segunda-feira, 10 de julho de 2023

A INEVITABILIDADE DOS PARQUES EXCLUSIVOS PARA CÃES

 

Em Inglaterra, um dos países mais dog-friendly do mundo, já se equaciona a hipótese de se criarem parques exclusivos para cães, separados dos destinados aos humanos, especialmente depois do aumento do número de cães e da sua ausência de treino nesta era pós-Covid, espaços onde os cães possam brincar à solta, sem incomodar terceiros e pôr em risco a saúde pública. Pat Heard, uma voluntária de uma associação de bem-estar animal, convenceu recentemente o seu conselho local a criar um dos primeiros parques para cães na sua cidade natal – Cramlington – no condado nortenho inglês de Northumberland. Agora, outros conselhos citadinos ingleses pensam fazer o mesmo e tirar vantagens da ideia. O mais recente foi o conselho de Hillingdon, no oeste de Londres, depois que recebeu uma petição para um “parque de brincadeiras para cães” fechado e a ser criado dentro de um dos parques locais daquele conselho, petição que foi acompanhada por 100 assinaturas. “Esta proposta bem pensada, a ser aprovada, colocaria Hillingdon no mapa como um conselho inovador”, disse a vereadora de Hillingdon, Reeta Chamdal, numa recente reunião do conselho. A decisão de encontrar espaços destes nas propriedades do conselho foi desencadeada pelo que agora parece ser uma reacção crescente contra cães malcomportados nos parques e reservas naturais do Reino Unido, após um aumento acentuado da posse de cães durante a pandemia.

O bloqueio e as restrições relativas ao distanciamento social impediram que muitos donos de cães sociabilizassem adequadamente os seus animais de estimação pudessem levá-los às escolas caninas, o que teve como consequência uma horda de animais indisciplinados desde então. Na semana passada, o conselho de Cambridge, justificadamente, dobrou o número de espaços verdes da cidade onde os cães são obrigados a circular a trela “para ajudar a proteger a vida selvagem” durante a época da nidificação dos pássaros, enquanto o conselho de Liverpool proibiu no ano transacto o acesso de cães a mais de 70 playgrounds e recintos desportivos. Como reacção, os proprietários caninos das áreas urbanas dizem que as suas necessidades não estão a ser devidamente consideradas pelos conselhos que estão a banir os cães daqueles espaços. “Questões como estas alimentam divisões dentro das comunidades”, disse Dan Janes, presidente da Guest Road Area Residents, no centro de Cambridge. “Os cães precisam ser exercitados sem trela, e recomendo outros conselhos que estão a disponibilizar recursos para isso.” Este senhor mora perto do cemitério de Mill Road, um oásis verde no centro da cidade que é popular entre os donos de cães e que agora está sujeito às novas restrições. “Ter que entrar num carro para ir até um ponto alternativo é contraproducente e aumentará o congestionamento nas estradas da cidade.”

Matthew Nelson, um residente de Hillingdon, apresentou a ideia de uma área fechada para cães ao conselho da sua cidade depois de perceber que não havia parques locais onde ele pudesse deixar o seu beagle correr solto e em segurança “Eu adoptei o Bertie em dezembro de 2020. Durante todas as restrições da Covid muito poucos treinadores de cães estavam a dar aulas de grupo para cachorros”, disse ele. Os proprietários caninos precisam de espaços próprios para treinar os seus cães em liberdade, e oferecer esse espaço no parque local de Dowding tranquilizaria os proprietários de cães “reactivos”, disse o mesmo senhor. Áreas destinadas para cães em parques públicos são comuns nas grandes cidades dos Estados Unidos e Canadá, podendo também ser encontrados em Milão, Berlim e Paris. Mas no Reino Unido, os espaços mais destinados aos cães estão em campos de propriedade privada, que carecem de ser alugados, devem ser alugados, normalmente por cerca de 10 libras à hora. Em Cramlington, o parque cercado para cães do município é totalmente gratuito. Antigamente era um espaço verde vazio dentro do Parque Alexandra, que já continha um parque infantil, pista de skate e campo de futebol – espaços onde cães não eram bem-vindos e significavam um incómodo. “Havia claramente uma necessidade. Os donos dos cães queriam um lugar seguro onde pudessem soltá-los”, afirmou Heard, uma vereadora que dirige o resgate de animais da Dogs First - “Os cães estavam a invadir os espaços onde as crianças queriam brincar.”

“Durante o Covid, muitas pessoas saíram e adquiriram cães que não tinham antes. E com o distanciamento social, eles não puderam soltá-los nem sociabilizá-los como outros”, disse ela. Cães não socializados podem reagir agressivamente contra pessoas e outros cães, especialmente quando atrelados e incapazes de fugir: “Os cães aprendem a ser cães brincando juntos e soltos”, disse a citada senhora. Após consulta pública, o conselho disponibilizou 20.000 libras para a criação do parque para cães, que foi inaugurado em março. “Agora esperamos abrir outro”, disse Heard, que costuma visitar o parque com os seus cinco animais de estimação. “Tem sido incrível. Muitas pessoas fizeram amigos através da amizade dos seus cães com outros cães. Nós assistimos à diversão dos cães – você não pode deixar de sorrir.” Ela ajudou a projectar o espaço para garantir que não haja cantos de 90 graus onde os cães dominantes possam cercar os outros e ameaçá-los: “Num parque para cães, os cães percebem que a perseguição pode ser divertida”.

Para além do bem-estar que os recintos específicos para cães podem proporcionar-lhes, eles são igualmente importantes para o bem-estar de todos e para a saúde pública. Imagine-se um grupo de cães a defecar ordinariamente num jardim que é também usado para acolher crianças, deitaria em segurança um bebé sobre o local de vários dejectos caninos recém-apanhados? Estenderia descansado a toalha limpa do seu piquenique sobre um pedaço de relva a tresandar a urina de cão? Os exemplos não se esgotam e não é assim tão raro algum cão disputar a bola de uma criança e acabar por mordê-la, acidentalmente ou não, isto para já não falar nas costumeiras e indesejáveis brigas entre cães que por vezes se estendem à própria carne dos donos. Que venham os parques específicos para cães e quanto antes melhor, porque já chegam atrasados!

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