Comecemos pelas “cobras cuspideiras”, nome que comummente atribuímos àqueles que ainda não conseguiram desembaraçar-se das palavras e entoações sibilantes no ensino dos seus cães, herança de velhos métodos onde o travamento falava por vezes mais alto do que o incentivo e se pretendia estender a “ordem unida” aos animais a despeito do seu bem-estar (ex: Fuß, Sitzt e Platz und so weiter). Todos sabemos que os sons e os odores estão para os cães como as imagens e as palavras estão para nós, pelo que a entoação dos comandos deverá estar em consonância com a ordem requerida para que o código seja prontamente respondido (obedecido).
É
também do conhecimento geral que vã é a disciplina diante da afeição, tanto nos
homens como nos cães, muito embora não esteja a equipará-los, o que jamais
farei atendendo às diferenças existentes entre as duas espécies. Estamos aqui a
falar da entoação dos comandos que formam o código como um todo, que deverá
acontecer de acordo com o perfil psicológico de cada animal, visando o seu
equilíbrio e desempenho, onde o stress e a ira estão proibidos de entrar. Há
cães que reclamam uma linguagem mais açucarada do que outros, aquela que dispensamos
aos bebés e outros que não dispensam uma mais áspera ou seca para cumprirem as
ordens que lhes são solicitadas.
Quando
não existe esta indispensável correspondência e a um cão doce, indevidamente,
aplicarmos invariavelmente comandos entoados com aspereza, o animal acabará
mais medroso do que já foi, tornar-se-á demasiado submisso e menos seguro, perdendo
com isso a autonomia necessária pràs mais variadas funções, podendo com isso
vir a tornar-se num imprestável. Por outro lado, se adocicarmos
sistematicamente a entoação dos comandos para um cão áspero, este tenderá ao
disparate, a agir por conta própria, a rejeitar a liderança e a dominar sobre
tudo e todos, despropósitos mais do que suficientes para ser encaminhado para a
reeducação.
Importa pois conhecer previamente o perfil psicológico de cada cão para que entoação dos comandos não venha a agravar ou dificultar o seu entendimento e comunicação, o que à partida parece difícil mas não é, porque a sua participação nos diversos exercícios e obstáculos, cedo desnudará qual o seu perfil diante das dificuldades encontradas. De qualquer modo, a maioria dos cães preferirá comandos verbais mimados aos abruptos que os surpreendem e fazem tremer. Ainda que determinado código possa ser igual para todos os cães, a sua entoação poderá diferir de animal para animal.
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