Não
fora a humidade que se fazia sentir, juraria estar hoje num dia de verão. Com o
calor a bater-me nas janelas e um pouco enfartado, decidi ir passear com o meu
CPA negro depois de almoço, coisa que raramente faço neste horário para me
escapar às arremetidas dos adoradores e bajuladores caninos. Apesar do dia do
Halloween ser só amanhã, fartei-me de ver miúdos ataviados para o efeito,
trajando indumentárias manifestamente mais ridículas do que fantasiosas. Como o
pastor precisava de estender as pernas e galopar, não tive outro remédio do que
“passá-lo à guia”, obrigá-lo a galopar ao meu redor no comprimento total da
trela, conforme ilustra a foto acima. Ao entrar num jardim, para dar descanso
ao animal e livrá-lo dos inoportunos que insistem em chocalhar-lhe a cabeça
como se estivessem a ensaboá-la, e antes que me ensaboassem também o juízo a mim,
aproveitei uma caixa eléctrica para isolá-lo e dar-lhe um ar menos simpático e
mais intrigante.
Numa
avenida quase deserta e de um momento para o outro, sou surpreendido por um
aposentado com um pequeno cão malcriado, daqueles que parece querer comer este
mundo e o outro. Ao ver o embaraço do idoso, que até podia ser mais novo do que
eu, decidi não me cruzar com ele, imobilizei o meu cão e cedi-lhe a passagem.
Ao ver a atitude do pequeno cão, o meu CPA mostrou-se indiferente e não esboçou
qualquer resposta.
Durante
o passeio fartei-me de ouvir a exclamação “que cão tão fofinho” e tive que
anuir a alguns pedidos de festas, exactamente os mesmos que não pude evitar. A
exclamação “cão fofinho” ouvi-a maioritariamente das crianças, o que me deixou
sinceramente preocupado, porque nem todos os cães são fofinhos e todas as
semanas há pelo menos um que mata uma criança algures. Como a maioria dos pais
acredita em tudo o que ouve e não procura informar-se e, apesar de ter o meu
cão irrepreensivelmente sociabilizado, quando as crianças são demais e os seus
pais descuidados, opto do aumentar-lhe a silhueta para que ainda pareça maior,
estratégia que até hoje tem surtido efeito.
Sempre
acabo por descobrir algum obstáculo natural ou artificial para desenferrujar a
interacção alcançada com o meu cão, que ainda por cima adora correr e saltar,
sendo um verdadeiro ás no trote suspenso. Tem 3 anos, pesa um pouco mais de 45
kg e ainda se sente cachorro.
Depois de 2 km percorridos, retornei a casa com o “cão tão fofinho”, cujo dono ousou sair com ele na véspera do Halloween durante o dia (amanhã já não faço o mesmo, saio ao romper da aurora!).
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