Como
não me julgo profeta, também não creio que receba mensagens do além nos meus
esporádicos sonhos, agora ligados a episódios da minha infância ou substituídos
por breves pesadelos. Esta noite, enquanto dormia, inexplicável e ininterruptamente,
quiçá por tanto ouvir falar em igreja e nas Jornadas Mundiais da Juventude
durante o dia, um versículo bíblico invadiu-me o sono, o constante em Isaías
65:25 que diz: “O lobo e o cordeiro se apascentarão
juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não
farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.”
Normalmente não consigo relembrar-me dos meus sonhos, mas este levantou-se
comigo e teimou em se ir embora, pondo em inquietude a militância que agora
norteia a minha vida enquanto adestrador de cães. Pela primeira vez na vida
tentei encontrar um significado para um sonho e ao ouvir as notícias
internacionais, finalmente compreendi que mensagem tinha para mim.
Fugindo
ao carácter escatológico do versículo, que não é para aqui chamado, ao tomar
conhecimento dos muitos cães detectores de minas que trabalham em quase todos
os continentes, pensei imediatamente num volte-face total e completo no
adestramento, capaz de terminar, de uma vez por todas, com a inimizade entre cães
e homens que tantas vítimas tem vindo a causar, devolvendo aos animais o seu
carácter bondoso e transformando-os em mensageiros da paz, para que doravante
venham ser unicamente usados para o bem. Não estou a falar de nenhuma loucura
ou utopia, mas de algo que já acontece e que carece de ser amplamente
replicado.
Se
a I Guerra Mundial marcou o início do uso generalizado dos cães para fins
militares, a Segunda aprimorou os cães de assalto e os conflitos locais
subsequentes recorreram ao seu uso especializado. Antes que venha a Terceira, que
há quem diga estar para chegar e ser a derradeira, ainda é tempo de arrepiar
caminho e pôr os animais ao serviço das vítimas da guerra e de quem deles
precisar, ao invés de pô-los a triturar carne humana e serem emissários do anjo
da morte. Sim, homens e cães são compatíveis, muito mais compatíveis do que a
ovelha com o seu predador natural.
Se
há cães que nascem maus, quando não são produto do acaso, é porque foram
seleccionados para causar dolo a outrem; se há cães que se fazem maus, é porque
alguém ao invés de os repreender, antes os empossou e nisso investiu! A maldade
canina, que tantas vezes é sancionada com a morte dos animais, outra coisa não
é do que o resultado directo da maldade humana que substituiu a fraternidade
por uma prática fratricida. Penso que ninguém deseja a morte de mais pessoas e
cães, que a maioria de nós procura dar uma oportunidade à paz, porque ela é
possível e só será autêntica quando deixarmos de abusar dos animais. O bom
relacionamento entre homens e animais só trará benefícios para todos – o mal
não está nos cães, mas no uso que lhe dão!
Eu quero muitos cães-guia, detectores de doenças e de explosivos, de terapia e de serviço, de uso forense, de busca e salvamento; eu quero que os homens dêem mais valor à vida e que os cães se empenhem em conservá-la. Sonhei e abri os olhos para a realidade – valeu a pena ter sonhado - vou deitar-me para o mesmo lado!
Sem comentários:
Enviar um comentário