quinta-feira, 5 de maio de 2016

BEAUCERON: SANS JOURS DE GLOIRE?

Apetecia-nos dizer e escrever umas tantas coisas em francês mas não o faremos por desuso da língua e por falta de tempo. Parece-nos, oxalá estejamos enganados e com isto não queremos dar razão à “Marie”, apesar dela dizer o mesmo, que os franceses perderam o orgulho de ser quem são, envergonharam-se da sua história e cultura, como se a sua grandeza fosse ofensa para os demais. Com isto também os seus cães foram ultrapassados, nomeadamente o Beauceron, um molosso único na canicultura europeia de grande potencial cinotécnico, cujas características físicas e psicológicas ultrapassam em muito os seus congéneres doutros países e de idêntico grupo somático, por ser comparativamente mais versátil. É por demais evidente que os lupinos estão na moda, particularmente os belgas, que para além dos atributos que lhes reconhecem são ainda baratos. Já lá vai o tempo em que víamos Beaucerons por cá e não nos esquecemos daqueles que nos caíram em mãos, memória grata pelo muito que nos deram.
Quantos cães de 45 a 50 kg são tão activos, disponíveis, ávidos de trabalho, prontos a agradar, voluntariosos, obedientes, inteligentes, fiáveis, atletas e bravos como ele? Eu sou também um apaixonado de Rottweilers e conheço como ninguém as virtudes e defeitos deste magnífico molosso alemão, hoje tão mal quisto por incompreensão e medo, um gigante da maior confiança dentro do mundo canino mas que acusa de sobremaneira o esforço e o calor, que apresenta dificuldades natatórias, que resiste a exercícios continuados e caso não seja trabalhado, é pouco flexível e os seus andamentos naturais pouco extensos, apesar de extremamente obediente e devotado ao dono, sendo capaz de se estoirar para lhe agradar ou cumprir uma ordem. Comparando-o com o Beauceron e pondo de parte as afinidades, o cão francês é-lhe muito superior porque é mais activo, rápido, elástico, resistente e atleta, sendo um cão que adora e não dispensa o exercício diário
É verdade que é um guarda inato, que exige uma liderança firme, espaço para se movimentar e que quando rijo é obrigado à sociabilização com outros cães. Contudo é extremamente obediente e aprende com muita facilidade, apresenta uma memória mecânica excepcional, tem pés para todo o terreno, suporta sem dificuldades a época estival e as amplitudes térmicas, nada satisfatoriamente, presta-se como poucos à tracção, tem igual desempenho em diferentes altitudes, ultrapassa sem dificuldades toda a sorte de obstáculos tácticos e depois de treinado tem uma paciência enorme para as crianças, com as quais manterá uma relação simultaneamente permissiva, cúmplice e guardiã, por ser seguríssimo, extremamente observador e menos sujeito a provocações que outros, não ladrando ao acaso.
Perante tamanha qualidade pergunta-se? Porque é tão pouco conhecido para além das fronteiras do seu país? Será por ter passado à história e ser um inadaptado? Não contribuiu ele para a formação doutras raças modernas? Será que já atingiu o pique da sua evolução? Caberá aos canicultores franceses responder. Para nós ele é pouco conhecido porque os criadores gauleses pouco ou nada fazem para divulgá-lo e melhorá-lo, de tão entretidos que andam a passear os cães doutros. Acreditamos e sabemos que tem potencial para inúmeras tarefas por ser versátil, não duvidamos que ainda tem muito para dar e pode continuar a ser usado como melhorador de algumas raças e contribuir para a futura formação de outras. Se tivéssemos que optar entre um Malinois e um Pastor de Beauce, optaríamos pelo segundo sem margem para dúvidas, escolha que os nossos vizinhos aplaudiriam por se sentirem menos incomodados e mais seguros.
De nada vale ter o Beauceron dentro de portas e não o divulgar para o mundo, já que o mesmo se passa com a língua francesa, que entrou em desuso internacionalmente. O Beauceron aguarda os seus dias de glória que talvez cheguem no dia em que os franceses acordarem do sono e da cegueira a que se encontram votados. Tempos houve em que a França fazia a moda, hoje anda ao sabor da corrente, acorrentada com o que não consegue suportar e alheada do seu verdadeiro valor. O desprezo pelo Beauceron é exemplo disso (exemplos não faltam!). 

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