Quando decidi dedicar-me a
treinar cães a tempo inteiro, já lá vão algumas décadas, julguei que iria ter
uma vida calma, aprazível e relaxante, longe do buliço urbano e dos seus
conflitos, rodeado dos animais que continuo a amar e de gente sensível,
sensata, alegre e feliz. Enganei-me com as letras todas, porque conheci donos
mais irracionais que os seus cães e cães mais ajuizados que eles, matéria mais
que suficiente para um cobiçado livro de humor, que ainda não publiquei por
respeito às suas verídicas personagens, ainda vivas e às quais desejo boa saúde
física e mental. Se começasse a levantar o véu, correria o risco de não me
conter e ficaria a rir-me por tempo indeterminado, agora que tudo já passou,
apesar de na altura não ter achado graça nenhuma (não há nada como o tempo para
sarar feridas).
Estava convencido até há
pouco tempo que já havia visto e ouvido de tudo relativo à antrozoologia, aos
exageros presentes na cinofilia e às diferentes compreensões do antropomorfismo,
também me enganei redondamente! Segundo faz saber o tablóide britânico “The
Guardian” (www.theguardian.com/lifeandstyle/dogs), que entrevistou alguns
destes novos “Anúbis”, há por aquelas paragens homens que se vestem, comportam
e identificam-se como cachorros, procurando viver em matilha quando possível,
devidamente ataviados e atrelados, brincando com brinquedos de borracha e
reclamando por festas, não dispensando o cuidado de um ou mais donos, com os
quais podem manter ou não relações sexuais e que são na sua maioria gays,
dizendo-se iguais, quando na rua, aos demais cidadãos, dando assim seguimento a
um apelo animal e instintivo, não-verbal e intuitivo que se presta aos seus
relacionamentos mais íntimos.
Decididamente a vida dos
futuros adestradores irá ser diferente. Imagine-se se o dono de um “cão” destes,
não o conseguindo treinar devidamente, procura os bons ofícios de um adestrador?
Há que estar preparado e ter algum cuidado na aplicação dos métodos,
nomeadamente do “reforço positivo”, pois não se sabe se será suficiente para
ladrarem e abanarem as suas caudas mecânicas de contentamento.
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