Parece que os portugueses têm
uma necessidade imensa de pranto e de lamento, no que me lembram a avó de uma
amiga minha, senhora já falecida, que se dizia santa e digna do Céu, ao ponto
de desejar a morte pelo tanto que padecia, à imitação do que Cristo havia
sofrido, pelas dores ósseas que a atormentavam e obrigavam a ficar imóvel,
ainda que às escondidas se levantasse e andasse normalmente quando assim o
entendia.
No embarque para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a situação
repete-se em eventos desde género, foram muitas as expectativas depositadas nos
nossos atletas, que contagiados e extasiados pela esperança à sua volta,
prometeram aquilo que não conseguiram: as medalhas e um lugar no pódio. Agora
com os jogos a chegar ao fim, onde falhámos estrondosamente por uma “unha negra”,
em que no melhor dos casos fomos os primeiros dos últimos, todos lamentamos a esperança
que em vão alimentámos. E como nesta coisas há sempre quem procure razões para
o logro e quem necessite de justificar-se, seguimos com atenção as declarações
dos nossos malfadados atletas, todas elas díspares e ao mesmo tempo iguais.
É evidente que no embrião
deste bruar de falsas expectativas está a comunicação social, hoje mais do que
nunca a necessitar de mais leitores e de maior número de audiências, a quem a
esperança e o infortúnio servem perfeitamente aos seus interesses, mormente
quando se trata de uma representação nacional e o patriotismo vem ao de cima.
Todos sabemos que justificar derrotas não é fácil, a menos que reconheçamos a superioridade
dos nossos opositores, reconhecimento quase omisso nas declarações dos nossos
atletas, que alvitraram outras justificações, umas já gastas e outras que chocaram
pela novidade e desplante, rematando-as quase todos com a importância de se
sentirem bem com eles próprios, como se tivessem ido ali representar-se a si
mesmos, custeado a sua deslocação e não tivessem que responder perante a Nação,
que não encafuou nenhum deles contra vontade num avião rumo às Olimpíadas -
todos foram para lá por terem alcançado os mínimos olímpicos exigíveis e estarem
em condições.
Confrontados com o logro,
uns disseram que a sua participação serviu de experiência, outros que passaram
o calendário de treino adoentados, houve quem se queixasse do clima, de um
treino inadequado por ausência de condições, do calendário das provas, quem se
contentasse por ter chegado a uma final, quem prometesse que para a próxima
faria melhor, quem nada dissesse depois de haver desistido e ainda quem
justificasse o seu mau resultado pela pequenez do País, segundo a saga do eterno
pranto que sempre nos tem acompanhado. Sobressai nisto tudo uma organização
nacional que nos parece mal estruturada, tirada do desenrasque e votada ao “deus
dará”, decorrente de uma filosofia e psicologia imprestáveis a quem a
possibilidade do milagre não é estranha. Não obstante, apesar dos 17 milhões de euros gastos, há que dar os parabéns à Telma Monteiro por nos ter dado a única medalha que alcançámos.
Corrijam-nos se estamos
enganados: a experiência ganha-se nos meetings internacionais; quem esteve
doente durante a preparação, não deverá participar; o clima é igual para todos
e num clima como o nosso há que aproveitar as estações do ano que mais se
aproximam do encontrado no local dos Jogos; se não há condições de treino, não
se justifica a participação dos atletas; o calendário das provas é o mesmo para
todos e considera os seus tempos de recuperação ; ser 4º numa final é ser
o primeiro dos últimos; promessas não são certezas; quem desiste deverá
justificar o porquê e a sua futura participação deverá ser repensada e, a grandeza de
um país não depende da sua área mas dos homens que nele habitam. Dos países
europeus e entre todos os participantes, fomos o último dos medalhados, em
parceria com o caribeño Trinidad y Tobago e com os Emirados Árabes Unidos,
apesar da Bélgica, da Croácia, da Holanda e da Sérvia terem uma área menor que
Portugal (há muitos mais).
Alguma coisa vai ter que mudar na filosofia e no trabalho
do Comité Olímpico Português, das Federações e também dos clubes, que parecem
meras agências de viagens (“O Rio de Janeiro continua lindo!”), mais voltadas
para o turismo do que para a representação e dignificação nacionais. É preciso mudar a política do desporto em Portugal, que carece de investimento e de ser levado a sério, mudança que deverá começar nas escolas, onde a Educação Física é desprezada e não conta para nada. Será que
em Tóquio iremos ter mais do mesmo? Deseja-se que não mas também já não
estranhamos!
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