segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

WEIMARANER: A FAVOR DO DONO E CONTRA O QUE DER E VIER

 

Como o próprio nome indica, estamos a falar de um versátil cão de parar germânico, de igual desempenho dentro e fora de água, originalmente concebido para lidar com grandes animais como veados, ursos e até lobos, mas que atendendo ao facto de ser fácil de ensinar, de estar sempre atento, de ser destemido e obediente, facilmente se transformará num excelente cão de guarda, já que insiste em ser a sombra do dono. Não nos vamos demorar nas considerações históricas da raça, hoje ao alcance de qualquer um, mas avaliar os prós e os contras laborais deste bracóide, um dos cães que sempre nos apaixonou, o que não invalida que não sejamos capazes de o avaliar imparcialmente.

Muitos destes cães, para além de inteligentes, caso tenham oportunidade, são inquietos e obstinados, tendem a controlar tudo e todos em casa, a ladrar efusivamente, a roubar comida da mesa, a perseguir gatos, a resistir à sociabilização e a afiar o dente (morder) a quem não devem, pelo que o Weimaraner não é um animal indicado como primeiro cão ou para gente sem experiência. Pelo que acabámos de dizer, a sua sociabilização deverá acontecer logo que possa sair à rua. Por outro lado, não é um cão que se adapte bem a um apartamento, confinamento que poderá levá-lo a desenvolver um conjunto de várias taras. Estará menos mal ali se diariamente vier várias vezes à rua e puder exercitar-se de acordo com as suas necessidades.

Como é um cão que tolera melhor o calor do que o frio, quando seleccionado para o resgate e salvamento, deverá preferencialmente trabalhar, se possível, em terra nas estações frias e dentro de água nas quentes, porque apesar da sua exagerada voluntariedade, é um cão muitíssimo sensível. E de tal maneira o é que detesta ficar só, sendo por isso afectuoso com a família e adequado para a maioria das crianças com algum senso de responsabilidade. Como já o dissemos, não é um cão de rápida amizade com estranhos ou disposto a sociabilizar-se imediatamente com outros cães, tendo como vantagem não exigir grandes cuidados no seu tratamento.

Do ponto de vista cognitivo, pese embora o facto de ser medianamente inteligente, não é um clássico cão alemão de “esquerdo; direito”, que evolui maioritariamente pela memória mecânica, mas alguém que norteia o seu comportamento e resposta pela memória afectiva, pelas experiências anteriores, o que exige tacto e sensibilidade a quem se propõe ensiná-lo. Caso pretendamos transformá-lo em cão guarda, tendo o indivíduo perfil para isso, devemos levá-lo pacientemente à regra sem o sujeitar à derrota ou à humilhação, para que no exercício das suas funções evidencie a resiliência que leva à rendição dos seus opositores. Convém não esquecer que estamos a falar de um cão ainda rico em instintos, que transporta com facilidade qualquer experiência negativa para o instinto de sobrevivência.

Do ponto de vista físico, estamos perante um atleta canino de nomeada, um campeão difícil de igualar, mas que obriga a alguns cuidados na introdução aos obstáculos, porque invariavelmente avança para eles pondo em risco o seu bem-estar e salvaguarda. É competitivo, a sua capacidade de impulsão dá a impressão de ser miraculosa, é extraordinariamente elástico, recupera rapidamente dos esforços e não rejeita desafios. No galope não é tão célere como um Malinois ou um Border Collie, mas no 3º andamento natural, na marcha, cobre mais território do que eles. Levado a brincar e devidamente recompensado, é capaz de ultrapassar surpreendentemente o rendimento de muitos cães de trabalho. Valendo-nos da analogia possível, para os mais próximos da equitação e seus concursos, podemos dizer que estamos perante um cão de “concurso completo”.

E como “não há bela sem senão”, o Weimaraner é incansável, extraordinariamente enérgico, reclama por exercício e adora interagir ludicamente com os seus proprietários. Diante destas características facilmente se antevê que não é um cão para pessoas com limitações ou condicionalismos, mas próprio para profissionais e gente jovem disposta a acompanhá-lo. A raça apresenta dimorfismo sexual, mas a qualidade das cadelas não difere muito da encontrada nos machos. Devido à sua versatilidade e apego ao dono, um Weimaraner será aquilo que o seu dono quiser, podendo ser um anjo protector ou um diabo à solta, um cão para resgatar pessoas ou para escorraçar intrusos. Agora que os anos pesam e as aventuras perderam o seu sentido, eu prefiro ter um Weimaraner a apoiar-me do que outro a tentar rasgar-me.

Uma coisa é certa: ninguém tem bracos e pointers como os alemães. Debruçámo-nos sobre o Weimaraner, podíamos ter falado do Drahthaar. Dá-me a impressão que os alemães não sabem só fabricar bons carros. O Weimaraner não é “mais um cão”, é um que se destaca entre os demais e nem todos vão parar a boas mãos, o que verdadeiramente se lamenta.

PS: Se tem um Weimaraner não o encerre por horas a fio, violência que poderá levá-lo à revolta, a tornar-se agressivo e descontrolado, capaz de o atacar a si e aos seus (por vezes é só uma questão de tempo).

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