Apetecia-nos dizer
e escrever umas tantas coisas em francês mas não o faremos por desuso da língua
e por falta de tempo. Parece-nos, oxalá estejamos enganados e com isto não queremos
dar razão à “Marie”, apesar dela dizer o mesmo, que os franceses perderam o orgulho
de ser quem são, envergonharam-se da sua história e cultura, como se a sua
grandeza fosse ofensa para os demais. Com isto também os seus cães foram
ultrapassados, nomeadamente o Beauceron, um molosso único na canicultura
europeia de grande potencial cinotécnico, cujas características físicas e
psicológicas ultrapassam em muito os seus congéneres doutros países e de
idêntico grupo somático, por ser comparativamente mais versátil. É por demais
evidente que os lupinos estão na moda, particularmente os belgas, que para além
dos atributos que lhes reconhecem são ainda baratos. Já lá vai o tempo em que
víamos Beaucerons por cá e não nos esquecemos daqueles que nos caíram em mãos,
memória grata pelo muito que nos deram.
Quantos cães de 45
a 50 kg são tão activos, disponíveis, ávidos de trabalho, prontos a agradar,
voluntariosos, obedientes, inteligentes, fiáveis, atletas e bravos como ele? Eu
sou também um apaixonado de Rottweilers e conheço como ninguém as virtudes e
defeitos deste magnífico molosso alemão, hoje tão mal quisto por incompreensão
e medo, um gigante da maior confiança dentro do mundo canino mas que acusa de
sobremaneira o esforço e o calor, que apresenta dificuldades natatórias, que
resiste a exercícios continuados e caso não seja trabalhado, é pouco flexível e
os seus andamentos naturais pouco extensos, apesar de extremamente obediente e
devotado ao dono, sendo capaz de se estoirar para lhe agradar ou cumprir uma
ordem. Comparando-o com o Beauceron e pondo de parte as afinidades, o cão
francês é-lhe muito superior porque é mais activo, rápido, elástico, resistente
e atleta, sendo um cão que adora e não dispensa o exercício diário
É verdade que é um
guarda inato, que exige uma liderança firme, espaço para se movimentar e que
quando rijo é obrigado à sociabilização com outros cães. Contudo é extremamente
obediente e aprende com muita facilidade, apresenta uma memória mecânica
excepcional, tem pés para todo o terreno, suporta sem dificuldades a época
estival e as amplitudes térmicas, nada satisfatoriamente, presta-se como poucos
à tracção, tem igual desempenho em diferentes altitudes, ultrapassa sem
dificuldades toda a sorte de obstáculos tácticos e depois de treinado tem uma
paciência enorme para as crianças, com as quais manterá uma relação
simultaneamente permissiva, cúmplice e guardiã, por ser seguríssimo,
extremamente observador e menos sujeito a provocações que outros, não ladrando
ao acaso.
Perante tamanha
qualidade pergunta-se? Porque é tão pouco conhecido para além das fronteiras do
seu país? Será por ter passado à história e ser um inadaptado? Não contribuiu
ele para a formação doutras raças modernas? Será que já atingiu o pique da sua
evolução? Caberá aos canicultores franceses responder. Para nós ele é pouco
conhecido porque os criadores gauleses pouco ou nada fazem para divulgá-lo e
melhorá-lo, de tão entretidos que andam a passear os cães doutros. Acreditamos
e sabemos que tem potencial para inúmeras tarefas por ser versátil, não duvidamos
que ainda tem muito para dar e pode continuar a ser usado como melhorador de
algumas raças e contribuir para a futura formação de outras. Se tivéssemos que
optar entre um Malinois e um Pastor de Beauce, optaríamos pelo segundo sem
margem para dúvidas, escolha que os nossos vizinhos aplaudiriam por se sentirem
menos incomodados e mais seguros.
De nada vale ter o
Beauceron dentro de portas e não o divulgar para o mundo, já que o mesmo se
passa com a língua francesa, que entrou em desuso internacionalmente. O Beauceron
aguarda os seus dias de glória que talvez cheguem no dia em que os franceses
acordarem do sono e da cegueira a que se encontram votados. Tempos houve em que a
França fazia a moda, hoje anda ao sabor da corrente, acorrentada com o que não
consegue suportar e alheada do seu verdadeiro valor. O desprezo pelo Beauceron é exemplo disso (exemplos não faltam!).
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