Abriu recentemente a
primeira praia para cães na Croácia, na pequena cidade de Crikvenica, no Mar
Adriático, melhor apetrechada para atender donos e cães que a sua congénere portuguesa
de Peniche, muito embora seja de louvar a iniciativa pioneira dos autarcas
penicheiros. Longe de ser um gueto, um picadeiro canino a céu aberto ou um
local próprio para recambiar os "tontinhos" dos cães, a praia de Crikvenica é um
lugar paradisíaco, de águas calmas, com o conforto necessário aos donos, perto
do centro da cidade, com bom estacionamento e aberta o ano inteiro, onde os
cães são mimados e tratados como reizinhos, tendo ainda à sua disposição um bar
(Monty Beach Bar) que lhes oferece cerveja e sorvetes apropriados, a primeira feita
a partir de carne de vaca ou frango, não-alcoólica e rica em de malte de cevada.
Como todos sabem a Croácia
é um dos destinos turísticos europeus, particularmente para os naturais do
centro e leste da Europa, onde os alemães assumem algum destaque. Diante desta
iniciativa só nos resta louvar os croatas pelo arrojo do seu empreendedorismo,
muito embora seja ainda possível fazer melhor.
Se há coisas em Portugal
que são directamente proporcionais, uma delas é a relação entre a falta de
iniciativa e a pobreza, no que não difere doutros iguais e doutros economicamente
mais débeis. Este ano exulta-se o aumento dos turistas e o seu contributo para
o equilíbrio das nossas contas públicas, aumento que ficou a dever-se a um
conjunto de factores externos e não a um maior investimento interno no sector.
Valeu-nos o facto do Norte de África se encontrar “a ferro e fogo”, a invasão de
refugiados nas praias mediterrânicas, a instabilidade grega, a insegurança em
França e os tumultos que afectam a Turquia, já que nada disso aqui acontece e
deseja-se que nunca se venha a verificar.
É do conhecimento geral
que os europeus continuam com uma baixa taxa de natalidade, que os cães têm
vindo gradualmente a ocupar o lugar dos filhos e que são cada vez mais os
turistas que se fazem acompanhar pelos seus aperfilhados amigos de quatro patas,
que tudo pagam e fazem para os ver felizes. Em simultâneo, ninguém duvida da
assimetria turística existente entre o Norte, Lisboa e o Algarve, apesar da
região nortenha ter muito para oferecer e continuar a ser muito procurada pelos
galegos, que ali se sentem como em casa. Estamos a falar da sinceridade e
afabilidade das suas gentes, da riqueza da sua cultura, etnografia,
gastronomia, história, património histórico e geografia. Mais do que doutros
eventos, tanto o Norte como o interior têm vivido turisticamente dos festivais
musicais que por lá se vão realizando, verdadeiros acampamentos sobre um
Portugal simultaneamente tão rico e tão esquecido, pleno de praias atlânticas e
fluviais. Há que inverter a tendência e dar a conhecer aos turistas o muito que
ainda temos para dar.
Quer se goste ou não, os
cães são um lobby em ascensão e carregam ao seu redor muita riqueza. Não há
nenhum país europeu ou ocidental que não tenha o seu Kennel Club, um calendário
regular de exposições e vários campeonatos desportivos caninos, o número de
cães de companhia e de terapia continua a crescer e os cuidados que lhe
dispensam são cada vez mais esmerados, razões mais do que suficientes para se
apostar na oferta de praias para cães e praias temos cá nós para dar e vender,
areais imensos e sem cascalho! Por tudo isto, quer entremos no circuito ou não,
costumamos abraçar as ideias quando elas já têm pouco para dar, de um momento
para o outro, será elaborado um roteiro turístico europeu onde constará o nome,
número e localização das praias que cada país tem à disposição dos nossos “fiéis
amigos”, que dessa forma melhor poderão acompanhar os seus donos por toda a parte.
Uma praia bem concebida
para cães, quer seja atlântica ou fluvial, não deverá ficar distante de outros
polos de interesse e deverá ter hotéis por perto, ter bons acessos e
estacionamento, ser cómoda e agradável para pessoas e animais, ter um
regulamento próprio, ser de amplo espaço, oferecer um conjunto de actividades
do agrado dos animais, ser sujeita a assídua higiene diária, distribuir sacos
para dejectos e oferecer múltiplos serviços, nos quais deverão estar incluídos
o apoio médico-veterinário (os veterinários portugueses passam o Verão a caçar
moscas ou vão de férias com magros orçamentos), um serviço de tosquias
(cabeleireiro), o aluguer e venda de acessórios (toldos, chuveiros de
água-doce, bonés, toalhas, bóias, trelas, brinquedos, biscoitos, etc.), um bar
à disposição para refrescamento de donos e cães e pessoal próprio para
esclarecimento e fiscalização, que obviamente deverá falar fluentemente outras
línguas para além da nativa. Também deverá ser considerada a venda de souvenires.
Se os cães são hoje tratados como filhos, considerando o seu bem-estar, as suas
praias deverão ser em tudo iguais às próprias para crianças.
Julgamos que um projecto
destes é fazível e rentável, como rentável continua a ser a “Baubeach”
italiana, que ano após ano tem melhorado a qualidade dos seus serviços e
aumentado os seus proventos. Projecto que não terá dificuldades em arranjar os
mais variados patrocinadores privados e públicos atendendo à sua natureza e
retorno económico. Há que aproveitar o momento! Quem tem capital para obra, tem
a vida facilitada e quem o não tem, desde que o projecto “tenha pernas para
andar” apresenta-o ao banco. Apesar do projecto ser um desafio para todas as
idades, ele cabe de feição aos jovens e aos veterinários empreendedores. Há que trocar o lamento
pela iniciativa, ousar ir para diante e apostar no futuro. E se nós não o
fizermos, outros virão alugar as nossas praias e fá-lo-ão.
Sem comentários:
Enviar um comentário