terça-feira, 30 de agosto de 2016

ACABAR COM A VIOLÊNCIA ANTES QUE ELA ACABE CONNOSCO

Apesar das sociedades ocidentais estarem cada vez mais violentas, a venda e a incitação à violência não param de aumentar, particularmente entre os adolescentes que mais cedo começam a matar, sucedendo o mesmo nas reinventadas sociedades teocrático-repressivas que há mil e quatrocentos anos apelam ao martírio, justificam o assassinato e que fazem do castigo justiça. A escalada global da violência atinge também Portugal, cuja sociedade se encontra fragilizada pela novidade de conceitos e pela ausência de parâmetros, inundada por modelos sociais e familiares alheios, para os quais não se encontrava e não se encontra preparada. Diante desde espectro a solução é simples: ou acabamos com a violência ou ela acabará connosco!
A proliferação da pseudonovidade e a má qualidade da informação têm sido responsáveis pelo agravamento do fenómeno, bombardeio que tem vindo a fragilizar as famílias e a dotar crianças e jovens dum estatuto de “geração espontânea”, como se não devessem obediência a ninguém, os seus educadores pertencessem a um modelo há muito ultrapassado e tudo lhes fosse permitido. Tardiamente arranjámos leis e estatutos para os proteger mas ainda não encontrámos meios para nos defendermos das suas arremetidas e abusos, antídotos seguros para o seu desnorte, desadaptação, pouca aplicação, desinteresse, revolta, suicídio e outros crimes (os professores e outros pedagogos que o digam!).
Algo vai ter que mudar na família, na educação, na escola, na sociedade e na política dos homens e mulheres do amanhã, porque a presente utopia tende a ultrapassar a mais arrojada das anarquias, a exacerbar o culto individual em detrimento do bem-estar e esforços colectivos. Não temos como pretensão mudar o mundo mas podemos valer a muitos e contribuir para o decréscimo da violência. E quando dizemos nós, estamos a referir-nos aos adestradores, nomeadamente os civis ou aqueles que trabalham para eles, a quem cabe nesta matéria um importante papel, porque são duplamente pedagogos (de homens e cães), exercem profunda influência nos mais jovens e tendem a constituir-se em exemplo para pequenos e graúdos, não se escapando alguns e por causa disso a romances mais ou menos escaldantes. Depois do que dissemos, perguntamos-lhes: o que é um bom cão? Um que morde em quem queremos, um que não faz mal a ninguém ou outro que pode valer a muitos? A resposta parece óbvia.
Na impossibilidade de conserto dos desacertos familiares (as famílias monoparentais são cada vez menos excepcionais e apenas apresentam como vantagem a menor carga fiscal) e da ausência de modelos válidos para a educação dos mais novos, cuja plasticidade é física, psicológica e cognitiva, cabe à escola um papel deveras importante na sua formação, que deverá alterar, adaptar e actualizar os seus conteúdos de ensino, contribuindo assim para o interesse e bem-estar dos seus alunos, facilitando a sua futura integração na sociedade. Ainda hoje não compreendemos porque se ensinam tão tarde e tão pouco ciências como a Física e a Filosofia, porque não há no efectivo de cada estabelecimento de ensino um psicólogo. Teremos falta deles ou só serão válidos nos casos patológicos?
Indubitavelmente subsiste uma má relação entre a escola e as famílias, responsável muitas vezes pelo subaproveitamento ou mau rendimento escolar dos alunos. E se as famílias causam entraves à escola, então terá que ser ela a aproximar-se dos lares, colmatando as insuficiências neles presentes, mormente de carácter afectivo e por conseguinte de cariz social. Consegui-lo-á através de actividades divididas, mercê de tarefas que englobem pais e alunos. Nisto poderá haver também uma correlação entre o adestramento e a escola, considerando a paixão generalizada das crianças pelos cães e a dificuldade que a maioria delas tem em ter o seu próprio cão. É evidente que estamos a tratar da terapia canina, do despoletar ou do aumento da serotonina que o simples afagar dos cães oferece e que poderá pôr em sintonia pais e filhos, por norma com pouco tempo de convívio mútuo. À parte disto e considerando o bem-estar dos cães, que melhor acção e campanha poderíamos desenvolver contra os maus tratos e abandono que continuam vitimá-los?
Decididamente o adestramento não é uma panaceia mas também não deverá prestar-se ao eclodir ou potenciação de comportamentos marginais, coisa fácil de acontecer quando treinamos cães como armas e ensinamos os seus donos a usá-las, já que grande parte deles não possui a maturidade, o equilíbrio e a responsabilidade para tal empresa, o que mais agravará os seus desvios. Sim, o combate à violência passa também pelos Centros Caninos, que ao invés de se dedicaram à experimentação bélica, deverão usar os cães como uma ocasião para a paz e para a fraternidade, desenvolvendo actividades binomiais, que sendo do agrado dos animais, serão de grande préstimo para os seus donos e para a sociedade. O combate à violência começa dentro de cada um de nós e se lhe dermos combate, menor será o número daqueles que a abraçarão. O que mais valerá: o cão que guarda o seu quintal ou aquele que sai dele para socorrer e resgatar quem se encontra em aflição? Os cães já participaram em demasiadas guerras, há que sossegá-los para que nos tragam a paz! 

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