A Índia é realmente
incrível porque é simultaneamente longínqua e próxima, fácil de compreender e misteriosa,
onde a riqueza, a miséria, o ascetismo e a porcaria vivem lado a lado. Terra de
homens santos e antro de facínoras, de pompas inigualáveis e de desgraças
infindáveis: um retrato do mundo, do que temos e daquele que gostaríamos de
alcançar. Apesar de ser um pais que não pára de nos espantar, destaca-se ali a
relação harmoniosa entre as gentes e os diferentes animais, tão próxima que por
vezes parecem todos “farinha do mesmo” saco, numa desordem ordenada que sendo
de gritante paridade, choca os pruridos de muitos ocidentais, quiçá por provir
doutros valores culturais e religiosos, doutra visão cósmica, normalmente apelativa
à curiosidade e às expectativas juvenis dos que nascem do outro lado do mundo.
E já agora, a talhe de foice, falar inglês nalguns recantos daquele
subcontinente é atrair sobre si a dita ira presente no “quinto dos infernos” (vá-se
lá saber porquê!). Inglês por inglês, mais vale passar-se por ser quem é ou
então por norte-americano.
Certa vez alguém me disse,
referindo-se à empatia que mantenho com os animais, que se lhe dissessem que me
tinham visto montado num hipopótamo acreditaria, o que não deixa de ser um
exagero. Já na Índia e entre os indianos tudo é possível devido à coabitação
milenar entre humanos e não-humanos, não sendo de estranhar ver gente, civil e
militar, montada em toda a sorte de animais (avestruzes, búfalos, vacas, camelos
e elefantes), habilidade e conhecimento que nos deixam boquiabertos pela
simbiose atemporal que há muito perdemos, que empresta à Índia e aos seus
habitantes um colorido único e fascinante a tudo o que fazem, apesar da outrora
“Crown Jewel” ser também uma nação de cheiros, de bons e de maus.
Trabalhar no Sul da Índia
debaixo dum calor insuportável não é tarefa fácil para ninguém, muito menos
para os cães farejadores da Polícia do Estado de Karnataka (Estado que confina
a Noroeste com Goa), nomeadamente no Verão e em Bellary, lugar onde as
temperaturas são mais elevadas e o calor mais intenso. Sabendo disso, o Departamento
de Polícia daquela região dotou os canis de ar condicionado, já que alguns cães
sentem-se desconfortáveis e diminuem a sua eficiência em temperaturas iguais ou
superiores a 35 graus celsius. Atendendo à mesma razão, também a alimentação
destes animais merece cuidados especiais, sendo a sua dieta regular reforçada
com alimentos de maior teor nutricional, com glicose e vitamina D, para além
doutros aditivos. Sempre têm à sua disposição água fria, os seus repastos são
mais líquidos e três vezes ao dia é-lhes distribuído coco para combater a mais
que possível desidratação. Como se depreende, as actividades ao ar livre dos
cães estão restringidas ao início da manhã e à noite, porque forçá-los a
trabalhar noutras horas do dia poder-lhes-ia ser fatal.
É evidente que a maioria
dos indianos não usufrui nem usufruirá para breve destas condições (talvez nem
os tratadores destes cães as tenham dentro dos seus lares). Com o Verão à
porta, agora que a chuva parece ter-se-ido embora de vez, aconselhamos os nossos
leitores a manterem grandes quantidades de água fresca à disposição dos seus
cães, a alojá-los em locais arejados e afastados do Sol intenso,
particularmente os mais débeis, os obesos, os idosos, os de pêlo lanoso ou duplo,
os de cores melânicas e os braquicéfalos, animais que na época estival sofrem
em demasia com o calor e que mais facilmente entram em colapso. As nossas
actividades escolares no Verão sempre privilegiaram os horários matinais e
nocturnos, procurando também treinar em matas de maior altitude. Adiantamos
para os nossos leitores brasileiros, caso queiram visitar Portugal no Verão, a
prepararem-se para o calor, pois aqui ele é mais agressivo e menos húmido que o
verificado nos Estados do Centro-Sul brasileiros (chega a ser sufocante). E
sobre os cães da índia por agora é tudo.
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