociedade. Ainda hoje não compreendemos
porque se ensinam tão tarde e tão pouco ciências como a Física e a Filosofia,
porque não há no efectivo de cada estabelecimento de ensino um psicólogo.
Teremos falta deles ou só serão válidos nos casos patológicos?
Indubitavelmente subsiste
uma má relação entre a escola e as famílias, responsável muitas vezes pelo
subaproveitamento ou mau rendimento escolar dos alunos. E se as famílias causam
entraves à escola, então terá que ser ela a aproximar-se dos lares, colmatando
as insuficiências neles presentes, mormente de carácter afectivo e por
conseguinte de cariz social. Consegui-lo-á através de actividades divididas,
mercê de tarefas que englobem pais e alunos. Nisto poderá haver também uma
correlação entre o adestramento e a escola, considerando a paixão generalizada
das crianças pelos cães e a dificuldade que a maioria delas tem em ter o seu
próprio cão. É evidente que estamos a tratar da terapia canina, do despoletar
ou do aumento da serotonina que o simples afagar dos cães oferece e que poderá
pôr em sintonia pais e filhos, por norma com pouco tempo de convívio mútuo. À parte
disto e considerando o bem-estar dos cães, que melhor acção e campanha
poderíamos desenvolver contra os maus tratos e abandono que continuam
vitimá-los?
Decididamente o
adestramento não é uma panaceia mas também não deverá prestar-se ao eclodir ou
potenciação de comportamentos marginais, coisa fácil de acontecer quando
treinamos cães como armas e ensinamos os seus donos a usá-las, já que grande
parte deles não possui a maturidade, o equilíbrio e a responsabilidade para tal
empresa, o que mais agravará os seus desvios. Sim, o combate à violência passa
também pelos Centros Caninos, que ao invés de se dedicaram à experimentação
bélica, deverão usar os cães como uma ocasião para a paz e para a fraternidade,
desenvolvendo actividades binomiais, que sendo do agrado dos animais, serão de
grande préstimo para os seus donos e para a sociedade. O combate à violência
começa dentro de cada um de nós e se lhe dermos combate, menor será o número
daqueles que a abraçarão. O que mais valerá: o cão que guarda o seu quintal ou
aquele que sai dele para socorrer e resgatar quem se encontra em aflição? Os
cães já participaram em demasiadas guerras, há que sossegá-los para que
nos tragam a paz!
Sem comentários:
Enviar um comentário