sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

MARYBETH HEARN: UMA VIDA AO SERVIÇO DOS OUTROS

 

Quando Marybeth Hearn tinha 10 anos (na foto abaixo), ela perguntou aos pais se poderia treinar um cachorro para torná-lo um cão-guia. Viria a tornar-se numa missão para toda a vida. Ao longo de mais de cinco décadas, Hearn criou 56 cães para ajudar pessoas com deficiência visual. Mas o seu legado não ficou por aí - a professora de liceu de longa data e recentemente aposentada inspirou vários membros da família e dezenas de alunos a formar muitos mais. “Gosto de fazer algo de bom por alguém que ainda não tive a chance de conhecer”, disse Hearn, que no dia 18 de dezembro terminou 33 anos a ensinar agricultura na Lemoore High School, no Vale de San Joaquin, na Califórnia (USA). Quando ela abordou os seus pais há décadas atrás, as perspectivas pareciam improváveis, a sua mãe não gostava de cães e o seu pai duvidava que ela conseguisse encontrar um patrocinador para pagar o custo do treino. Mas a determinação de Marybeth levou-a a apresentar o projecto num Lions Clube onde angariou e arrecadou US $ 2.500.

Assim, num dia ensolarado de verão em 1962, a família voltou para casa com um Labrador preto chamado Letta ladrando no banco de trás, o primeiro de uma longa série de cachorros para treinar e habilitar. Dois filhos e uma neta seguiram os passos de Marybeth Hearn, mas seu maior impacto resultou de ter sido mentora de uma geração de treinadores de alunos que, desde 1992, trabalharam 170 cães que chegaram aos seus destinatários. Eles (os treinadores) passam 14 meses com cada cachorro ensinando-lhes habilidades tais como como treinar em casa, andar à trela e comportar-se em público. Os cães vivem com os alunos a tempo integral, participando das suas aulas e passeios para se socializarem. “Você consegue imaginar uma sala de aula com 21 cachorros com menos de um ano de idade e 30 crianças, é uma grande excentricidade”, disse Hearn.

Os cães são depois transferidos para treinadores certificados e empregados pela Guide Dogs for the Blind, uma ONG nacional que tem parceria com o programa, antes de se formarem e de se constituírem em binómio com os invisuais. Os cães que não estiverem à altura da difícil tarefa de ajudar os cegos, poderão acabar por ser empregues noutros tipos de serviço. Frequentemente, os alunos comparecem às formaturas e ajudam protocolarmente a passar os cães. “Adoro ver a expressão no rosto das crianças ... quando elas conseguem ver aquele cão novamente depois de três ou quatro meses e o animal se lembra delas”, disse Hearn. “É uma óptima sensação.” Mesmo depois das aulas se terem tornado virtuais a partir de março por causa do coronavírus, o programa continuou e já habilitou 12 cães. Os alunos continuaram a vir para a escola para o que Hearn chamou de “encontros de brincadeira socialmente distantes” nos campos, com todos mascarados e com quase 2 metros de distância, correndo os cães por todo lado com seus brinquedos. Foi óptimo porque deu às crianças uma nova maneira de comunicarem entre si e de não ficarem tão isoladas”, disse ela.

A CEO e presidente da Cães Guia para Cegos, Christine Benninger, disse que o trabalho de Hearn teve um "tremendo impacto positivo" para a ONG, que forma anualmente cerca de 300 cães para desempenhar um papel que se mostrou ser ainda mais vital este ano. “A cegueira já nos isola e agora com COVID estamos ainda mais isolados”, disse Benninger. “Portanto, pensando apenas nossa saúde mental ou na necessidade de companhia, termos um motivo para nos levantarmos e irmos a algum lugar diariamente com um cão-guia, tem salvado a vida a alguns de nossos clientes.” O programa também transmite aos alunos o valor de retribuir à comunidade. Hearn “colocou a Lemoore High School no mapa”, disse o director Rodney Brumit, “por ser uma escola que apoia o serviço aos outros”.

Marybeth Hearn é uma daquelas raras pessoas que pôs a sua vida ao serviço dos outros, mesmo daqueles que nunca conheceu e que vieram a usufruir da sua dedicação e generosidade, postura que vale a pena enaltecer e exemplo que merece ser seguido. A gente como ela sempre seremos agradecidos, porque labuta para que outros vençam e não percam a esperança.

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