Em
Inglaterra, um dos países mais dog-friendly do mundo, já se equaciona a
hipótese de se criarem parques exclusivos para cães, separados dos destinados
aos humanos, especialmente depois do aumento do número de cães e da sua
ausência de treino nesta era pós-Covid, espaços onde os cães possam brincar à
solta, sem incomodar terceiros e pôr em risco a saúde pública. Pat Heard, uma
voluntária de uma associação de bem-estar animal, convenceu recentemente o seu
conselho local a criar um dos primeiros parques para cães na sua cidade natal –
Cramlington – no condado nortenho inglês de Northumberland. Agora, outros conselhos
citadinos ingleses pensam fazer o mesmo e tirar vantagens da ideia. O mais
recente foi o conselho de Hillingdon, no oeste de Londres, depois que recebeu
uma petição para um “parque de brincadeiras para cães” fechado e a ser criado
dentro de um dos parques locais daquele conselho, petição que foi acompanhada
por 100 assinaturas. “Esta proposta bem pensada, a ser aprovada, colocaria
Hillingdon no mapa como um conselho inovador”, disse a vereadora de Hillingdon,
Reeta Chamdal, numa recente reunião do conselho. A decisão de encontrar espaços
destes nas propriedades do conselho foi desencadeada pelo que agora parece ser
uma reacção crescente contra cães malcomportados nos parques e reservas
naturais do Reino Unido, após um aumento acentuado da posse de cães durante a
pandemia.
O
bloqueio e as restrições relativas ao distanciamento social impediram que
muitos donos de cães sociabilizassem adequadamente os seus animais de estimação
pudessem levá-los às escolas caninas, o que teve como consequência uma horda de
animais indisciplinados desde então. Na semana passada, o conselho de
Cambridge, justificadamente, dobrou o número de espaços verdes da cidade onde
os cães são obrigados a circular a trela “para ajudar a proteger a vida
selvagem” durante a época da nidificação dos pássaros, enquanto o conselho de
Liverpool proibiu no ano transacto o acesso de cães a mais de 70 playgrounds e
recintos desportivos. Como reacção, os proprietários caninos das áreas urbanas
dizem que as suas necessidades não estão a ser devidamente consideradas pelos
conselhos que estão a banir os cães daqueles espaços. “Questões como estas
alimentam divisões dentro das comunidades”, disse Dan Janes, presidente da
Guest Road Area Residents, no centro de Cambridge. “Os cães precisam ser exercitados
sem trela, e recomendo outros conselhos que estão a disponibilizar recursos
para isso.” Este senhor mora perto do cemitério de Mill Road, um oásis verde no
centro da cidade que é popular entre os donos de cães e que agora está sujeito
às novas restrições. “Ter que entrar num carro para ir até um ponto alternativo
é contraproducente e aumentará o congestionamento nas estradas da cidade.”
Matthew
Nelson, um residente de Hillingdon, apresentou a ideia de uma área fechada para
cães ao conselho da sua cidade depois de perceber que não havia parques locais
onde ele pudesse deixar o seu beagle correr solto e em segurança “Eu adoptei o
Bertie em dezembro de 2020. Durante todas as restrições da Covid muito poucos
treinadores de cães estavam a dar aulas de grupo para cachorros”, disse ele. Os
proprietários caninos precisam de espaços próprios para treinar os seus cães em
liberdade, e oferecer esse espaço no parque local de Dowding tranquilizaria os
proprietários de cães “reactivos”, disse o mesmo senhor. Áreas destinadas para
cães em parques públicos são comuns nas grandes cidades dos Estados Unidos e
Canadá, podendo também ser encontrados em Milão, Berlim e Paris. Mas no Reino
Unido, os espaços mais destinados aos cães estão em campos de propriedade privada,
que carecem de ser alugados, devem ser alugados, normalmente por cerca de 10
libras à hora. Em Cramlington, o parque cercado para cães do município é
totalmente gratuito. Antigamente era um espaço verde vazio dentro do Parque
Alexandra, que já continha um parque infantil, pista de skate e campo de
futebol – espaços onde cães não eram bem-vindos e significavam um incómodo.
“Havia claramente uma necessidade. Os donos dos cães queriam um lugar seguro
onde pudessem soltá-los”, afirmou Heard, uma vereadora que dirige o resgate de
animais da Dogs First - “Os cães estavam a invadir os espaços onde as crianças
queriam brincar.”
“Durante
o Covid, muitas pessoas saíram e adquiriram cães que não tinham antes. E com o
distanciamento social, eles não puderam soltá-los nem sociabilizá-los como outros”,
disse ela. Cães não socializados podem reagir agressivamente contra pessoas e
outros cães, especialmente quando atrelados e incapazes de fugir: “Os cães
aprendem a ser cães brincando juntos e soltos”, disse a citada senhora. Após
consulta pública, o conselho disponibilizou 20.000 libras para a criação do
parque para cães, que foi inaugurado em março. “Agora esperamos abrir outro”,
disse Heard, que costuma visitar o parque com os seus cinco animais de
estimação. “Tem sido incrível. Muitas pessoas fizeram amigos através da amizade
dos seus cães com outros cães. Nós assistimos à diversão dos cães – você não
pode deixar de sorrir.” Ela ajudou a projectar o espaço para garantir que não
haja cantos de 90 graus onde os cães dominantes possam cercar os outros e
ameaçá-los: “Num parque para cães, os cães percebem que a perseguição pode ser
divertida”.
Para além do bem-estar que os recintos específicos para cães podem proporcionar-lhes, eles são igualmente importantes para o bem-estar de todos e para a saúde pública. Imagine-se um grupo de cães a defecar ordinariamente num jardim que é também usado para acolher crianças, deitaria em segurança um bebé sobre o local de vários dejectos caninos recém-apanhados? Estenderia descansado a toalha limpa do seu piquenique sobre um pedaço de relva a tresandar a urina de cão? Os exemplos não se esgotam e não é assim tão raro algum cão disputar a bola de uma criança e acabar por mordê-la, acidentalmente ou não, isto para já não falar nas costumeiras e indesejáveis brigas entre cães que por vezes se estendem à própria carne dos donos. Que venham os parques específicos para cães e quanto antes melhor, porque já chegam atrasados!
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