O medo e a valentia
confundem-se como se confundem o medo e a agressividade caninos quando debaixo
de ansiedade, muito embora já se tenham identificado 12 genes, altamente
relevantes no seu genoma, responsáveis pelo ataque a pessoas e cães
desconhecidos, genes que são consistentes com a via do núcleo do medo e da
agressão neural conhecido como a amígdala do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
Raros são os cães aprovados para guarda que não necessitam de ser instigados ou
objecto de algum transtorno emocional para procederem aos seus ataques e
capturas e, quando o fazem por si mesmos, fazem-no por via instintiva e
dominados pelo medo atávico, o que os torna perigosos por actuarem a seu
bel-prazer e de modo inesperado, dispensando a ordem expressa e a provocação,
companheiros raros, vulgarmente entendidos como “muito-dominantes” e de difícil
travamento, restando saber se o fazem por valentia ou pânico incontido, já que
cegam nos seus arremessos, não se acautelam, não acusam os golpes de que são
alvo, confundem alvos e agem como estivessem “entre a espada e a parede”,
podendo ferir-se e até perecer no calor da peleja. Por todas estas razões
sempre será mais fácil habilitar para o efeito cães “dominantes” e “submissos”,
já que os “muito-submissos” render-se-ão de imediato à intimidação e os
inibidos serão tomados pela angústia que os levará ao pavor, pondo-se de
imediato em fuga.
O despertar para as acções
caninas ofensivas deve tanto à intimidação como à instigação, não existindo grande
diferença entre o stick do figurante e o
chicote usado pelo domador de leões, uma vez que ambos obtêm dos animais a
mesma resposta. Independentemente disso, a instigação deverá ser sempre
superior à intimidação, porque todos os cães tem medo e só ela os fará avançar,
não sem que antes se apercebam dos pontos fracos da cobaia que lhes é
apresentada, preferindo atacá-la no intervalo dos seus golpes (depois de
desferidos e antes da sua repetição). Debaixo desta preocupação e apostados no
êxito dos cães, os figurantes pouco ou nenhum dolo causam aos cães com o stick,
que é fabricado mais para o show e não como arma de defesa e contra-ataque
propriamente dita. A pronta decisão dos ataques caninos fica a dever-se à
experiência do sucesso alcançado nas acções anteriores: os cães partem na
certeza da vitória, porque tanto eles quanto os homens detestam ser
surpreendidos e podem ser facilmente dominados pela perplexidade. Medo e
agressão são duas faces da mesma moeda, diferentes manifestações com a mesma
origem, a quem a ansiedade não é estranha. O que faz uma moeda ficar sempre
virada para o mesmo lado é a batota; o que faz um cão atacar sistemática e
ofensivamente é a intromissão humana.
Por tudo o que dissemos
até aqui, o beneficiamento entre dois cães “dominantes” ou entre um “muito-dominante”
e outro “dominante”, dificilmente gerarão cachorros com essas características e
comportamento, porque o excesso de agressividade transmitido pela manipulação
reverter-se-á em medo, aproximando os cachorros dos seus parentes silvestres,
somente valentes quando agrupados. Já o beneficiamento entre um cão “dominante”
e um “submisso” ou entre dois “submissos”, tendencialmente gerará cachorros “dominantes”
pela parceria que diminui a ansiedade e não causa entraves à cumplicidade. Dito
isto, considerando o uso dos cães para guarda, mais importa o domínio do
impulso ao conhecimento do que a potenciação do impulso à luta.
Pelas conclusões a que
chegámos facilmente se compreende da vantagem dos cães criados para guarda
sobre os mestiços de lobo, que serão tanto melhores quanto maior for o seu
percentual no lobo doméstico.
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