sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O MELINDROSO CASO DE VACAVILLE

 

Na cidade norte-americana de Vacaville, cidade de 95.000 habitantes no Condado de Solano, na Califórnia, na passada segunda-feira, dia 28 de dezembro, um polícia do departamento da cidade foi apanhado a bater no seu parceiro canino, ajoelhando-se em cima dele e batendo-lhe várias vezes com o punho, o que levou o animal a ganir de dor. O ocorrido foi gravado em vídeo pelo telemóvel de um cidadão chamado Roberto Palomino, que o colocou na Internet e através da qual chegou ao conhecimento dos media norte-americanos. Numa entrevista à emissora de televisão ABC7, o autor do vídeo disse que o cão ganiu pelo menos 5 minutos e que o polícia agrediu-o no mínimo 10 vezes, o que levou ao veemente repúdio de milhares de pessoas no Facebook.

Quando inquirido pela mesma ABC7 sobre o incidente, Matt Lydon, chefe da polícia (na foto abaixo), disse que o agente policial agressor e o seu parceiro canino tinham terminado uma sessão de treino de detecção de drogas, após a qual o tratador policial entregou um brinquedo ao animal como recompensa. Ao tomar posse do brinquedo (continuamos a citar), o cão tornou-se agressivo e tentou morder o seu tratador. Importa dizer que o cão agredido já se encontrava há 11 anos ao serviço da polícia e o seu tratador há apenas alguns meses. Apesar disso, segundo o parecer do chefe da polícia atrás mencionado, o tratador comportou-se muito bem, “ao colocar-se sobre o cão numa posição dominante, o que é perfeitamente normal no treino de cães policiais".

Aparentemente justificada a “posição dominante”, mas não a continuada agressão do animal, milhares de cibernautas consideraram inaceitável a conduta daquele tratador canino, qualificando-a de brutal e demasiado violenta. Perante este parecer da opinião pública, o Departamento de Polícia de Vacaville foi obrigado a manifestar-se mais uma vez, dizendo também via Facebook que o incidente será investigado detalhadamente, adiantando em simultâneo, quiçá para serenar os ânimos, que o cão agredido “não mostra sinais de lesão”. Contudo, nada disso conseguiu calar os protestos irados dos usuários do Facebook, que não escondem a sua indignação relativa ao comportamento policial, que rotulam de “triste” e “inaceitável”.

Uma senhora escreveu a propósito: "Bater na cara de um cão quando se está sentado em cima dele não é treino. Isso é crueldade contra os animais!" Outros internautas, para que tudo não seja encoberto, exigem a demissão do agente policial agressor. Apesar da profunda raiva e revolta em torno do assunto, resta esperar pelos resultados da investigação policial levada a cabo e saber quais as consequências que o tratador violento enfrentará.

Independentemente da atitude agressiva do cão, que entendemos como resposta e não como provocação, fica claro que houve um incumprimento protocolar por parte do tratador policial, porque doutro modo não ficaria exposto aos arrufos do animal. Também o tipo de punição escolhido e a sua intensidade, destacam a fragilidade de carácter do homem para a função e um deficit cognitivo que atenta contra um profícuo relacionamento interespécies, donde não se poderá excluir o medo do tratador na sua tomada de decisão. Seja na polícia ou seja lá onde for, o melhor entendimento entre cães e homens não passa pela violência, mas pelo domínio do inteligente sobre o irracional – pela boa formação dos tratadores - a menos que queiramos recriar a matilha animal à dentada ou formar binómios à pancada. Não é tanto o polícia prevaricador que está aqui em causa, mas os métodos que lhe foram transmitidos, que espelham mais brutalidade do que conhecimento e que comprometem quem o recrutou, formou e aprovou para o serviço ,também quem lhe distribuiu o cão, uma vez que a unidade binomial parece ter sido desconsiderada, não saindo a polícia de Vacaville ilesa no seu todo.

Semelhante tareia num cão velho, como é o caso, e que era aquilo que o animal menos merecia, é algo que devido à experiência negativa poderá levá-lo à contínua suspeição e a comprometer os laços afectivos que sustentam a cumplicidade e que melhor aproveitam as mais-valias caninas, podendo condenar este binómio tanto à mediocridade quanto à inutilidade. Na esmagadora maioria dos casos, quando abandonamos os protocolos e reagimos instintivamente, é mais do que certo sermos incompreendidos, surpreendidos e perdermos a confiança dos nossos cães.

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