quinta-feira, 18 de agosto de 2016

QUANDO 0+0=1 E 1+1=0

O medo e a valentia confundem-se como se confundem o medo e a agressividade caninos quando debaixo de ansiedade, muito embora já se tenham identificado 12 genes, altamente relevantes no seu genoma, responsáveis pelo ataque a pessoas e cães desconhecidos, genes que são consistentes com a via do núcleo do medo e da agressão neural conhecido como a amígdala do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Raros são os cães aprovados para guarda que não necessitam de ser instigados ou objecto de algum transtorno emocional para procederem aos seus ataques e capturas e, quando o fazem por si mesmos, fazem-no por via instintiva e dominados pelo medo atávico, o que os torna perigosos por actuarem a seu bel-prazer e de modo inesperado, dispensando a ordem expressa e a provocação, companheiros raros, vulgarmente entendidos como “muito-dominantes” e de difícil travamento, restando saber se o fazem por valentia ou pânico incontido, já que cegam nos seus arremessos, não se acautelam, não acusam os golpes de que são alvo, confundem alvos e agem como estivessem “entre a espada e a parede”, podendo ferir-se e até perecer no calor da peleja. Por todas estas razões sempre será mais fácil habilitar para o efeito cães “dominantes” e “submissos”, já que os “muito-submissos” render-se-ão de imediato à intimidação e os inibidos serão tomados pela angústia que os levará ao pavor, pondo-se de imediato em fuga.
O despertar para as acções caninas ofensivas deve tanto à intimidação como à instigação, não existindo grande diferença entre o stick do figurante  e o chicote usado pelo domador de leões, uma vez que ambos obtêm dos animais a mesma resposta. Independentemente disso, a instigação deverá ser sempre superior à intimidação, porque todos os cães tem medo e só ela os fará avançar, não sem que antes se apercebam dos pontos fracos da cobaia que lhes é apresentada, preferindo atacá-la no intervalo dos seus golpes (depois de desferidos e antes da sua repetição). Debaixo desta preocupação e apostados no êxito dos cães, os figurantes pouco ou nenhum dolo causam aos cães com o stick, que é fabricado mais para o show e não como arma de defesa e contra-ataque propriamente dita. A pronta decisão dos ataques caninos fica a dever-se à experiência do sucesso alcançado nas acções anteriores: os cães partem na certeza da vitória, porque tanto eles quanto os homens detestam ser surpreendidos e podem ser facilmente dominados pela perplexidade. Medo e agressão são duas faces da mesma moeda, diferentes manifestações com a mesma origem, a quem a ansiedade não é estranha. O que faz uma moeda ficar sempre virada para o mesmo lado é a batota; o que faz um cão atacar sistemática e ofensivamente é a intromissão humana.
Por tudo o que dissemos até aqui, o beneficiamento entre dois cães “dominantes” ou entre um “muito-dominante” e outro “dominante”, dificilmente gerarão cachorros com essas características e comportamento, porque o excesso de agressividade transmitido pela manipulação reverter-se-á em medo, aproximando os cachorros dos seus parentes silvestres, somente valentes quando agrupados. Já o beneficiamento entre um cão “dominante” e um “submisso” ou entre dois “submissos”, tendencialmente gerará cachorros “dominantes” pela parceria que diminui a ansiedade e não causa entraves à cumplicidade. Dito isto, considerando o uso dos cães para guarda, mais importa o domínio do impulso ao conhecimento do que a potenciação do impulso à luta.
Pelas conclusões a que chegámos facilmente se compreende da vantagem dos cães criados para guarda sobre os mestiços de lobo, que serão tanto melhores quanto maior for o seu percentual no lobo doméstico.

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