Quando
Marybeth Hearn tinha 10 anos (na foto abaixo), ela perguntou aos pais se
poderia treinar um cachorro para torná-lo um cão-guia. Viria a tornar-se numa
missão para toda a vida. Ao longo de mais de cinco décadas, Hearn criou 56 cães
para ajudar pessoas com deficiência visual. Mas o seu legado não ficou por aí -
a professora de liceu de longa data e recentemente aposentada inspirou vários
membros da família e dezenas de alunos a formar muitos mais. “Gosto de fazer
algo de bom por alguém que ainda não tive a chance de conhecer”, disse Hearn,
que no dia 18 de dezembro terminou 33 anos a ensinar agricultura na Lemoore
High School, no Vale de San Joaquin, na Califórnia (USA). Quando ela abordou os
seus pais há décadas atrás, as perspectivas pareciam improváveis, a sua mãe não
gostava de cães e o seu pai duvidava que ela conseguisse encontrar um
patrocinador para pagar o custo do treino. Mas a determinação de Marybeth
levou-a a apresentar o projecto num Lions Clube onde angariou e arrecadou US $
2.500.
Assim,
num dia ensolarado de verão em 1962, a família voltou para casa com um Labrador
preto chamado Letta ladrando no banco de trás, o primeiro de uma longa série de
cachorros para treinar e habilitar. Dois filhos e uma neta seguiram os passos
de Marybeth Hearn, mas seu maior impacto resultou de ter sido mentora de uma
geração de treinadores de alunos que, desde 1992, trabalharam 170 cães que chegaram
aos seus destinatários. Eles (os treinadores) passam 14 meses com cada cachorro
ensinando-lhes habilidades tais como como treinar em casa, andar à trela e comportar-se
em público. Os cães vivem com os alunos a tempo integral, participando das suas
aulas e passeios para se socializarem. “Você consegue imaginar uma sala de aula
com 21 cachorros com menos de um ano de idade e 30 crianças, é uma grande excentricidade”,
disse Hearn.
Os
cães são depois transferidos para treinadores certificados e empregados pela
Guide Dogs for the Blind, uma ONG nacional que tem parceria com o programa,
antes de se formarem e de se constituírem em binómio com os invisuais. Os cães
que não estiverem à altura da difícil tarefa de ajudar os cegos, poderão acabar
por ser empregues noutros tipos de serviço. Frequentemente, os alunos
comparecem às formaturas e ajudam protocolarmente a passar os cães. “Adoro ver
a expressão no rosto das crianças ... quando elas conseguem ver aquele cão
novamente depois de três ou quatro meses e o animal se lembra delas”, disse
Hearn. “É uma óptima sensação.” Mesmo depois das aulas se terem tornado
virtuais a partir de março por causa do coronavírus, o programa continuou e já habilitou
12 cães. Os alunos continuaram a vir para a escola para o que Hearn chamou de
“encontros de brincadeira socialmente distantes” nos campos, com todos
mascarados e com quase 2 metros de distância, correndo os cães por todo lado com
seus brinquedos. Foi óptimo porque deu às crianças uma nova maneira de comunicarem
entre si e de não ficarem tão isoladas”, disse ela.
A
CEO e presidente da Cães Guia para Cegos, Christine Benninger, disse que o
trabalho de Hearn teve um "tremendo impacto positivo" para a ONG, que
forma anualmente cerca de 300 cães para desempenhar um papel que se mostrou ser
ainda mais vital este ano. “A cegueira já nos isola e agora com COVID estamos
ainda mais isolados”, disse Benninger. “Portanto, pensando apenas nossa saúde
mental ou na necessidade de companhia, termos um motivo para nos levantarmos e
irmos a algum lugar diariamente com um cão-guia, tem salvado a vida a alguns de
nossos clientes.” O programa também transmite aos alunos o valor de retribuir à
comunidade. Hearn “colocou a Lemoore High School no mapa”, disse o director
Rodney Brumit, “por ser uma escola que apoia o serviço aos outros”.
Marybeth Hearn é uma daquelas raras pessoas que pôs a sua vida ao serviço dos outros, mesmo daqueles que nunca conheceu e que vieram a usufruir da sua dedicação e generosidade, postura que vale a pena enaltecer e exemplo que merece ser seguido. A gente como ela sempre seremos agradecidos, porque labuta para que outros vençam e não percam a esperança.
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