sexta-feira, 30 de outubro de 2020

UM CÃO TÃO FOFINHO NA VÉSPERA DO HALLOWEEN

 

Não fora a humidade que se fazia sentir, juraria estar hoje num dia de verão. Com o calor a bater-me nas janelas e um pouco enfartado, decidi ir passear com o meu CPA negro depois de almoço, coisa que raramente faço neste horário para me escapar às arremetidas dos adoradores e bajuladores caninos. Apesar do dia do Halloween ser só amanhã, fartei-me de ver miúdos ataviados para o efeito, trajando indumentárias manifestamente mais ridículas do que fantasiosas. Como o pastor precisava de estender as pernas e galopar, não tive outro remédio do que “passá-lo à guia”, obrigá-lo a galopar ao meu redor no comprimento total da trela, conforme ilustra a foto acima. Ao entrar num jardim, para dar descanso ao animal e livrá-lo dos inoportunos que insistem em chocalhar-lhe a cabeça como se estivessem a ensaboá-la, e antes que me ensaboassem também o juízo a mim, aproveitei uma caixa eléctrica para isolá-lo e dar-lhe um ar menos simpático e mais intrigante.

Numa avenida quase deserta e de um momento para o outro, sou surpreendido por um aposentado com um pequeno cão malcriado, daqueles que parece querer comer este mundo e o outro. Ao ver o embaraço do idoso, que até podia ser mais novo do que eu, decidi não me cruzar com ele, imobilizei o meu cão e cedi-lhe a passagem. Ao ver a atitude do pequeno cão, o meu CPA mostrou-se indiferente e não esboçou qualquer resposta.

Durante o passeio fartei-me de ouvir a exclamação “que cão tão fofinho” e tive que anuir a alguns pedidos de festas, exactamente os mesmos que não pude evitar. A exclamação “cão fofinho” ouvi-a maioritariamente das crianças, o que me deixou sinceramente preocupado, porque nem todos os cães são fofinhos e todas as semanas há pelo menos um que mata uma criança algures. Como a maioria dos pais acredita em tudo o que ouve e não procura informar-se e, apesar de ter o meu cão irrepreensivelmente sociabilizado, quando as crianças são demais e os seus pais descuidados, opto do aumentar-lhe a silhueta para que ainda pareça maior, estratégia que até hoje tem surtido efeito.

Sempre acabo por descobrir algum obstáculo natural ou artificial para desenferrujar a interacção alcançada com o meu cão, que ainda por cima adora correr e saltar, sendo um verdadeiro ás no trote suspenso. Tem 3 anos, pesa um pouco mais de 45 kg e ainda se sente cachorro.

Depois de 2 km percorridos, retornei a casa com o “cão tão fofinho”, cujo dono ousou sair com ele na véspera do Halloween durante o dia (amanhã já não faço o mesmo, saio ao romper da aurora!).

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