segunda-feira, 30 de maio de 2016

O CÃO AZUL: O SANTO GRAAL DO CPA

Já abordámos este tema em várias ocasiões e os artigos que publicámos acerca dele continuam a ser muito visitados. Trata-se do Pastor Alemão cinzento, entendido como azul, variedade muito rara e ligada a outras menos comuns, como são os casos da negra, da chocolate, da vermelha, da cor-de-areia e da proscrita branca. Dum momento para o outro, tal qual a “Febre do Ouro”, ocorrida na Califórnia ente 1848 e 1855, os criadores domésticos do CPA correm agora atrás dos poucos exemplares que nascem entre nós, não olhando a meios e desconsiderando despesas, tentando tirar partido da ignorância dos seus proprietários, que nem imaginavam existir Pastores Alemães assim (azuis), normalmente nascidos de progenitores da variedade cromática dominante (preto-afogueado), ainda que recessivos nesse factor.
É público como alcançámos os nossos pastores azuis, tirados a partir dos beneficiamentos entre os negros e os antigos lobeiros. As razões que nos levaram à sua procura e alcance prenderam-se com a necessidade de melhor compreendermos a evolução da raça, de descobrimos partes omissas na sua selecção e de entendermos o porquê dos critérios seguidos (filosofia e prática), tarefa dispendiosa que abraçámos antes do surgimento da Internet e da vulgarização dos testes de ADN, que seria inconclusiva caso não tivéssemos visto grande número de cães e saber da existência das distintas variedades cromáticas presentes no CPA.
Para todos os efeitos, quer se aprecie ou não, trabalhar com as variedades recessivas do CPA é retornar à sua origem, às suas mais e menos valias, até porque o aprimoramento acontecido na raça, que é indubitável, não aconteceu em absoluto por via da dispensa do trabalho pela preferência estética, tendência que se acentuou logo após a II Guerra Mundial e que se tornou maioritária a partir da década de 70, não acontecendo por acaso a procura de Pastores Alemães do Leste Europeu na era pós Perestroika, animais cuja funcionalidade era em muito superior à verificada entre os cães ocidentais. Houve de facto uma rotura ou quebra de qualidade entre os cães originais e os actuais, ficando isso a dever-se em primeira instância aos criadores alemães, que ainda hoje correm atrás do prejuízo.
Mas o que tem o Pastor Alemão Azul de especial que o distinga dos outros, ao ponto de agora correrem atrás dele como do Santo Graal? Nada, a não ser a cor! Porque nele subsistem bons e maus exemplares, beneficiamentos profícuos e cruzamentos desastrosos, alguns até proibidos pelo Estalão, como acontece com o contributo da variedade branca, o que não significa que deva ser desleixado ou preterido, porque se está dentro da raça algo de bom lhe acrescentou. Ademais, considerando a eugenia negativa que tem vindo a vitimar o CPA, só a multivariedade ainda presente na raça lhe poderá valer, quer para retornar à qualidade do passado quer para formar melhores cães pró futuro.
É por demais evidente que quem corre agora atrás dos azuis não é dominado por estas preocupações, antes quer ter aquilo que ninguém tem para obter maiores lucros, porque assim acontece com a novidade! Mas como não há bela sem senão, esta classe de prospectores irá igualmente incorrer no erro da eugenia negativa e industriar esta variedade, que quando isolada e isenta das demais tende a ser mais esquiva e menos cúmplice, logo menos prestável, para além de perder envergadura.
 Os cães azuis, quando beneficiados com outros de diferente variedade cromática, podem ser uma das pontes para o trânsito da ancestral qualidade para os cães actuais, apetrechando-os de melhor máquina sensorial e superiores mecanismos de alerta. A cor dos cães não deve ser entendida como a das geraniáceas, porque carrega originalmente a adaptação a um ecossistema próprio, presta-se à sua camuflagem nele, influindo directamente nos modos de abordagem e na diversa potenciação sensorial, estando por isso intrinsecamente ligada à sua sobrevivência, instinto sem o qual qualquer cão de guarda se torna impróprio e por demais vulnerável.
A obtenção de exemplares azuis uniformes, quando não recessiva nos progenitores de cor diversa, exceptuando o concurso da variedade branca, hoje entendida injustamente como “Pastor Suíço”, poderá ser alcançada pelos beneficiamentos entre negros e lobeiros, quando ambos têm na sua construção exemplares das duas variedades cromáticas segundo um percentual próprio, sabendo-se que alguns exemplares azuis deles nascidos sairão bicolores e não uniformes, cinzentos de dorso e afogueados nos membros, os ditos cinzentos parciais, exactamente iguais ao cachorro que ilustra o recente artigo “ZEUS: UM AZUL QUE PROMETE”, editado no dia 23 deste mês.
 
Beneficiando um cinzento parcial com um uniforme ou com um negro conseguem-se obter cachorros azuis uniformes e, o que é verdade para o azul, é-o também para o chocolate (fígado) e para as para as restantes variedades recessivas.
Agrada-nos de sobremaneira e a cinotecnia nacional está a colher frutos disso, o aumento de CPA’s negros usados para a produção de exemplares laborais, fruto da precocidade e maturidade presentes nesta variedade cromática, sem a qual os lobeiros se tornariam mais difíceis de controlar e os preto-afogueados estridentes e reivindicativos, mais dados ao barulho que as acções. Do mesmo modo e pelas mesmas razões necessita o azul do negro, também para combater o pernaltismo, menor peso e a ausência de envergadura. Por detrás dum cão cinzento sempre está, quando não resultante de artimanha, um exemplar negro e à medida que o cinzento se afasta do negro a sua qualidade diminui significativamente.
A corrida ao ouro já começou, ao Pastor Alemão azul, oxalá não o transformem em pechisbeque! 

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