quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

SIMULACROS E ACÇÕES REAIS

 

Todos os simulacros, tanto para homens como para animais, isoladamente ou em conjunto, são testes ou experiências que visam reproduzir as condições de vários eventos ou situações reais como forma de treino ou preparação. Neles, sem incorrermos em erro, podemos também incluir as “Pistas Tácticas” destinadas aos cães, que vistas de determinado prisma, se assemelham e muito aos ginásios frequentados pelos humanos.

A existência de simulacros, como já disse atrás, prende-se com a necessidade de preparação para as acções reais, que doutro modo dificilmente aconteceria pela existência de múltiplos entraves, menor segurança e elevados riscos (raramente há hipótese de se treinar no mundo real). Apesar dos esforços dos adestradores em tangenciar a pista táctica à realidade, na transição de uma para a outra, os cães sempre necessitarão de maior ou menor adaptação consoante o particular das novidades.

Para se evitar a morosidade das adaptações, sempre que possível e em alternância ao concurso da pista, os cães deverão ser convidados para acções exteriores que reproduzam os desafios que irão enfrentar, porque mais vale adaptá-los ao seu meio do que esforçá-los no melhor dos simulacros, muitas vezes do seu desagrado pela ausência de novidade e pelo excesso de artificialismo que os maça e cansa acima do desejável.

Todas as Pistas Tácticas, caso honrem o seu propósito, sempre carecem de actualização e é por isso que nunca estão feitas, completas ou concluídas. Na eventualidade de não serem actualizadas, justificadamente, tornar-se-ão obsoletas, serão abandonadas e acabarão no esquecimento, como já acontece com algumas das forças militares e paramilitares, muito embora o problema nestes casos tenha também a ver com as condições do recrutamento e com a natureza e duração do contrato dos tratadores (handlers), o que é também resultado da ausência de um conflito generalizado na Europa, o que naturalmente se saúda, muito embora estejamos sujeitos a ataques esporádicos de gente que nem merece ser mencionada.

Quer isto dizer que o conceito de Pista Táctica deverá ser abandonado? Claro que não que não! A Pista Táctica não dispensa e exige em simultâneo o trabalho de casa e realizado no exterior, necessitando de ser transportada para o mundo real em prol do bem-estar dos cães e do seu presumível desempenho. Poderá ser completamente substituída? Sim, eventualmente, se o mundo adjacente aos cães o permitir, garantir a sua segurança e não causar dolo ou prejuízo a terceiros, o que raramente é possível.

Apesar de treinarmos cães para segurança e também por causa disso, sempre apostamos na sociabilização dos nossos cães (tudo fazemos para que não confundam os seus alvos). Debaixo desta preocupação e no encerramento do treino de ontem, pedíamos a duas jovens que conduzissem este Fila. Na foto abaixo vemos uma delas, mãe de um menino de 5 anos, que se prontificou a colaborar connosco.

Também uma amiga dela quis experimentar conduzir um cão ensinado. Anuímos ao seu desejo e a jovem mostrou-se imediatamente extasiada, liderando o cão como é próprio de um marinheiro de primeira viagem – mais encantada do que activa (valeu a boa vontade e o esforço).

Este binómio treinou especialmente acções de cobrança, exploração e pronta resposta ao dono, a partir de casernas abandonadas, subterrâneos e encostas pedregosas, o que acabou por cansar não só o cão, que sendo de salão, nasceu para campeão.

Feitas as contas, o José António e o Doc estiveram a treinar durante três horas, debaixo de um sol de inverno que não aqueceu as mãos do dono, mas que ajudou o cão a manter-se activo, atento e infatigável. 

Mais um dia longe da pista táctica, mas mais perto de alcançarmos os objectivos propostos. Só nos resta agradecer ao José António pela dedicação e empenho que tem pelo Doc, porque doutro modo o seu cão acabaria desprezado como acontece com tantos Filas de São Miguel, animais de alto potencial, molosso-alanos desconhecidos que tanto têm para dar.

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