segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

QUEM SERIA O ANIMAL: O DONO OU O CÃO?

 

Em tom de brincadeira e não querendo estigmatizar ninguém, nos anos que levo como adestrador, quando um cão acerta aquilo que o dono errou, costumo dizer para os condutores em falta: “Peça lá desculpa ao cão, que o animal já todos sabemos quem é!” ou “sabe porque é que o cão é melhor do que você? Porque ele é produto de selecção e você é filho de uma emoção!”, comentários que sempre acabam secundados por um grande gargalhada geral e que se prestam à descontracção da classe em exercício, mas que com propriedade e de modo intencional, bem que poderiam ser endereçados ao dono de um Pastor Alemão que acabou abatido pela polícia ontem, domingo, na parte da tarde, na estação de comboios da cidade alemã de Duisburg (Duisburg-Obermeiderich), no estado de Nordrhein-Westfalen, metrópole que tem o maior porto seco da Europa.

Conforme fez saber a polícia local hoje, o dito Pastor Alemão já tinha ferido duas pessoas, incluindo o seu dono, um sujeito com 53 anos de idade que ficou gravemente ferido. A mesma polícia disse que o comportamento agressivo do cão ficou a dever-se ao cruzamento com outro cão. Uma testemunha de 44 anos conseguiu amarrar o Pastor Alemão a uma estaca, mas não o fez sem ser também mordida. Nem os funcionários do abrigo dos animais, nem os tratadores de serviço da polícia conseguiram serenar os ânimos do animal transtornado que “tentava desenvencilhar-se e que mordia descontroladamente”. Perante o fracasso de outras soluções, na iminência da estaca se soltar e da corda se partir, os polícias acabaram por abater o cão a tiro. O dono do animal abatido foi levado a um hospital e a testemunha de 44 anos manifestou desejo de ser vista por um médico.

Pela notícia apercebemo-nos imediatamente de duas coisas: o dono do cão não o tinha sociabilizado e não tinha sobre o animal um controlo eficaz, insanidades quanto baste para um desfecho assim. O que levará um homem a ter um Pastor Alemão nestas condições, sabendo-se de antemão que esta raça não foi feita para dar beijinhos, que reage com facilidade a provocações e que tende a capitanear as suas acções na ausência de uma liderança capaz. E, quando a liderança se revela imprópria, dependendo do indivíduo canino, este pode transformar-se numa arma pronta a disparar em todas as direcções, como aconteceu em Duisburg. A irracionalidade ou a sandice que culmina numa situação destas, rotula automaticamente o dono de animal de louco ou irracional, mais animal do que o seu próprio cão, para além de um potencial criminoso.

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