segunda-feira, 17 de julho de 2023

LAIKA: NUNCA NINGUÉM TINHA IDO TÃO LONGE, MAS NÃO VOLTOU PARA CONTAR

 

Todos sabemos que o gelo queima e como ele a GUERRA FRIA (1) também queimou e continua a queimar muita gente, porque assim se pode entender também a INVASÃO RUSSA DA UCRÂNIA. Pondo de parte as considerações políticas, vou hoje falar de uma vítima canina da corrida ao espaço movida por russos e americanos no final da década de 1950 - da cadela Laika - uma rafeira com 3 anos de idade, 6kg de peso, apanhada na rua a quem puseram o nome de “Laika”, que em russo significa “ladrar” e que nunca pensou vir a ser um cosmonauta.

Na desenfreada corrida pela conquista do espaço, embalada pela Guerra Fria e por razões político-estratégicas, a União Soviética (hoje Federação Russa) quer vencer a qualquer custo o seu rival norte-americano, planeando para isso colocar em órbita o seu último satélite artificial – o SPUTINK II – por ocasião do quadragésimo aniversário da REVOLUÇÂO BOLCHEVIQUE (2). Mas nesta viagem os soviéticos precisam de um passageiro e incapazes de enviar um homem, enviaram primeiro um animal – a Laika – que ao ser cadela tinha a vantagem de não precisar de levantar a perna para urinar, pelo que podia caber na minúscula cabine pressurizada. Contudo, a cadela estava condenada à morte, porque os cientistas soviéticos não conseguiram fazer retornar a cápsula à terra. Entretanto, sujeita a duro treino, ensinaram-na a suportar o barulho e a pressão da descolagem.

Em 03 de novembro de 1957, Laïka descolou diante dos olhos do mundo inteiro e tornou-se o primeiro ser vivo a orbitar a Terra. A rádio estatal elogia durante dias o sucesso da missão: “A cadela está bem, está saudável! podemos ouvi-la.“ Na versão oficial, “a Laïka experimentou uma morte suave, após vários dias, graças ao veneno incorporado na sua alimentação”. Só que não foi isso que aconteceu, a cadela que deveria sobreviver uma semana, não durou mais do que algumas horas, porque a cápsula não estava suficientemente equipada contra a radiação solar, morrendo com dores excruciantes por causa do calor. Esta triste verdade permaneceria um segredo bem guardado até a queda da URSS (3). Por sua vez, a cápsula túmulo girará em torno da Terra até abril de 1958, antes de se desintegrar na atmosfera. Símbolo da cobaia mártir, objecto de propaganda, Laïka é, em última análise, a vítima emblemática de uma corrida pelo progresso nos seus aspectos mais sombrios. Todavia, foi graças ao seu sacrifício que o cosmonauta YURI GAGARIN (4) conseguiu ir ao espaço em 1961.

Se é verdade que o cão foi o animal que melhor nos acompanhou desde tempos imemoráveis, também nenhum pagou tão caro o preço da nossa evolução. Hoje, porque temos maior conhecimento científico, já não enviaríamos para o espaço um cão-cobaia. Porém, é bom não esquecer que a nossa precursora na conquista do espaço foi uma humilde cadela raptada nas ruas de Moscovo e que teve um trágico fim.

(1) Guerra Fria foi um período de tensão geopolítica entre a União Soviética e os Estados Unidos e os seus respectivos aliados, o Bloco Oriental e o Bloco Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial. (2) Revolução Bolchevique, também conhecida como Revolução de Outubro, aconteceu no dia 25 de outubro de 1917, segundo o calendário então em vigor na Rússia, ocasião em que Lenine e os seus partidários derrubaram o governo provisório em S. Petersburgo e tomaram o poder, dando início à instauração da ditadura do proletariado. (3) Cosmonauta soviético e o primeiro ser humano a viajar pelo espaço a bordo do Vostok 1, em 12 de abril de 1961.

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