Os nossos políticos ainda
não compreenderam que o País não é só praias, como ainda não conseguiram
arranjar solução para as assimetrias económicas e demográficas entre o litoral
e o interior, encontrando-se este quase deserto e esquecido como se tivéssemos
território a mais, parte geográfica de Portugal onde reside e resiste o que
resta das nossas florestas, agora fustigadas pelo fogo e entregues ao
infortúnio de bandidos, interesses e desinteresses. Ouve-se por todo o lado a
seguinte sentença: “aquele que larga o fogo devia ser deitado lá dentro para arder
junto”, como se a morte de meia-dúzia de alienados resolvesse o problema e a
prevenção dos incêndios fosse impossível. O problema é estrutural, exige um
reordenamento florestal capaz, medidas de prevenção adequadas, mais pessoal
devidamente disponível, preparado e apetrechado, assim como meios mais prontos
e eficazes no combate aos incêndios. Para além do excelente lençol freático que
temos, que faz inveja a muitos, a nossa floresta é outro bem precioso que somos
obrigados a conservar, porque doutro modo o deserto avançará impiedoso sobre
nós, como já está a suceder e acabará por levar-nos a água que não podemos
dispensar.
A classe política que
governa o mundo em que vivemos parece arredada dos graves problemas que afectam
o nosso Planeta, entretida que anda em jogos de poder, riquezas e contrapartidas,
como se não tivéssemos provocado profundas alterações climáticas e a Terra
tivesse recursos ilimitados. E perante a sentença popular aqui em voga, quem
deveríamos deixar arder junto com o fogo: os pirómanos ou aqueles deveriam
proteger as nossas florestas e não o fazem? A resposta parece óbvia. E quando desastres
destes acontecem, a solução é sempre a mesma: decretar o estado de calamidade!
Calamidade é não julgarmos aqueles que nos condenam. Portugal arde mais uma
vez, o saque continua e o País vai a pique. Precisamos de sangue novo e ainda não conspurcado para a resolução dos nossos problemas e do mundo.
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